domingo, 1 de maio de 2016

Capacidades Físicas e Psicológicas no Desempenho de Técnicas CQB (Parte Final)

Adaptação de artigo publicado por Rodney Alfredo Pinto Lisboa na Revista Marítima Brasileira, v. 134, n. 10/12, p. 77-90, 2014.

Produzidas sob a condição de "luta e fuga", a grande quantidade de adrenalina e noradrenalina na corrente sanguínea aumenta o estado de ativação do indivíduo, contribuindo significativamente para a performance da atividade realizada. Contudo, quando o volume hormonal é produzido em estado extremo de estresse, a grande concentração de hormônio pode comprometer a performance, uma vez que altera a percepção da realidade e pode prejudicar o resultado da tarefa física. Para ilustrar esse fato, a psicologia da atividade física apresenta-nos a teoria do “U-invertido” para explicar a relação entre os estados de ativação e performance. Segundo essa hipótese, enquanto o indivíduo permanece em estado de baixa ativação seus níveis de desempenho permanecem abaixo do padrão desejado de performance. Entretanto, seu desempenho tende a aumentar exponencialmente por ocasião do aumento da ativação. Por outro lado, aumentos adicionais na ativação fazem sua performance declinar, pois o corpo não é capaz de suportar grandes alterações hormonais por períodos prolongados.
Considerando que as técnicas CQB envolvem a manipulação e o disparo de armas de fogo, a eficiência no emprego do armamento depende fundamentalmente da condição humana, uma vez que a arma é empunhada e disparada por um indivíduo em condições psicologicamente comprometedoras que interferem diretamente nas respostas emitidas pelo corpo. Operações de confronto armado aproximado exigem dos operadores elevados níveis de coordenação motora e estabilidade emocional, sendo, portanto, necessário que cada um dos membros do destacamento de assalto controle seus níveis de ativação para não comprometer seu desempenho e o desfecho da missão por consequência.


Fotografia 8: Membros do Comando de Operações Especiais jordaniano realizam adestramento MOUT empregando técnicas CQB no KATSOC (Centro de Treinamento de Operações Especiais Rei Abdullah II) em Amã, Jordânia. (Fonte: Disponível em: http://foxtrotalpha.jalopnik.com/this-crazy-complex-in-jordan-is-like-disneyland-for-eli-1680695046 Acesso em: 30 abr. 2016).

Os penosos requisitos físicos e psicológicos envolvidos em uma situação de confronto armado, permeado por uma atmosfera de incerteza e letalidade, podem ocasionar um fenômeno denominado “estresse de combate”. Apesar das sensações variarem de indivíduo para indivíduo, os sintomas desse fenômeno tendem a apresentar certa padronização, manifestando-se por meio de agressividade, ansiedade, apatia, catatonia, depressão, e lapsos de memória. Com o intuito de minimizar os efeitos psicológicos causados pelo confronto armado, o autocontrole adquirido mediante o treinamento sistemático surge como fator determinante quando da necessidade de raciocinar criticamente diante de uma situação hostil.
Um sentimento comum manifestado em militares que participam de confronto armado é a auto depreciação por atirar em outra pessoa. Em virtude dos rigorosos requisitos exigidos nos processos de seleção e treinamento das FOpEsp, esse sentimento parece ser menos comum entre seus integrantes, uma vez que a rotina de treinamento os prepara para suportar os elevados níveis de estresse encontrados em situações reais de combate.  Assim, enquanto os efetivos das tropas especiais são treinados para processar as informações em um ambiente altamente estressante, agindo racionalmente de modo a empregar o grau de violência requerido em cada missão, elevando-o ou abaixando-o como o dimmer (dispositivo utilizado para variar a potência de uma corrente elétrica), os militares das tropas regulares, por não encontrarem-se devidamente preparados para as inúmeras provações do combate real, têm a percepção global do ambiente prejudicada em consequência da sobrecarga sensorial da porção simpática do SNA. Incapazes de se adaptar com a velocidade necessária frente à situação de imprevisibilidade, uma vez que o treinamento não os preparou para tanto, o soldado convencional, independente da condição mutável da batalha, foca toda sua atenção nas ações a que foi condicionado a realizar por ocasião do adestramento, tornando-o incapaz de captar e reconhecer qualquer estímulo (visual ou auditivo) adicional.


Fotografia 9: Policiais do BOPE treinam técnicas de incursão na comunidade Tavares Bastos, Rio de Janeiro. (Fonte: Disponível em: http://fotos.noticias.bol.uol.com.br/imagensdodia/2013/01/19/osso-duro-de-roer-veja-imagens-dos-35-anos-do-bope-a-elite-da-pm-do-rio.htm?abrefoto=5#fotoNav=14  Acesso em: 30 abr. 2016).

Um fato que não deve ser ignorado considera que os sintomas do estresse de combate podem manifestar-se mesmo nos militares mais bem preparados, quando eles encontram-se expostos por muito tempo às situações que envolvam o confronto armado. A solução adotada para esse problema é limitar o tempo de serviço dos ElmOpEsp (em geral de três a quatro anos) que encontram-se direta e constantemente envolvidos em ações que envolvem o confronto armado aproximado.
A experiência acumulada em diferentes situações de enfrentamento revelam que os efeitos cumulativos do despreparo levam ao debilitamento e a acentuada deterioração do desempenho. Portanto, levando-se em conta que as técnicas CQB são executadas mediante responsabilidade compartilhada entre os integrantes do destacamento de assalto, a deficiência individual não se limita apenas à performance de um único militar, podendo se estender para toda formação ao ponto de acarretar falência operacional. 


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