sexta-feira, 6 de maio de 2016

Emprego de Atiradores de Precisão em Apoio às Operações Especiais

Texto elaborado por Rodney Alfredo Pinto Lisboa com colaboração do Capitão FE Frederico Chaves Salóes do Amor, coordenador do estágio de Caçador de Operações Especiais do CIOPESP (Centro de Instrução de Operações Especiais) do Exército Brasileiro. 

A figura do atirador de precisão, internacionalmente conhecido pelo termo “sniper”, geralmente é associada ao estereotipo estabelecido pelos filmes de Holywood, representado nas telas de cinema por um andarilho solitário, aparamentado com uma vestimenta peculiar (traje ghillie), espreitando à procura de seus alvos. Com frequência os atiradores de precisão, denominados no Brasil pela expressão “caçadores” (empregada, sobretudo, pelo Exército), são relacionados à quantidade de mortes que lhes são creditadas. Entretanto, o ofício desses profissionais está mais relacionado às vidas que salva no campo de batalha do que àquelas que elimina.
O atirador de precisão é um militar especializado em executar disparos seletivos de longa distância com a exatidão necessária para eliminar alvos escolhidos pela importância de suas funções e/ou pela dificuldade de serem engajados por outros meios. Especialistas na condução de procedimentos de infiltração/exfiltração, valendo-se da furtividade (dissimulação) para alcançar seus objetivos, cabe aos caçadores a tarefa de minar a disposição de lutar do inimigo mediante eliminação de alvos específicos ou alvos de oportunidade que tenham relevância nos quadros operacionais da força oponente. Embora alvos humanos sejam mais corriqueiros, não é incomum que os atiradores de precisão recebam ordens para disparar contra alvos materiais com o objetivo de destruí-los ou inutilizá-los.  

Fotografia 1: A imagem icônica do atirador de precisão. (Fonte: Disponível em: http://www.brasil.gov.br/defesa-e-seguranca/2014/05/conheca-as-armas-e-equipamentos-a-disposicao-do-exercito-brasileiro/militar-cacador-sniper-do-exercito-brasileiro/@@images/85293d88-283e-49c9-9b05-7e3e307d8fed.jpeg Acesso em: 6 mai. 2016).

Além da função que o caracteriza (eliminação de alvos), os caçadores também podem ser empregados em funções de apoio, executando ação de bloqueio ou operando como observador. Nas ações de bloqueio os atiradores se posicionam em um local privilegiado para auxiliar a manter um determinado espaço que é controlado por forças aliadas. Atuando na condição de observador, o caçador estabelece um posto de observação que lhe dá ampla visão do campo de batalha para prover apoio ao avanço da tropa pelo terreno.
Em virtude de sua capacidade ímpar de realizar disparos de precisão valendo-se de um pequeno número de elementos para causar grandes danos a um contingente muito maior sem confrontá-lo diretamente, uma equipe de caçadores (atirador e spotter [observador]) constitui um eminente “multiplicador de força”
Para que obtenha êxito na consecução de suas tarefas, os atiradores de precisão devem dispor de acurada capacidade de raciocínio, uma vez que a performance do disparo depende de inúmeras variáveis relacionadas às condições do clima, do terreno, bem como da composição de movimentos inerentes à ciência balística.
O que diferencia o atirador de precisão de qualquer outro militar refere-se à capacidade mental de acompanhar a rotina de um alvo em seus afazeres diários, para eliminá-lo um ou dois dias depois.
Particularmente no que se refere ao apoio às OpEsp, cabe aos caçadores ultrapassar os limites do conhecimentos técnicos e táticos da atividade do tiro de precisão. Especificamente em relação às Ações Diretas, é fundamental que ele domine as TTP (Táticas, Técnicas e Procedimentos) relacionadas às entradas táticas, uma vez que seu emprego, geralmente, é conjugado com esse tipo de ação.  Compreender como o destacamento de assalto conduz uma entrada em um cômodo ou como o inimigo pode reagir em resposta à iniciativa do destacamento de assalto, são premissas essenciais para que a atuação do caçador (provendo informação ou realizando tiro seletivo) possa influenciar no resultado da missão.

Fotografia 2: Equipe de atiradores de precisão do EAS da FAB participam de treinamento realizado em Santa Catarina. (Fonte: Disponível em: http://www.defesanet.com.br/fronteiras/noticia/8166/Agata-6---Tropa-de-elite-da-FAB-esta-pronta-para-Operacoes-Especiais/ Acesso em: 6 mai. 2016).

Caçadores de Operações Especiais atuam em equipes para melhorar sua eficácia e proporcionar segurança mútua, de moto a manter o apoio constante para os dois integrantes da equipe. Operando coletivamente, os atiradores de precisão podem atingir alvos mais rapidamente, podendo também ficar em campo durante períodos de tempo mais longos quando comparados a um único atirador. Experiências adquiridas em situações passadas mostram que quando o caçador e o spotter operam juntos, ocorre um aumento significativo na taxa de sucesso das missões. A redução na eficácia de caçadores que operam isoladamente se deve ao fato de que o militar sente-se sobrecarregado ao preocupar-se com sua segurança e com as tarefas a serem realizadas por ele. Além disso, alvos de alta prioridade podem, eventualmente, necessitar do engajamento dos dois membros da equipe (o spotter também possui qualificação como caçador) para neutralizar a(s) ameaça(s) ao mesmo tempo, no caso de um engajamento simultâneo de alvos diferentes. Outra vantagem consiste na possibilidade de haver uma segunda opção caso haja alguma pane na execução do primeiro tiro.
O emprego de atiradores de precisão fornece um alto grau de flexibilidade em relação ao desdobramento no terreno. Esta flexibilidade ocorre em virtude da organização (distribuição) dos caçadores em áreas ou locais onde eles terão maior influência sobre o inimigo alcançando maior efeito potencial, além da possibilidade de fornecer o máximo apoio às forças amigas.


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