sexta-feira, 3 de junho de 2016

Princípios das Operações Especiais: Considerações sobre a Perspectiva de McRaven (Parte 1)

Texto elaborado por Rodney Alfredo Pinto Lisboa.

O Almirante (Ref°) William Harry McRaven destacou-se na Marinha e na comunidade de Operações Especiais norte-americana como Comandante do JSOC (Comando Conjunto de Operações Especiais [entre junho de 2008 e agosto de 2011]) e do USSOCOM (Comando de Operações Especiais dos EUA [entre agosto de 2011 e agosto de 2014]), em um período conturbado da denominada GWOT (Guerra Global contra o Terrorismo). McRaven foi o responsável pela organização e supervisão da “Operação Lança de Netuno”, conduzida pelo DEVGRU (Grupo de Desenvolvimento de Guerra Especial Naval) entre os dias 1º e 2 de maio de 2011 na cidade paquistanesa de Abbottabad, ação que culminou com a morte de Osama bin Laden, líder da organização terrorista (al-Qaeda) que executou os ataques terroristas ao território norte-americano em 11 de setembro de 2001.

Fotografia 1: Almirante (Ref°) William Harry McRaven no período em que ocupava a posição de Comandante do USSOCOM. (Fonte: Disponível em: http://www.revolvy.com/main/index.php?s=United%20States%20Special%20Operations%20Command&item_type=topic Acesso em: 2 jun. 2016).

Em 1993, quando cursava a NPS (Naval Postgraduate School) ainda ostentando a patente de Commander (equivalente no Brasil à graduação de Capitão-de-Fragata), McRaven elaborou, como tese de mestrado do curso de Assuntos de Segurança Nacional, um dos principais estudos acadêmicos relacionados às OpEsp. A referida investigação, intitulada “The Theory of Special Operations” elencava os seis principais elementos que possibilitam o êxito de uma operação dessa natureza (simplicidade; segurança; repetição; surpresa rapidez; e propósito), alertando para a conquista da “superioridade relativa” (condição na qual a força atacante [numericamente inferior], obtém uma vantagem decisiva sobre uma força adversária [numericamente maior ou bem-fortificada]) como sendo o diferencial para o sucesso das missões levadas a efeito valendo-se de métodos distintos daqueles adotados como padrão pela guerra clássica. Conforme percepção de McRaven, ao serem bem administrados pelas FOpEsp, os princípios por ele ressaltados agem de maneira a restringir a manifestação das “Fricções de Guerra”, conceito proposto pelo General prussiano Carl von Clausewitz (1780-1831) segundo o qual, mesmo considerando todas as conjunções que podem, de uma forma ou outra, influenciar no desenvolvimento de uma campanha, sempre existirão condições imprevistas (denominadas “Fricções”), relacionadas ao azar, incerteza e vontade do inimigo, que se manifestam apenas no decorrer da ação e podem apresentar-se como o fator determinante para o resultado da operação.
Transformado em livro em 1995 (dois anos após ser apresentado na NPS), o texto, então nomeado “SPEC OPS Case Studies in Special Operations Warfare: Theory and Practice”, buscava oferecer os subsídios necessários para embasar a teoria do autor recorrendo a oito eventos militares históricos:

  1. O ataque das tropas paraquedistas alemãs Fallschimajager à fortaleza de Eben Emael (10 de maio de 1940 [Segunda Guerra Mundial]);
  2. A ação dos mergulhadores de combate da Xª MAS italiana contra navios britânicos atracados no porto egípcio de Alexandria (19 de dezembro de 1941 [Segunda Guerra Mundial]);
  3. A operação executada pelos Commandos britânicos com o objetivo de destruir o dique seco francês de Saint Nazaire, então em poder das tropas alemãs (27 de março de 1942 [Segunda Guerra Mundial]);
  4. A operação de resgate do ditador italiano Benito Mussolini, executada pelo Kommando Friedenthal alemão (12 de setembro de 1943 [Segunda Guerra Mundial]);
  5. O assédio dos minissubmarinos britânicos classe X ao navio couraçado alemão Tirpitz (22 de setembro de 1943 [Segunda Guerra Mundial]);
  6. A ofensiva de homens do 6° batalhão Ranger e integrantes dos Alamo-Scouts (ambas unidades norte-americanas) contra o campo de prisioneiros filipino de Cabanatuan (30 de janeiro de 1945 [Segunda Guerra Mundial]);
  7. A ação do 6° e 7° Grupos de Forças Especiais do Exército dos EUA contra o campo norte-vietnamita de prisioneiros de SonTay (21 de novembro de 1970 [Guerra do Vietnã]);
  8. O engajamento do Sayeret Matkal na operação de resgate de reféns realizada em Entebe, Uganda (4 de julho de 1976 [Sequestro do Airbus A300 da Air France que fazia a rota Tel Aviv-Paris]). 

Conforme é possível observar, todos os oito eventos abordados por McRaven para justificar sua teoria são operações que valeram-se de métodos de Ação Direta, quando as unidades engajadas entram em combate com as tropas inimigas para alcançar seus objetivos de interesse. Os métodos de Ação Indireta, executados pelos ElmOpEsp de modo a alcançar seu intento sem a necessidade de travar contato com o adversário, foram propositalmente desconsiderados no escopo do texto, uma vez que o autor teve que redefinir o conceito de Operações  Especiais (restringindo-as às práticas de Ação Direta) para elaborar sua teoria.  

Imagem 1: Capa do livro publicado em 1995 pela editora Presidio Press. A editora publicou a tese que McRaven havia defendido dois anos antes na NPS como requisito do curso de Assuntos de Segurança Nacional. (Fonte: Disponível em; http://www.goodreads.com/book/show/797049.Spec_Ops Acesso em: 2 jun. 2016). 

Para efeito de contextualização, estabelecemos um compêndio das idéias fundamentais de McRaven em relação aos seis princípios por ele realçados:

SimplicidadeEspecificamente em relação à simplicidade, McRaven pondera que tal predicado deve ser observado, sobretudo, na fase de planejamento, com o intuito de tornar a execução da ação a mais simples possível. Tencionando fornecer aporte para assegurar que tal qualidade seja alcançada, o autor aponta três elementos essenciais:
  • Limitação do número de objetivos – É imperioso limitar o número de objetivos táticos àqueles que têm fundamental importância, pois ao proceder dessa forma o adestramento é orientado, o efetivo necessário ao engajamento é reduzido, e o tempo de ação é encurtado.
  • Inteligência – Refere-se à capacidade de discernir e projetar a ação reduzindo os fatores desconhecidos e o número de variáveis a serem consideradas. Nesse sentido, o planejamento deve estar alicerçado em aspectos minimamente previsíveis, uma vez que os dados fornecidos pela inteligência em muitos casos se mostram dúbios.
  • Criatividade – Manifestada normalmente no aparato tecnológico utilizado e/ou no emprego de táticas inovadoras, refere-se ao atributo que ajuda a simplificar o planejamento, uma vez que pode suprimir ou amortizar eventuais entraves que poderiam, de uma forma ou outra, comprometer no desdobramento da operação. 


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