segunda-feira, 30 de maio de 2016

Ação de Comandos: Proposta para Adequação do Lema

Texto elaborado por Rodney Alfredo Pinto Lisboa.

No imaginário popular, em grande parte construído por influência da literatura e do cinema, as OpEsp são tratadas, equivocadamente, como sendo um sinônimo da denominada “Ação de Comandos”, internacionalmente conhecida pelo termo “Direct Action” (Ação Direta). Embora seja um componente importante das OpEsp, a Ação de Comandos representa um de vários elementos constituintes das operações de natureza não convencional conduzidas valendo-se de métodos e recursos que fogem aos padrões ortodoxos da guerra. Nesse sentido, conforme estabelecido por Pinheiro (2012), são elementos constituintes das OpEsp: Ação de Comandos; Guerra Irregular; Operações contra Forças Irregulares; Reconhecimento Estratégico/Especial; Operações Psicológicas. 
Especificamente em relação à Ação de Comandos, que é o tema central deste texto, podemos definir esse elemento como sendo:
Operações destinadas a conduzir: interdição/destruição de alvos críticos; captura, resgate, evacuação ou neutralização de pessoal/material localizado em território hostil (todos avaliados como objetivo de valor estratégico); Planejadas para serem executadas como uma ação de choque, conduzida de surpresa, com alta intensidade e curta duração [...] (PINHEIRO, 2012, p. 35). 

Fotografia 1: Quadros operacionais do 1º BAC dispostos durante cerimônia de formatura. (Fonte: Disponível em: http://www.1bac.eb.mil.br/index.php/2013-10-27-00-11-04 Acesso em: 28 mai. 2016).

No Brasil, particularmente no âmbito da Força Terrestre, a Ação de Comandos remete ao lema que sempre norteou as FOpEsp do Exército Brasileiro, a saber: "O máximo de confusão, morte e destruição na retaguarda profunda do inimigo."
Historicamente, desde os primeiros cursos de Ação de Comandos ministrados na antiga sede do 1º BFEsp (1º Batalhão de Forças Especiais), localizada na Estrada do Camboatá no Rio de Janeiro-RJ, os alunos liam o referido lema nas paredes do prédio que abrigava a CAC (Companhia de Ação de Comandos). Para efeito de esclarecimento, destacamos que na data de sua criação (1983), o 1º BFEsp dispunha de uma CAC em sua estrutura organizacional. Atualmente, tanto o 1º BFEsp quanto o 1º BAC (1º Batalhão de Ação de Comandos [elevado da categoria de subunidade à nível de unidade em 2003]) encontram-se subordinados ao COpEsp (Comando de Operações Especiais) situado na cidade de Goiânia-GO.
Com o advento da “guerra no meio do povo” (Guerra Urbana), as batalhas travadas no ambiente informacional e alguns conceitos como o do “Uso Diferenciado da Força” (conforme estabelecido pela portaria 4226 emitida pelo Ministério da Justiça [define diretrizes sobre o uso de força pelos agentes de segurança pública]), tornam temerário o emprego da força desproporcional, cujo contexto encontra-se implícito no tradicional lema da Ação de Comandos.
A eliminação indiscriminada de oponentes passou a representar um sério risco de ocorrerem efeitos colaterais indesejáveis, que embora possam proporcionar vitórias táticas significativas, em questão de minutos podem ganhar vulto internacional, ocasionando turbulências jurídicas e informacionais que fatalmente levarão à derrota no mais alto nível da conduta do enfrentamento.


Figura 1: Escudo representativo da modalidade Ação de Comandos do Exército Brasileiro. (Fonte: Disponível em: http://www.policiarcc.com/t10583p110-area-de-relacionamento-livro-13 Acesso em: 28 mai. 2016).

A determinação diferenciada inerente aos ElmOpEsp é inegável, assim como é inquestionável sua capacidade de sobrepujar adversários de maior efetivo. Devido ao treinamento sistemático, as tropas especiais se tornaram a alternativa mais confiável quando da eventualidade de haver riscos políticos. Quando os decisores (civis e/ou militares) optam por empregar FOpEsp valendo-se de métodos de Ação Direta (quando as tropas travam contato direto com a força inimiga), eles não só têm a certeza da missão cumprida como esperam que o ambiente operacional seja minimamente afetado. Nesse contexto, a precisão operacional representa um dos maiores desafios na condução de uma OpEsp.
No cenário internacional contemporâneo, os Estados buscam formar um perfil de operador que seja disciplinado e juridicamente instruído, qualidades fundamentais que proporcionam maior segurança, confiança e liberdade de ação para os decisores. A missão não é mais “cumprida a qualquer custo” e sim cumprida da melhor forma possível. Assim sendo, por considerarmos que o tradicional lema da Ação de Comandos, tão adequado para épocas passadas (quando a confronto ocorria em áreas distantes das concentrações populacionais), mostra-se defasado em relação ao ambiente operacional urbano, acreditamos ser necessário promover uma adaptação que seja compatível com a categoria de combate levada a efeito no espaço tridimensional das cidades. Respeitando o peso (relevância) simbólico do lema tradicional, e cientes de que a natureza da guerra encontra-se em um processo de evolução constante, propomos o seguinte ajuste: "O máximo de precisão, letalidade seletiva e discrição contra alvos de valor significativo."

REFERÊNCIA:

PINHEIRO, Álvaro de Souza. Knowing your Partner: the evolution of Brazilian Special Operations Forces. JSOU Report 12-7. Hurlburt Field, FL: Joint Special Operations University (JSOU), 2012, p. 34-35.




3 comentários:

  1. Há razão no texto. Entretanto, afirmo que a substituição de um lema por outro similar, em extensão e estrutura, seria muito mais traumático do que simplesmente colocá-lo em desuso (isso já se percebe). Tente sugerir o novo texto a um Comandos sem criar resistência ou até mesmo antipatia. Um lema tem tudo a ver com emoção sentimento - coisa de ser humano. E isso se agrava por nossa sangre latina. São mensagens curtas e fortes, cunhadas em baixo relevo na mente do elemento, em momentos emocionalmente muito marcantes para que uma substituição como essa seja aceita. Acredito que não cola, da mesma forma que não colou a tentativa de substituição do lema "um ideal como motivação, a abnegação como rotina, o perigo como irmão e a morte como companheira". Essa mensagem é parte ďas Forças Especiais do Brasil e, mesmo com o desuso, vai ocasionalmente voltar a aparecer. A substituição por uma outra versão vai soar como tentativa de implantar o politicamente correto. Se estivéssemos trabalhando com máquinas e não com pessoas, seria muito mais fácil. Não acha? Sorte a todos!

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