sexta-feira, 29 de abril de 2016

Capacidades Físicas e Psicológicas no Desempenho de Técnicas CQB (Parte 3)

Adaptação de artigo publicado por Rodney Alfredo Pinto Lisboa na Revista Marítima Brasileira, v. 134, n. 10/12, p. 77-90, 2014.

É essencial compreender que o condicionamento físico constitui elemento fundamental para a obtenção de um resultado satisfatório em relação à performance de execução das técnicas CQB, mas ele não deve ser o único componente da tarefa biopsicológica a ser levado em consideração.
Situações de confronto armado aproximado são consideradas ocorrências de alto risco, pois a organização estrutural das instalações (cômodos, corredores, escadas, entre outros) apresenta áreas internas com espaço físico restrito e vias de circulação estreitas, que além de dificultar o deslocamento do destacamento de assalto, limitam a visão e reduzem a área de enfrentamento, expondo os operadores de modo a coloca-los na linha de fogo inimiga. Para os ElmOpEsp, a presença de possíveis reféns nas áreas de confronto é outro complicador, uma vez que seu autocontrole e capacidade de decisão (definindo o momento de executar o[s] disparo[s]) são testados sob risco de comprometer seu raciocínio crítico levando-o a cometer equívocos que podem ser fatais.
Em operações que requeiram o emprego de técnicas CQB, o desempenho da tarefa física é diretamente influenciado pela condição psicológica à medida que o SNC (Sistema Nervoso Central) faz com que o indivíduo sinta-se vulnerável e fora de controle, principalmente pelas sensações de ativação, ansiedade e estresse. O conceito de ativação é apresentado como uma combinação de atividades fisiológicas e psicológicas relacionadas à motivação em um determinado momento, podendo variar da letargia (baixa ativação) à excitação (alta ativação). Associada à ativação, a ansiedade constitui um estado emocional que pode ser cognitivo (grau de ativação cognitiva) ou somático (grau de ativação física), gerado por diversas situações que podem ou não depender do indivíduo. Por sua vez, o estresse é definido como um desequilíbrio substancial entre a demanda (física e/ou psicológica) e a capacidade de resposta, gerada a partir da falha em satisfazer adequadamente as exigências da tarefa que está sendo solicitada. Outro fator que pode interferir na performance de execução das técnicas CQB é o medo, contextualizado como um estado emocional desencadeado em situação de perigo iminente que potencializa os níveis de atenção e concentração do indivíduo.


Fotografia 6: Integrantes do GERR/OpEsp do Batalhão Tonelero conduzindo procedimento de varredura na Casa de Tiro em Compartimento localizada na base da OM em Campo Grande, Rio de Janeiro. (Foto: Rodney Lisboa). 

Fenômenos como a ativação, a ansiedade, o estresse, e o medo, estimulam a porção simpática do SNA (Sistema Nervoso Autônomo), que funciona como um sistema de emergência mobilizando os recursos necessários para emitir uma resposta adequada às situações de estresse. Durante a prática de atividade física ou experimentando fortes emoções, uma série de impulsos transmitidos ao longo da porção simpática do SNA controlam diversos órgãos internos preparando-os para responder à denominada "hipótese de luta e fuga”. A sequência de eventos que leva às respostas de luta e fuga, começam por uma informação relacionada a situações de perigo que é captada pelo SNC a partir de estímulos emitidos pelo ambiente. Na parte externa do cérebro (córtex cerebral) a informação passa por três estágios de processamento (identificação, avaliação e tomada de decisão), cujo resultado influenciará nos comportamentos subsequentes que envolve a interação com o hipotálamo e a hipófise (localizadas na base do cérebro), bem como com as glândulas suprarrenais.
Após receber informações que indiquem sinal de perigo, o córtex cerebral comunica-se com o hipotálamo, que por sua vez incita a hipófise e as glândulas a produzirem hormônios fundamentais para as respostas de luta e fuga. A betaendorfina (produzida pela hipófise) exerce um papel de entorpecimento das percepções de dor. 
Atuando em conjunto com a adrenocorticotrofina (produzida pela hipófise), a adrenalina e a noradrenalina (produzidas pelas glândulas suprarrenais) aguçam o pensamento e prolongam a memória relacionada ao evento estressante, desempenhando efeito supressivo sobre o sistema imunológico. Os hormônios suprarrenais permanecem sendo produzidos durante todo o período de tensão, garantindo o estado de alerta do corpo até o término da crise ou mediante estabelecimento de exaustão pela elevada descarga de impulsos simpáticos.
A avalanche de eventos metabólicos ocasionada pela estimulação da porção simpática da SNA durante uma situação de estresse de longa duração é denominada SAG (Síndrome de Adaptação Geral), e impõe certos padrões de respostas fisiológicas que embora possam variar de pessoa para pessoa apresentam similaridades, entre os quais citamos: 

  • O aumento da frequência cardíaca e da pressão sanguínea para suprir as necessidades do cérebro (favorecer a concentração e o raciocínio) e dos diferentes grupos musculares (permitindo pronta resposta motora); 
  • O ciclo respiratório aumenta a fim de transportar maior quantidade de oxigênio para as células (gerando energia para auxiliar na situação de emergência); 
  • As reservas de açúcar (glicose e ácidos graxos) armazenadas no fígado são liberadas na corrente sanguínea para fornecer quantidade adicional de energia aos músculos; 
  • As glândulas sudoríparas e suprarrenais aumentam sua capacidade de secretar; 
  • As glândulas salivares e digestórias reduzem sua capacidade de secretar comprometendo o peristaltismo (trato digestório) e prejudicando a digestão.

Fotografia 7: Componentes do Comando Jungla (unidade especial da Polícia Antinarcóticos colombiana) participam de adestramento de entrada tática na Base da Força Aérea norte-americana situada em Eglin, estado da Florida. (Fonte: disponível em: http://www.defense.gov/Media/Photo-Gallery?igphoto=2001321683 Acesso em: 27 abr. 2016).

Nas manobras de varredura empreendidas pelo destacamento de Assalto, os fenômenos fisiológicos descritos constituem uma evidência proveniente da expectativa do confronto armado. Em ações desse tipo o tempo se confunde com o espaço e todos os sentidos se alteram em função de um efeito chamado “Visão de Túnel”. Estando sob a influência desse efeito, tudo o que os operadores veem e ouvem está relacionado com o foco da atenção. Para os membros do destacamento de Assalto, a percepção acerca do combate ocorre em um tempo com duração muito lenta se comparado ao tempo real. Assim, por ocasião da visão de túnel, ocorrida em virtude da concentração total e da movimentação controlada, lenta e gradativa, o que parece ser meia hora não passa de alguns poucos minutos. Cabe salientar, que esse efeito ocorre em virtude da descarga de adrenalina secretada pelas glândulas suprarrenais que inundam o corpo mediante estímulo da porção simpática do SNA, limitando sensações de cansaço ou dor (comprometedoras da performance) por ocasião do estado de alerta a que o corpo encontra-se submetido.

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