segunda-feira, 20 de junho de 2016

O Ethos das Operações Especiais

Texto elaborado por Rodney Alfredo Pinto Lisboa com base no artigo escrito originalmente por Bernd Horn, Coronel (Ref°) das Forças Armadas Canadenses e professor adjunto de História no Centro de Estudos Militares e Estratégicos da Universidade de Calgary e no Real Colégio Militar do Canadá. (Disponível em: http://www.journal.forces.gc.ca/vo8/no4/doc/horn-eng.pdf Aceso em: 18 jun. 2016).



Figura 1: Candidatos a SEAL participam da instrução denominada Surf Torture, realizada na Base Naval Anfíbia de Coronado (região de San Diego, Califórnia), por ocasião do programa BUDS (Basic Underwater Demolition SEAL) conduzido pela Marinha norte-americana. (Fonte: Disponível em:http://navyseals.com/2159/secret-to-seal-training/ Acesso em: 18 jun. 2016).

O termo ethos tem origem grega, e é utilizado em referência ao caráter moral que distingue o conjunto de hábitos (comportamentais) adotados por uma determinada comunidade. Analisado de forma isolada, essa expressão evoca um conceito de sociedade igualitária, na qual todos os seus membros, objetivando estabelecer um convívio coletivo harmônico, abraçam costumes comuns ao grupo que integram. No âmbito militar, as FOpEsp nutrem profundo respeito para com seu ethos. Submetidos à condições idênticas de seleção e treinamento que não diferenciam os candidatos por sua posição na hierarquia militar, cada ElmOpEsp, sem qualquer exceção, é submetido a testes com rigorosos padrões de exigência que avaliam os limites de suas capacidades física, mental e intelectual, no intuito de identificar qualquer inaptidão que desqualifique seu ingresso na seleta comunidade OpEsp.
Forjados desde sua formação em um processo contínuo que transcorre todo o período de atividades operativas, e se prolonga para além dele, os quadros operacionais das FOpEsp, por ocasião das dificuldades compartilhadas e dos riscos aos quais se submetem, criam uma intensa relação de identidade, camaradagem, solidariedade, coesão e confiança mútua. Comumente materializada em diferentes elementos simbólicos (rituais; lemas; canções; orações; brasões; brevês; peças de vestuário; entre outros), a soma desses sentimentos desperta uma vigorosa sensação de “pertencimento” que incrementa o espírito de corpo (lealdade para com os companheiros) e induz ao comprometimento para com as tarefas as quais a unidade em questão se propõe executar.
Por adaptarem-se rapidamente às situações de risco elevado com um nível de aprestamento e prontidão superior (devido às habilidades sui generis), que as capacita a responder às solicitações de forma menos perturbadora (minimizando os danos colaterais) que as tropas convencionais, as FOpEsp contemporâneas, necessariamente, devem ser percebidas pelos governos que as patrocinam como uma importante opção estratégica, considerada imprescindível por não ter alternativas que as supram no desempenho de missões altamente sensíveis. É justamente o caráter sensível das OpEsp que demandam grande cautela ao tornar pública as informações a elas relacionadas. Manter as operações em sigilo resguarda a segurança das ações a ela vinculadas e protege o pessoal nelas engajado. Nesse sentido, como parte de seu ethos, os ElmOpEsp se esforçam para manter a confidencialidade de suas identidades e os dados das operações nas quais participaram, e qualquer operador que revele informações críticas que possam comprometer a segurança é alçado à condição de pária.  Para os ElmOpEsp, o sentimento de pertencer à “sua unidade” é motivo de orgulho e honra, e a possibilidade de cometer qualquer ato que o desabone perante seus pares representa uma grave forma de punição.


Fotografia 2: Cena do filme Falcão Negro em Perigo (2001), retratando o esforço dos quadros operacionais do 1º SFOD-D (1º Destacamento Operacional de Forças Especiais-Delta [Força Delta]) para resgatar o corpo do piloto da aeronave abatida nas ruas de Mogadíscio, Somália. (Fonte: Disponível em: https://www.fatherly.com/fatherly-forum/what-i-borrowed-from-military-to-teach-my-kids-to-be-leaders/ Acesso em: 18 jun. 2016).


O elitismo que evidencia as capacidades singulares dos quadros operacionais das tropas especiais tem antecedentes históricos, que por ocasião do sentimento de arrogância e desprezo dos operadores pelas tropas regulares, por décadas promoveram o estremecimento nas relação das unidades convencionais e não convencionais. Em virtude da atitude presunçosa demonstrada por alguns ElmOpEsp, uma considerável parcela dos comandantes militares passaram a percebê-los como aventureiros irresponsáveis e descomprometidos. Entretanto, o orgulho exacerbado, o desdém pelas unidades formais, bem como a sensação de independência em relação às FFAA (Forças Armadas) tradicionais, recorrentes em períodos passados, foram gradativamente cedendo espaço para sentimentos que favorecem uma relação amistosa e interdependente. Essa transformação ocorreu, sobretudo, como consequência da inversão de papeis decorrente dos efeitos da Special Forces Centric Warfare (Guerra Centrada em Forças Especiais), na qual as unidades de elite passaram a operar como comando apoiado por tropas convencionais (e, portanto, dependentes delas), enquanto no passado as funções eram invertidas. 
Na comunidade OpEsp, o cumprimento do dever para com a nação e a lealdade para com os companheiros sobrepõe-se a tudo, levando o operador a desenvolver, por ocasião dos fortes vínculos constituídos, um sentimento altruísta para com as questões da unidade que o leva ao sacrifício pessoal. Para o ElmOpEsp, experimentar o dia a dia da unidade, ostentando os paramentos que o identificam como membro daquela tropa específica, valendo-se de suas capacidades ímpares para vivenciar o ambiente de expectativa/realidade do combate em favor de seu país, ladeado por companheiros, que assim como ele, têm os mesmos anseios e ideais, representa um privilégio a ser coroado, não com reconhecimento público, mas com sentimento de satisfação, honra e glória silenciosos, como convém aos militares dessa estirpe.




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