sábado, 17 de dezembro de 2016

Informativo FOpEsp, nº 13

Publicação de Artigo

Fotografia 1: Operadores da Companhia de Mergulhadores de Combate (Kampfschwimmerkompanie) da Marinha alemã (Deutsche Marine) lançados a partir de uma plataforma submarina classe U212 navegando em profundidade de cota periscópica. (Disponível em: https://sofrep.com/48683/watch-seal-delivery-vehicle-team-strike/Acesso em: 16 dez. 2016). 

Informo a todos os seguidores do blog FOpEsp que a Revista Segurança & Defesa em sua última edição (nº 124, p. 24-29), publicou um artigo de minha autoria com o título:


"Infiltração/Exfiltração Submarina de FOpEsp"


O texto aborda o suporte ofertado por plataformas submarinas considerando os diferentes procedimentos de lançamento/recolhimento de Elementos de Operações Especiais (ElmOpEsp) realizados no intuito de infiltrar/exfiltrar Mergulhadores de Combate (MECs) na Área de Operação (AO).


Fotografia 2: Capa da edição nº 124 da Revista Segurança & Defesa, apresentando artigo alusivo aos procedimentos de Infiltração/Exfiltração Submarina de Forças de Operações Especiais. (Foto: Acervo da Revista Segurança & Defesa).


Mensagem de Final de Ano


Com o objetivo de disseminar uma cultura de valorização das Forças Singulares (Exército, Marinha e Força Aérea) e Forças Auxiliares (Polícias Federal, Militar e Civil), especificamente no âmbito das Operações Especiais, o blog FOpEsp (Forças de Operações Especiais) buscou difundir conhecimentos distintos nas diferentes postagens que apresentou ao longo de 2016 (ano de nossa gênese). Agradecemos a todos os nossos seguidores pelo apoio demonstrado no decorrer desse período, suporte imprescindível que nos motiva a alçar novos voos no ciclo que se inicia com o próximo ano. Aproveitamos a oportunidade para informar-lhes que deixaremos de publicar novas postagens no transcorrer das próximas duas semanas por ocasião das festas de Natal e Ano Novo, retornando às atividades normais a partir da segunda semana de janeiro de 2017. Com a certeza que estaremos juntos novamente... QUEM OUSA VENCE!!!








sábado, 10 de dezembro de 2016

Cultura de valorização das Operações Especiais: uma possibilidade viável na sociedade brasileira?

Texto elaborado por Rodney Alfredo Pinto Lisboa.

Fotografia 1: Quadros operacionais do 1º BFEsp (1º Batalhão de Forças Especiais), em primeiro plano, e do 3º Batalhão do 7º SFG(A) do Exército dos EUA, em segundo plano, durante intercâmbio realizado na cidade de Goiânia, sede do COpEsp (Comando de Operações Especiais) do Exército Brasileiro. (Fonte: Acervo do COpEsp).

Conduzida como uma resposta aos atentados terroristas perpetrados pela al-Qaeda contra o território norte-americano em 11 de setembro de 2001, a Guerra Global contra o Terrorismo (GWOT [Global War on Terrorism]) evidenciou o emprego estratégico das Forças de Operações Especiais (FOpEsp). Embora tenham atraído grande atenção pública por ocasião da constância com que os órgãos de imprensa repercutiam as operações levadas à efeito em países como Afeganistão, Iraque, Paquistão, Iêmen e Somália, a opção dos Estados por utilizar as Operações Especiais (OpEsp) como uma alternativa estratégica em favor de seus interesses não é recente.  
Sobre o emprego político-estratégico das FOpEsp, a história é pródiga em nos apresentar exemplos de ações militares que não se limitaram as implicações do campo de batalha. A criação dos Commandos britânicos durante a Segunda Guerra Mundial ocorreu com o propósito de evidenciar a intenção e determinação do governo do primeiro ministro Winston Churchill de continuar lutando, a despeito de sua temporária incapacidade de lançar uma contra ofensiva em larga escala contra a Europa ocupada. Também durante a Segunda Grande Guerra a Operação Pazerfaust (15 de outubro de 1944) promoveu o sequestro de Miklós Horthy Jr. (filho do regente Húngaro Miklós Horthy) por homens das unidades SS Friedenthal lideradas por Otto Skorzeny, com o objetivo de impedir que a Hungria abandonasse a aliança com o Eixo no intuito de aproximar-se dos Aliados. A ação de resgate de reféns ocorrida por ocasião da Operação Thunderbolt (4 de julho de 1976), em virtude da via diplomática (negociação) aparentemente ter se esgotado tornando o uso da força por integrantes do Sayeret Matkal (unidade das Forças de Defesa de Israel) a melhor alternativa estratégica para a solução do problema.
Ponderando sobre a utilidade estratégica de um componente militar, é necessário esclarecer que a verdadeira utilidade estratégica desse componente para o poder nacional é calcada nas suas capacidades de projetar ou defender os interesses nacionais. Nesse contexto, para que uma FOpEsp possa ser empregada de forma estratégica é necessário que a unidade em questão tenha um valor substantivo no exercício desse papel. Sobre a relevância estratégica das FOpEsp, Colin S. Gray, professor de Relações Internacionais e Estudos Estratégicos da Universidade de Reading (Reino Unido) afirma:

As Forças de Operações Especiais são um ativo da grande estratégia nacional: elas constituem uma ferramenta de política que pode ser empregada cirurgicamente em apoio à diplomacia, assistência estrangeira (de inúmeras formas), bem como um das forças militares regulares, ou como uma arma independente.

Ponderando sobre a utilização das FOpEsp em favor da Grande Estratégia dos Estados (utilização de todos os instrumentos de poder disponíveis para a conquista e/ou manutenção de objetivos políticos), Gray evidencia as unidades de elite como um importante instrumento do Poder Militar que pode ser empregado em favor dos interesses estatais (política). As campanhas levadas a efeito por FOpEsp na Guerra do Kosovo (1999) e na Guerra do Afeganistão (2001), são exemplos do emprego estratégico das unidades de elite em favor dos interesses dos Estados, uma vez que os resultados obtidos conscientizaram as autoridades estatais que grandes objetivos políticos podem ser alcançados por Elementos de Operações Especiais (ElmOpEsp) organizados em pequenas unidades e sem a onerosa necessidade de utilizar os grandes contingentes das tropas convencionais. 

Fotografia 2: Quadros operacionais do GERR/MEC (Grupo Especial de Retomada e Resgate do Grupamento de Mergulhadores de Combate) da Marinha do Brasil realizam instrução de técnicas CQB (Close Quarters Battle  [Confronto em Reconto Confinado]).(Fonte: Acervo do GruMec).

É pertinente enfatizar que o aprimoramento das políticas e estratégias nacionais de Defesa de um determinado Estado deve ser compatível com os propósitos estabelecidos por ele. Por estarem os temas atinentes à Defesa Nacional relacionados à integridade territorial, à soberania nacional e aos interesses essenciais de uma nação, questões inerentes ao reconhecimento e incremento das capacidades das Forças Singulares (Exército, Marinha e Força Aérea), sendo incluídas nesse contexto as competências das FOpEsp. No decorrer desse processo de valorização, dois fatores têm importância fundamental: envolvimento da sociedade e a adoção de medidas efetivas.
Sobre o envolvimento da sociedade considera-se que a Educação desempenha um papel indispensável na formação de cidadãos (militares e civis) envolvidos com a temática da Defesa.
Por sua vez, a adoção de medidas efetivas requer a Formulação de políticas e estratégias de Defesa; alocação de recursos financeiros conforme as necessidades de Defesa do país; planejamento conjunto de Defesa envolvendo todos os níveis institucionais; solidez das instituições militares; preparo e equipamento adequados das Forças Armadas (FFAA); inclusão da temática OpEsp nas estruturas curriculares das escolas de formação militar (para oficiais e praças); desenvolvimento de estudos científicos pertinentes ao setor de Defesa;  implementação de um sistema eficiente de mobilização nacional; construção e manutenção de uma Base Industrial de Defesa (BID).
No que concerne às OpEsp realizadas pelas tropas especiais brasileiras, a questão central que incita a reflexão refere-se a necessidade/viabilidade de se estabelecer, de forma singular e/ou conjunta, estruturas de Comando que, respeitando as particularidades de cada um de seus componentes, sejam capazes de organizar e integrar as unidades de elite a elas vinculadas. Para tanto, é imprescindível que a sociedade castrense brasileira, assim como ocorreu com a comunidade militar de países como EUA, Reino Unido, França, Canadá e Austrália, compreenda as características contemporâneas do conflito, cujas ameaças, diferente do perfil predominantemente estatal (militar) do passado, não se restringem ao modelo clássico da Guerra de Atrito, conduzida por tropas convencionais de Estados adversários que se confrontam (respeitando as Leis da Guerra e a Convenção de Genebra) em espaços geográficos previsíveis, a fim de reduzir a eficiência de combate do inimigo (destruição dos meios físicos [humanos e materiais] do oponente).

Fotografia 3: Operadores do EAS (Esquadrão Aeroterrestre de Salvamento, também conhecido como PARA-SAR) da Força Aérea Brasileira, executam um exercício C-SAR (Combat - Search and Rescue [Busca e Resgate de Combate]) com o objetivo de recuperar pilotos abatidos. (Fonte: Disponível em: http://www.defesanet.com.br/sof/noticia/16020/As-tropas-de-elite-das-Forcas-Armadas-do-Brasil/ Acesso em: 9 dez. 2016).

Mesmo que o Estado brasileiro estivesse em condições de formular estratégias e políticas de Defesa compatíveis com as reais necessidades do país, promovendo junto à sociedade uma cultura de valorização de questões atinentes ao tema, atendê-los não acarretaria em uma alteração automática no modo como nossas FOpEsp são empregadas, uma vez que o pensamento vigente e plural entre os militares de nossas FFAA continua sendo influenciado pelo conceito operacional que predominou no século passado, projetando o emprego das unidades de elite apenas como uma alternativa tática, com efeitos de suas ações restritos ao campo de batalha.  A realidade dos conflitos atuais, que valoriza as unidades especializadas em confrontar ameaças que lançam mão de métodos não convencionais de enfrentamento, requer por parte dos militares brasileiros uma percepção totalmente nova, fazendo com que as FOpEsp sejam consideradas não apenas como um recurso tático, mas como um expediente estratégico que busca obter efeitos político-militares amplos, prolongados e decisivos.




domingo, 4 de dezembro de 2016

SWAT: Pronta Resposta às Ocorrências Policiais Especiais

Texto elaborado por Rodney Alfredo Pinto Lisboa.

Fotografia 1: Dupla de operadores da SWAT do LAPD (Los Angeles Police Department [Departamento de Polícia de Los Angeles]). (Fonte: Disponível em: http://wallpapersafari.com/lapd-wallpaper/ Acesso em: 3 dez. 2016).

Na manhã de 1º de agosto de 1966, após eliminar seus dois primeiros alvos, respectivamente sua esposa e mãe, Charles Joseph Whitman, ex-fuzileiro naval dos EUA (USMC [United States Marine Corps]) reconhecido por sua perícia como atirador e marcado por um histórico de frustrações, invadiu o campus da Universidade do Texas, localizada na cidade de Austin, portando diversas armas de diferentes tamanhos e calibres. Alojando-se na torre do sino no edifício principal da universidade, Whitman passou a observar os pedestres que se locomoviam pelas dependências do campus. Nos 95 minutos que se seguiram ele disparou indiscriminadamente contra os pedestres sem enfrentar resistência. Quase duas horas depois de iniciar os disparos, o ex-fuzileiro foi morto por um policial local que havia conseguido avançar cautelosamente até a torre. Conhecido como “Massacre da Torre do Texas”, os disparos de Whitman feriram 32 pessoas e resultaram na morte de outras 14.
O evento relatado anteriormente, acrescido de uma onda de ações violentas cometidas contra a população civil e a força policial do município de Los Angeles (estado da Califórnia) no decorrer da década de 1960, levou o departamento de polícia da cidade (LAPD [Los Angeles Police Department]) à constatação de que não dispunha de capacidade para lidar com ocorrências de natureza não convencional. Face a esse julgamento, em 1967 o sargento John G. Nelson, também um ex-fuzileiro naval, apresentou a Darryl Francis Gates, então inspetor responsável por supervisionar as investigações do LAPD, o conceito de uma unidade tática apta a confrontar situações envolvendo indivíduos armados cujos métodos e violência empregados se mostram incomuns, entre os quais: atiradores furtivos; roubos perpetrados por suspeitos fortemente armados; sequestros; etc.  Ciente da incapacidade demonstrada pela polícia de confrontar esse tipo de ameaça, Gates (que futuramente viria se tornar Chefe do LAPD) deu andamento à proposta de Nelson autorizando a concepção de uma tropa especializada, oficialmente conhecida como LAPD Metropolitan Division`s “D Platoon” (“Pelotão D” da Divisão Metropolitana do Departamento de Polícia de Los Angeles) e identificada pela sigla SWAT (Special Weapons and Tactics [Armas e Táticas Especiais]).

Fotografia 2: Equipe da SWAT do LAPD engajados uma ocorrência de risco elevado envolvendo um suspeito abrigado no interior de sua residência com três filhos. (Fonte: Disponível em: http://abc7.com/news/barricade-suspect-surrenders-to-police-in-leimert-park/771548 Acesso em:3 dez. 2016).

A unidade inicialmente foi constituída por 60 elementos, divididos em 15 equipes de quatro operadores, reunidos de forma voluntária a partir das diferentes unidades vinculadas ao LAPD (todos os selecionados para compor a SWAT apresentavam experiência militar prévia). Cada uma das equipes operavam em sistema de sobreaviso, sendo ativadas e reunidas periodicamente para receber treinamento mensal ou quando uma intervenção se fazia necessária.
A SWAT teve seu primeiro grande desafio em dezembro de 1969, quando seus quadros operacionais foram incumbidos de apreender armas ilegais localizadas na sede do Partido dos Panteras Negras, organização ligada ao movimento nacionalista que defendia a unidade racial negra opondo-se ao pluralismo cultural. Em meados dos anos 1960, os Panteras Negras assumiram-se como movimento revolucionário defendendo ideais como: a isenção de impostos da população negra; o pagamento de indenizações por séculos de exploração da chamada “América Branca”; entre outros. Para alcançar seu intento, militantes radicais do partido defendiam o armamento da população negra e o início de uma luta armada. Na ocasião da intervenção policial, integrantes dos Panteras Negras antagonizaram a SWAT por quatro horas em um violento confronto que redundou em seis feridos (três policiais e três militantes do partido).
No início dos anos 1970, a crescente criminalidade em diferentes regiões de Los Angeles, além das dificuldades demonstradas pela polícia para organizar uma resposta eficiente em tempo hábil, levaram o LAPD a estabelecer a SWAT em tempo integral colocando-a sob autoridade da Divisão Metropolitana.  

Figura 1: Emblema da SWAT do LAPD. (Fonte: Disponível em: http://criminalminds.wikia.com/wiki/Special_Weapons_and_Tactics Acesso em: 3 dez. 2016).

A transição da década de 1970 para 1980 foi marcada pelo incremento da atividade terrorista no cenário internacional. O atentado perpetrado pela organização fundamentalista Setembro Negro contra a equipe olímpica israelense durante os jogos de 1972, realizados em Munique na Alemanha, evidenciaram o quão atrativos são os eventos dessa natureza para os grupos terroristas, estimuladas a incutir o medo por meio da violência devido a projeção midiática ofertada pelas Olímpiadas. Nesse contexto, na condição de cidade sede dos Jogos Olímpicos de 1984, Los Angeles figurava como um potencial alvo da atividade terrorista. Assim, no intuito de preparar-se adequadamente para essa modalidade de enfrentamento (até então inexplorada pela SWAT), em 1983 o LAPD destacou três supervisores da unidade para viajar à Europa no intuito de pesquisar TTP (Táticas, Técnicas e Procedimentos) executados por tropas contraterroristas (CT) de diferentes países daquele continente, a se destacar: 22nd SAS (22nd Special Air Service Regiment [22º Regimento do Serviço Aéreo Especial]) britânico; GIGN (Group d`Intervention de la Gendarmerie Nationale [Grupo de Intervenção da Gendarmerie Nacional]) francês; GSG9 9 (Grenshutzgruppe 9 [Grupo de Defesa de Fronteira 9]) alemão. No ano seguinte os jogos transcorreram de forma segura e pacífica, restando à SWAT um legado (desenvolvimento para operar em ações CT) que elevou seu nível de empregabilidade.

Fotografia 3: Policiais da SWAT do LAPD após o desfecho de ocorrência envolvendo um atirador-suicida no campus da UCLA (University of California at Los Angeles [Universidade da Califórnia em Los Angeles]). (Fonte: Disponível em: http://hamodia.com/2016/06/01/shooting-ucla-campus/ Acesso em: 3 dez. 2016).

Atualmente a SWAT de Los Angeles é reconhecida internacionalmente como uma das mais capacitadas unidades táticas policiais do mundo, respondendo a qualquer ocorrência de risco elevado que esteja sob autoridade do LAPD. Estruturalmente a SWAT de Los Angeles é composta por 60 Policiais, seis Sargentos e um Tenente. Responsável pelo comando da unidade e por responder ao Chefe do LAPD, o Tenente é identificado pelo código 10-David, enquanto os Sargentos, cada um deles responsável por um esquadrão de 10 homens (divididos em dois grupos táticos de cinco elementos), são designados conforme antiguidade com códigos que variam entre 20-David à 70-David. 
Introduzido pela LAPD, o conceito de Armas e Táticas Especiais que caracterizam a SWAT foi difundido por todo o território norte-americano, sendo incorporado pelos departamentos de polícia de diferentes metrópoles, tais como: Nova York; Miami; Chicago; Dallas; San Francisco; Salt Lake City; entre outras. Esse mesmo conceito se estenderia para além das fronteiras estadunidenses influenciando na criação e/ou desenvolvimento de unidades policiais análogas de diferentes países.



segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Engajamento de Cães de Combate em Apoio às Operações Especiais

Texto elaborado por Rodney Alfredo Pinto Lisboa.

Figura 1: Cão de combate provendo suporte à equipe tática durante procedimento de assalto à um complexo industrial. (Fonte: Disponível em: https://w-dog.net/wallpaper/art-men-special-forces-assault-rifles-weapon-industrial-complex-dog-capture-the-operation-helicopters/id/277551/ Acesso em: 27 nov. 2016).

A Guerra Global contra o Terrorismo (GWOT [Global War on Terrorism]), levada à efeito em países como Afeganistão, Iraque, Paquistão, Iêmen, Somália e Síria, foi marcada por uma infinidade de OpEsp (Operações Especiais) cujo elevado grau de sensibilidade impede que os pormenores a elas relacionados sejam publicamente revelados. Manter resguardados os detalhes de missões consideradas como sendo de natureza crítica para os interesses e a segurança do Estado que as patrocinou é fundamentalmente importante, inclusive, para garantir a confidencialidade dos operadores que dela participaram de modo a evitar associações indesejáveis e possíveis riscos à sua segurança pessoal e familiar.
Muito embora mantenham suas identidades protegidas sob a égide do segredo, é de conhecimento público que inúmeros operadores especiais lotados em diferentes FOpEsp (Forças de Operações Especiais) de várias nacionalidades tomaram parte das sucessivas campanhas realizadas em decorrência da GWOT. Certamente há, nesse aglomerado de informações sigilosas, uma série de relatos evidenciando personagens que de uma forma ou outra se destacaram no cumprimento das tarefas a eles atribuídas. Seguramente desponta entre esses atores de destaque, a figura inusitada do “cão de combate”, introduzido no campo de batalha como um elemento de suporte às ações dos quadros operacionais das unidades militares de elite.
A participação ativa desses animais na GWOT é destacada nos dois livros escritos por Matt Bissonnette (sob pseudônimo Mark Owen), ex-operador do DEVGRU (Naval Special Warfare Development Group [Grupo de Desenvolvimento de Guerra Especial Naval]) da Marinha norte-americana, que atuou na operação militar que culminou com a morte de Osama bin-Laden, líder da organização fundamentalista (al-Qaeda) que perpetrou os atentados terroristas contra o território estadunidense na manhã de 11 de setembro de 2001. Tanto em “Não há dia Fácil” (2012) quanto em “Não há Heróis” (2015), Bissonnette destaca o apoio ofertado pelos animais nas ações táticas desempenhadas pelo DEVGRU.


Figura 2: Aparatos tecnológicos disponíveis no colete tático dos cães de combate à serviço dos US Navy SEALs. (Fonte: Disponível em: https://navyseals.com/2163/the-dogs-of-the-navy-seals/ Acesso em: 27 nov. 2016).

O emprego de cães por FOpEsp não representa nenhuma inovação no campo de batalha, uma vez que registros das antigas civilizações egípcia e grega apontam a utilização de cachorros em situações de enfrentamento. No decorrer das duas Guerras Mundiais ocorridas no século XX, esses animais desempenharam funções distintas, tais como: localização de feridos em combate; detecção de minas explosivas; auxiliando na instalação de fios de telégrafo; transportando kits de primeiros-socorros e correspondência.
Por disporem de capacidade visual, olfativa e sensorial mais desenvolvida que os padrões da espécie humana, os cães de combate empregados pelas tropas especiais são adestrados para desempenhar uma série de ações de modo a oferecer contribuições significativas, tais como: promover o reconhecimento e/ou rastreamento do terreno, de modo a assessorar na condução de patrulhas ou em procedimentos de varredura; subjugar ou intimidar elementos adversos com força não-letal. Por ocasião da diversidade de tarefas que caracterizam a atividade OpEsp, os animais que delas participam devem ter a capacidade de desempenhar múltiplas funções, sendo necessário reunir condições físicas e traços de personalidade compatíveis com as exigências das ações a serem desempenhadas por eles. Nesse sentido, considerando o conjunto de atributos (resistência física; agressividade; inteligência; lealdade) que distingue cada espécie canina, raças como Pastor Alemão, Pastor Holandês e Pastor Belga Malinois, têm a preferência para operar provendo o suporte às unidades militares de elite.


Fotografia 1: Operador SEAL executa SLOP (Salto Livre Operacional) transportando um cão de combate. ((Fonte: Disponível em: https://navyseals.com/2163/the-dogs-of-the-navy-seals/ Acesso em: 27 nov. 2016).


Para prover o assessoramento às FOpEsp, os cães de combate dispõem de um diversificado aparato tecnológico que inclui: colete tático à prova de balas e perfurações à faca com diferentes níveis de proteção; sistema de iluminação com luz direcional e luz infravermelha; dispositivo de comunicação de alto desempenho; colete salva-vidas inflável; câmeras com capacidade de visão noturna e transmissão em tempo real. Assim como os quadros operacionais das equipes que auxilia, os cães de combate são inseridos na AO por meio de paraquedas ou desembarque aerotático (fast rope), permanecendo conectados a um operador durante a manobra de infiltração.



domingo, 27 de novembro de 2016

Informativo FOpEsp, nº 12

Imposição da Medalha Amigo da Marinha

Fotografia 1: Medalha e Diploma concedidos pela Marinha do Brasil ao Prof. Ms. Rodney Alfredo Pinto Lisboa. (Fonte: Acervo de Rodney Alfredo Pinto Lisboa). 

Informo a todos os nossos leitores e seguidores, que no último dia 08/11, o editor do blog  FOpEsp (Forças de Operações Especiais), Prof. Ms. Rodney Alfredo Pinto Lisboa teve a honra de ser agraciado pela Força Naval brasileira com a Medalha Amigo da Marinha, em reconhecimento aos trabalhos por mim desenvolvidos em favor das OpEsp (Operações Especiais) da MB (Marinha do Brasil). Em cerimônia realizada nas dependências da Fortaleza São José, região central do Rio de Janeiro-RJ, a concessão da referida medalha representa um instrumento de Relações Públicas de âmbito nacional, conferida no intuito de agraciar personalidades civis sem vínculo funcional com a MB.
Impossibilitado de comparecer à cerimônia por motivos profissionais, na ocasião do evento o Prof. Ms. Rodney Lisboa foi representado de forma digna e competente pelo Capitão-Tenente (MEC) André Tominaga MUSSATTO, a quem externamos publicamente nosso respeito e agradecimento. Motivo de orgulho e satisfação, o prêmio concedido pela MB instiga o agraciado a continuar contribuindo de maneira a projetar e valorizar as FOpEsp (militares e policiais) que atuam a serviço do Brasil.


Fotografia 2: Cerimônia de Imposição da Medalha Amigo da Marinha realizada no dia 08/11/2016 nas dependências da Fortaleza São José, região central do Rio de Janeiro-RJ. (Fonte: Acervo do CT André Tominaga MUSSATTO).



domingo, 20 de novembro de 2016

A MÃO OCULTA QUE SEGURA O PUNHAL: Histórico das Forças de Operações Especiais do Exército Brasileiro (Parte Final)

Texto elaborado por Rodney Alfredo Pinto Lisboa.

Fotografia 8: Quadros operacionais do 1º Batalhão de Ações de Comandos (1º BAC). (Fonte: Acervo do COpEsp).

Entre as décadas de 1970 e 1980, a série de ações terroristas perpetradas mundo afora por organizações fundamentalistas evidenciou a necessidade das Forças de Defesa nacionais desenvolverem formas eficientes de combater tal ameaça. Caracterizada pelo uso político da violência com a finalidade de provocar medo e exercer pressão sobre os Estados valendo-se da mídia para difundir a causa de seus perpetradores, os ataques terroristas prosperaram devido a sua natureza irregular (mutável), fato que comprometia o enfrentamento dessa adversidade por estarem as Forças Armadas (FFAA) da maioria dos países preparadas e aparelhadas para travar confrontos predominantemente de caráter regular característicos da Guerra de Atrito. Diante desse infortúnio, os Estados alvos da iniciativa terrorista passaram a investir na formação de tropas especializadas aptas a antagonizar inimigos que lançavam mão desse artifício para alcançar seu intento. Nesse período surgiram unidades contraterroristas de diferentes nacionalidades, a se destacar: 22nd SAS (22nd Special Air Service [22º Serviço Aéreo Especial]) britânico; GSG9 (Grenzschutzgruppe 9 [Grupo 9 da Guarda de Fronteira]) alemão; GIGN (Groupe d'Intervention de la Gendarmerie Nationale [Grupo de Intervenção da Gerdarmerie Nacional]) francês; 1st SFOD-Delta (1st Special Forces Operational Detachment – Delta [1º Destacamento Operacional de Forças Especiais – Delta]) e DEVGRU (Naval Special Warfare Development Group [Grupo de Desenvolvimento de Guerra Especial Naval]) norte-americanos.
No Brasil, a criação de uma unidade contraterrorista nacional ocorreu no decorrer da década de 1980 a partir do interesse norte-americano de incluir seus militares em manobras realizadas na região amazônica. Para viabilizar a participação de suas tropas nos exercícios conduzidos na Amazônia, a inédita contrapartida apresentada pelo Exército dos EUA (U.S. Army) considerava uma visita de quadros operacionais do 1º BFEsp (1º Batalhão de Forças Especiais) ao reservado (secreto) 1st SFOD-Delta, cujas tarefas operacionais eram desempenhadas prevendo risco elevado e nível máximo de criticidade.
A impressão causada pelas capacidades do 1st SFOD-Delta junto aos militares brasileiros foi tamanha, que a performance dos operadores norte-americanos influenciaram na posterior criação do Destacamento Especial de Ações de Comandos (DEACOM) no final dos anos 1980. Também conhecido como Destacamento Alfa-Ômega (DstAlfa-Ômega), esse elemento de emprego inicialmente ficou subordinado à Brigada de Infantaria Paraquedista (BdaInfPqdt), sendo constituído para operar sob autoridade do vislumbrado Comando de Operações de Unidades Especiais (COpUEsp), unidade operacional do Exército Brasileiro (EB) resultante de um estudo iniciado em 1987 com projeção para se instalar futuramente no Forte do Camboatá. Todavia, mesmo atendendo às exigências do conturbado cenário contemporâneo, o DstAlfa-Ômega não prosperou, permanecendo ativo apenas entre 1989 e 1990 devido à falta de prioridade a ele atribuída na época pelo EB. Essa lacuna seria preenchida posteriormente, quando da instituição do 1º Destacamento de Contraterrorismo (1º DCT) vinculado ao 1º BFEsp.


Fotografia 9: 1º Destacamento de Contraterrorismo (1º DCT) do 1º Batalhão de Forças Especiais (1º BFEsp). (Fonte: Acervo do COpEsp).

Como reflexo dos atentados terroristas perpetrados pela al-Qaeda em 11 de setembro de 2001 nas cidades norte-americanas de Nova York e Washington, a concepção de criação de um COpUEsp na estrutura organizacional do EB ganhou força, resultando na criação da Brigada de Operações Especiais (BdaOpEsp) em junho de 2002.  Subordinada ao Comando da BdaInfPqdt, a nova unidade operacional permaneceu sediada na cidade do Rio de Janeiro-RJ. Uma das consequências imediatas da constituição da BdaOpEsp foi a elevação das Ações de Comandos do nível de Companhia para Unidade, fato que promoveu a instituição do 1º Batalhão de Ação de Comandos (1º BAC).
O ano de 2002 é significativo para a história das OpEsp do EB não apenas pela constituição da BdaOpEsp, mas também pela criação do Centro de Instrução de Operações Especiais (CIOpEsp), uma reivindicação manifestada inicialmente pelo grupo de operadores Forças Especiais (FE) pioneiros graduados em 1957. Como unidade-escola orgânica da BdaOpEsp vinculada à Diretoria de Educação Técnica Militar (DETMil) e ao Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx), o CIOpEsp primeiramente teve sua sede acomodada no Forte do Camboatá, sendo transferida em 2011 para o Forte Imbuhy, no município de Niterói-RJ. Operando na condição de estabelecimento de ensino militar vocacionado para a formação de Elementos de Operações Especiais (ElmOpEsp), são atribuições do CIOpEsp: promover a capacitação dos recursos humanos que integram as organizações militares da BdaOpEsp; contribuir para o desenvolvimento da doutrina de OpEsp no EB; fomentar e conduzir pesquisas e experimentações de novas técnicas operacionais e de equipamentos peculiares às tropas especiais.

Fotografia 10: Pórtico do Forte Imbuhy em Niterói-RJ, local que atualmente hospeda o Centro de Instrução de Operações Especiais (CIOpEsp). (Fonte: Acervo do COpEsp).

Ainda em 2001, antecedendo a criação da BdaOpEsp, o General de Brigada Álvaro de Souza Pinheiro, qualificado como operador FE em 1970, exercendo a função de 3º Subchefe do Estado-Maior do Exército, apresentou uma proposta para a formação de uma Grande Unidade de Operações Especiais junto ao EB. Em 2003, tendo a BdaOpEsp se tornado uma realidade, a 3ª Subchefia do Estado-Maior do Exército realizou estudos pormenorizados acerca das possibilidades do emprego estratégico das Forças de Operações Especiais (FopEsp) do EB. Nesse contexto, cabe esclarecer que havia na Força Terrestre uma eminente corrente de pensadores que julgava adequado para uma Grande Unidade de OpEsp constituir-se não como uma Grande Unidade de Infantaria Leve, mas como um Comando Operacional com capacidade de prover o devido suporte a tropas especializadas na condução de tarefas de natureza especial: Ação Direta; Ação Indireta; Reconhecimento Especial. Assim, embora a terminologia “Brigada” tenha se mantido, a concepção estratégica para o emprego das OpEsp do EB prevaleceu.

Figura 3: Distintivo da Brigada de Operações Especiais (BdaOpEsp), posteriormente assumido pelo Comando de Operações Especiais (COpEsp) quando da instituição dessa grande unidade operacional em 2014. (Fonte: Acervo do COpEsp).

No estudo que considerava a possibilidade de criação da BdaOpEsp foram avaliadas três alternativas de localização de sua sede: Rio de Janeiro-RJ; Brasília-DF; Goiânia-GO. Por acreditar ser relevante oferecer às suas FOpEsp as condições mais favoráveis para a formação e adestramento dos ElmOpEsp, assegurar a manutenção da operacionalidade, o Alto Comando do Exército, julgando ser fundamentalmente importante promover a descentralização de tropas do Estado do Rio de Janeiro, optou por transferir a BdaOpEsp para a região geográfica de Goiânia em 2013. Na capital goiana, a BdaOpEsp passou a ocupar as instalações da 3ª Brigada de Infantaria Motorizada (3ª BdaInfMtz), transferida para a cidade de Cristalina-GO, tendo sua existência como unidade gestora oficializada a partir do dia 1º de janeiro de 2014. Na época de sua criação a BdaOpEsp reunia sob sua autoridade: BAdm (Base Administrativa); 1º BFEsp; 1º BAC; DApOpEsp (Destacamento de Apoio às Operações Especiais); DOpPsico (Destacamento de Operações Psicológicas); 1º PelDQBN (1º Pelotão de Defesa Química, Biológica e Nuclear); 3ª CiaFEsp (3ª Companhia de Forças Especiais); 6º PelPE (Pelotão de Polícia do Exército); CIOpEsp. Especificamente no que se refere à 3ª CiaFEsp cabe um esclarecimento. Por ser vocacionada para operar na região norte do Brasil, a FORÇA 3 (como é informalmente conhecida) encontra-se localizada em Manaus-AM mantendo-se subordinada ao Comando Militar da Amazônia (CMA) e estando vinculada para efeito de emprego à BdaOpEsp.
Por ocasião da filosofia de emprego que considera o engajamento das OpEsp em todos os níveis de condução da crise/guerra (política; estratégica; operacional; tática) conforme as particularidades e necessidades do Estado brasileiro, em 27 de março de 2014 a BdaOpEsp teve sua denominação alterada para Comando de Operações Especiais (COpEsp). Na condição de Grande Unidade Operacional do EB, o COpEsp tornou-se subordinado ao Comando Militar do Planalto (CMP), permanecendo vinculado ao Comando de Operações terrestres (COTER) no que concerne ao planejamento, preparo e emprego de suas tropas. Estruturalmente o COpEsp, atualmente, encontra-se assim organizado: BAdm (Base Administrativa); 1º BFEsp; 1º BAC; Batalhão de Apoio às Operações Especiais (BApOpEsp); 1º Batalhão de Operações de Apoio à Informação (1º BOAI); 3ª CiaFEsp; CiaDQBN (Companhia de Defesa Química, Biológica e Nuclear); CIOpEsp.

Fotografia 11: Operador especial do EB durante a ocupação do Complexo de Favelas da Maré na cidade do Rio de Janeiro-RJ. (Fonte: Acervo do COpEsp).

As OpEsp do EB ingressam no século XXI tomando parte de eventos cujas operações resultaram em substancial aprendizado e desenvolvimento das Táticas, Técnicas e Procedimentos (TTP) de combate executados, sobretudo, em ambiente urbano. No contexto internacional, destaca-se a participação das FOpEsp do EB na Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH [Mission des Nations Unies pour la Stabilisation en Haiti [Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti]) entre 2005 e 2007, quando os operadores do recém-instituído DOPaz (Destacamento de Operações de Paz), formado por militares qualificados como Comandos e FE, promoveram a supressão de grupos armados que detinham o controle de dois importantes bairros (Bel-Air e Cité Soleil) de Porto Príncipe, capital haitiana. No cenário doméstico, a ameaça representada pelo crime organizado na cidade do Rio de Janeiro-RJ levou as tropas especiais do EB a serem mobilizadas em 2014 com a finalidade de conter as atividades ilícitas levadas a efeito no Complexo de Favelas da Maré. Operando em solo nativo e valendo-se das lições assimiladas no Haiti, os operadores participaram da denominada Operação São Francisco com a difícil missão de engajar narcotraficantes armados no ambiente caótico das estreitas vias de acesso da comunidade. 



domingo, 13 de novembro de 2016

A MÃO OCULTA QUE SEGURA O PUNHAL: Histórico das Forças de Operações Especiais do Exército Brasileiro (Parte 2)

Texto elaborado por Rodney Alfredo Pinto Lisboa.

Fotografia 4: Cerimônia de formatura do Destacamento de Forças Especiais (DFEsp) na sede da Colina Longa, Vila Militar-RJ. (Fonte: Acervo do CopEsp). 

O batismo de fogo do Destacamento de Forças Especiais (DFEsp) do Exército Brasileiro (EB) ocorreria nos anos iniciais da década de 1970, em um período conturbado da história brasileira, quando as Forças de Defesa do país travaram uma incessante luta doméstica engajando-se nas ação de contraguerrilha levadas a efeito, sobretudo, contra o foco de guerrilha rural localizado na região de fronteira entre os estados de Goiás e Pará. A sucessão de operações realizadas por ocasião das ações de enfrentamento contra a autodenominada Força de Guerrilha do Araguaia (FOGUERA) entre 1972 e 1974 contribuiu substancialmente para que as doutrinas e procedimentos considerados para o combate de adversidades dessa natureza fossem colocados à prova, promovendo a aquisição de uma expertise autóctone que foi incorporada ao portfólio das Operações Especiais (OpEsp) executadas pelas unidades militares de elite do EB. As ações conduzidas pelo DFEsp na região amazônica próxima aos municípios de Marabá, São Geraldo do Araguaia (ambas situadas no Pará) e Xambioá (Goiás), colaborou de forma decisiva para coibir a iniciativa de implementar no Brasil uma revolução socialista nos moldes das revoluções chinesa (1946-1949) e cubana (1953-1959).
Paralelamente ao esforço empreendido no confronto ao movimento guerrilheiro, quadros operacionais do DFEsp contribuíram para a criação de importantes núcleos de formação, como o Curso de Comandos ministrado pelo Centro de Operações na Selva e Ações de Comandos (COSAC [Atual Centro de Instrução de Guerra na Selva [CIGS]), localizado em Manaus-AM, e o Curso de Montanhismo ofertado pelo 11º Batalhão de Infantaria de Montanha (11º BIMth), situado em São João Del Rey-MG.
Especificamente no que se refere ao Curso de Comandos, é importante destacar que sua instituição no COSAC ocorreu como consequência direta da presença de movimentos guerrilheiros na selva amazônica e da necessidade de se empreender operações militares nesse tipo de ambiente. O currículo desse curso inovou ao incluir em sua grade de disciplinas um período de estágio em ambiente de caatinga. No final dos anos 1970, alterações na estrutura de ensino fizeram com que o Curso de Comandos fosse novamente ministrado de forma exclusiva pelo Centro de Instrução Paraquedista General Penha Brasil (CIPQDTGPB) vinculado a Brigada de Infantaria Paraquedista (BdaInfPqdt).
Por sua vez, o Curso de Montanhismo teve sua gênese a partir da prática de montanhismo militar realizada no Curso de Operações especiais ministrado pelo CIEspAet (Centro de Instrução Especializada Aeroterrestre [atual CIPQDTGPB]), localizado no Rio de Janeiro-RJ. Na década de 1970, o Curso de Comandos oferecido pelo CIPQDTGPB incorporou em seu currículo uma fase de operações de montanha. Em 1979, o DFEsp foi convidado pelo então comandante do 11º BIMth para prover o reconhecimento da área daquela unidade e a preparação dos diferentes locais onde ocorreriam as instruções do futuro Campo-Escola de Montanhismo (CEMonta), antecessor dos atuais Cursos de Montanhismo ofertados tanto para as tropas do EB, quanto para as demais Forças Singulares e Auxiliares.

Fotografia 5: Instrução ministrada durante o Curso de Ações de Comandos ministrado pelo Centro  de Operações na Selva e Ações de Comandos (COSAC). (Fonte: Acervo do Copesp). 


Entre o final da década de 1970 e o início da década de 1980, as autoridades militares brasileiras preocupavam-se com a crescente atividade comunista na região do Caribe. Localizado na região fronteiriça com o Brasil, o Suriname era percebido como eventual ameaça à segurança nacional por estreitar relações com governos latino-americanos de orientação socialista. Por decisão do governo do presidente João Baptista Figueiredo (1979-1985) a solução pragmática encontrada para solucionar essa questão ocorreu com o envio de uma missão diplomática (Missão Venturini [liderada pelo Ministro do Gabinete Militar General-de-Brigada Danilo Venturini]) ao país vizinho com o intuito de persuadir as autoridades surinamenses a se afastar da influência socialista. O caráter sensível da missão diplomática requeria o emprego de uma tropa qualificada e em condições de resgatar seus integrantes em caso de necessidade. Como o EB não dispunha de uma tropa com capacidade para operar em regiões longínquas e com recursos de direção e apoio reduzidos, optou-se por engajar o Para-SAR da Força Aérea Brasileira (FAB) para cumprir essa tarefa. Esse episódio evidenciou a necessidade do EB dispor de uma tropa com tais características, levando o General-de-Exército Walter Pires de Carvalho e Albuquerque, então Ministro da Guerra, a determinar a realização de um estudo visando a criação de uma unidade com tais requisitos capaz de operar no exterior. Conduzido pelo Coronel Edwar Cavalcante Leite (Estado-Maior do Exército [EME]), assessorado pelo Capitão Rui Monarca da Silveira (Comandante do DFEsp), o trabalho desenvolvido culminou com a criação do 1ºBatalhão de Forças Especiais (1º BFEsp) em agosto de 1983. Como as dependências do CIPQDTGPB não teria condições de alocar o efetivo de um batalhão, a recém-criada Organização Militar (OM) foi transferida da sede da Brigada de Infantaria Paraquedista (BdaInfPqdt) para o Forte do Camboatá, região de Deodoro, no Rio de Janeiro-RJ. 


Fotografia 6: Solenidade de instalação do 1º Batalhão de Forças BFEsp nas dependências do Forte do Camboatá, Rio de Janeiro-RJ. (Fornte: Acervo do COpEsp).


A transferência para o Forte do Camboatá representou um divisor de águas para as OpEsp do EB, uma vez que a OM encontravam-se doutrinariamente enquadradas no EB passando a ter maior demanda por missões com características distintas daquelas executadas pela BdaInfPqdt. Entretanto, o 1º BFEsp permaneceu vinculado à BdaInfPqdt como unidade subordinada, sendo organizado em uma estrutura de Comando e Estado-Maior, uma Companhia de Comando e Serviços (CCSv), uma Companhia de Forças Especiais (Cia FEsp) e uma Companhia de Ações de Comandos (CAC). Esssa estrutura organizacional permaneceria até 1989, quando a unidade passou a contar com uma Companhia de Comando e Serviços, duas Companhias de Forças Especiais (1ª e a 2ª CiaFEsp), cada uma enquadrando um Destacamento de Coordenação e Controle (DCooCt) e quatro DOFEsp, além de uma Companhia de Ações de Comandos, com uma Seção de Comando (SeçCmdo) e quatro Destacamentos de Ações de Comandos (DAC). Nesse mesmo ano o 1º BFEsp assumiria a responsabilidade de administrar os Cursos de Ações de Comandos e de Forças Especiais.  


Fotografia 7: Acesso principal do 1º Batalhão de Forças Especiais (1º BFEsp) no Forte do Camboatá, Rio de Janeiro-RJ. (Fornte: Acervo do COpEsp).