segunda-feira, 18 de julho de 2016

A Busca pela Efetividade: Fatores que Contribuem para o Sucesso das Operações Especiais

Texto elaborado por Rodney Alfredo Pinto Lisboa com base no artigo escrito originalmente por Colin S. Gray, professor de Relações Internacionais e Estudos Estratégicos da Universidade de Reading no Reino Unido. (Disponível em: http://strategicstudiesinstitute.army.mil/pubs/parameters/Articles/99spring/gray.htm Acesso em: 15 jul. 2016). 



Fotografia 1: Dupla de MECs (Mergulhadores de Combate) da Marinha do Brasil em procedimento de incursão em ambiente ribeirinho. (Fonte: Acervo do GruMec).

Talvez a citação que mais tenha capturado a essência do emprego estratégico das OpEsp (Operações Especiais) tenha sido proferida entre os séculos XIII e XIV por Yasotay, senhor da guerra mongol que percorreu os territórios da Ásia com o objetivo de conquistá-los na tentativa de expandir seus domínios. Nas palavras de Yasotay:

"Quando a hora da crise surge, lembre-se que quarenta homens selecionados podem abalar o mundo."

Quando considerada pela perspectiva estratégica, o emprego de FOpEsp (Forças de Operações Especiais) demonstra seu valor, principalmente, no que se refere à economia de força e ao alargamento da escolha estratégica. Quando os estrategistas optam por realizar uma OpEsp, um dos fatores que pesam à favor das tropas especiais é a relação custo-benefício, ou seja, ao lançar mão das capacidades singulares das unidades de elite os índices de investimento (reduzido quando comparado aos recursos disponibilizados para as tropas convencionais) são compensados pela probabilidade de retorno favorável, dada a confiança depositada na precisão das ações realizadas pelos ElmOpEsp (Elementos de Operações Especiais).
Ainda que seja desejável determinar a série de fatores que contribuem para o sucesso das OpEsp, a tarefa de estabelecer uma ordenação torna-se por demais complexa, uma vez que, valendo-se de eventos históricos para nortear uma eventual classificação, a grande diversidade de ocorrências levadas a efeito como uma OpEsp torna esse empreendimento demasiadamente complexo, podendo não especificar as condições que asseguram o sucesso nem identificar as circunstâncias que levaram ao fracasso.  Devido à enorme diversidade de resultados estratégicos possíveis (variáveis conforme o caso), formular uma definição universal de sucesso constitui atividade complexa e pouco confiável, pois pode desconsiderar ou avaliar equivocadamente algumas situações específicas. Assim, as condições que apontam para o sucesso de uma OpEsp originam-se a partir de fatores históricos que alcançaram efeito(s) estratégico(s) significativo(s).
Para as FOpEsp engajadas em uma determinada operação, o desempenho delas exigido se altera conforme o nível de competência demonstrada pela força inimiga, assim como a oportunidade de obter vantagem estratégica depende das oportunidades que são apresentadas pelo adversário. Nesse contexto é crucial considerar que todos os oponentes têm vulnerabilidades, alguns são mais vulneráveis que outros, mas nem todas as vulnerabilidades se prestam à exploração útil.Em geral, as OpEsp tendem a contrariar os padrões convencionais que definem as condições ideias para se alcançar o sucesso em uma campanha militar. Contrapondo as probabilidades, as OpEsp podem obter sucesso mesmo quando as condições supostamente ideais não se manifestam. 


Fotografia 2: Quadros operacionais do GERR/MEC (Grupo Especial de Retomada e Resgate do GruMec) executam procedimento de varredura interna no convés de um navio abordado. (Fonte: Acervo do GruMec).
Embora seja extremamente significativa para fornecer dados visando operações futuras, a contextualização histórica deve levar em conta as particularidades das ações analisadas de modo a identificar, conforme os estudos de caso, o quão grande ou limitada pode ser a utilidade estratégica relacionada às OpEsp. Assim, tomando por referência contextos históricos específicos, as condições para se obter sucesso nas ações conduzidas como OpEsp foram reunidas em onze categorias distintas:

1. Política (Policy [conjunto de princípios que orientam as decisões]):
  • As OpEsp precisam adequar-se às demandas políticas distintas de cada época;
  • As FOpEsp necessitam operar como tropas de precisão, restringindo sua disponibilidade para atuar como uma alternativa às ações militares convencionais.

2. Política (Politics [atividades teóricas e práticas de governo]):
  • As condições sócio-culturais devem favorecer às OpEsp de modo que permitam o desenvolvimento de uma estrutura política e estratégica que favoreçam o emprego de unidades de elite;
  • Tanto a comunidade política quanto a comunidade militar devem ter consciência das características inerentes às OpEsp, bem como dos efeitos que ações dessa ordem podem produzir;
  • A OpEsp a ser realizada, necessariamente, deve ter legitimidade politica;
  • A mensagem (propaganda) política transmitida pelas OpEsp deve ser atrativa a ponto de angariar adeptos locais (nativos e/ou residentes das regiões onde ocorre a operação) que sejam simpáticos à iniciativa de leva-la à efeito;
  • Sempre que possível, as OpEsp SOF devem se beneficiar de uma mensagem política transmitida ao inimigo no intuito de promover uma mudança de comportamento;
  • As OpEsp, necessariamente, carecem de apoio fornecido por forças militares regulares.

3. Objetivos Factíveis:
  • As ações a serem realizadas, bem como os objetos a serem conquistados, devem respeitar as especificidades de cada FOpEsp;
  • As OpEsp devem ser realizadas no momento oportuno, pois o tempo (considerado como fator crucial em qualquer ação militar), quando mal administrado, pode afetar negativamente a viabilidade tática e o mérito estratégico;
  • As OpEsp devem ser empregadas criteriosamente, evitando expectativas irreais criadas por patrocinadores políticos;
  • Tomadores de decisão devem consultar especialistas de operações especiais antes de decidir sobre missões.

4. Estratégias:
  • O Alto Comando que gerencia as campanhas militares deve ter mentalidade estratégica capaz de saber empregar as potencialidades das FOpEsp para delas tirar proveito em todos os níveis de conduta da guerra.conflito;
  • As OpEsp devem ser capazes de operar em um contexto estratégico de apoio, sobretudo, quando as forças regulares precisam de assistência;
  • O quadro político-militar deve ser favorável quando da necessidade das FOpEsp serem empregadas;
  • A estratégia adotada para uma guerra/conflito deve mostrar-se estável e coerente para que as OpEsp possam agir de maneira a contribuir positivamente para a consecução dos objetivos estabelecidos.

5. Flexibilidade de Ideias:
  • As FOpEsp devem ter capacidade para apoiar as operações militares regulares, bem como para operar de forma independente;
  • O resultado bem sucedido de ações não convencionais pode requer atitudes inovadoras que fogem aos padrões doutrinários (convencionais) para solucionar os problemas que se apresentam. Nesse sentido, a guerra irregular, necessariamente, deve ser conduzida com uma mentalidade que foge aos modelos tradicionais de enfrentamento;
  • Como elemento crítico o sucesso tático das OpEsp, o “elemento surpresa” também pode definir sua utilidade estratégica. Entretanto, as FOpEsp devem esforçar-se ao máximo para alcançar a surpresa tática, pois a surpresa operacional e estratégica muitas vezes mostra-se inatingível, uma vez que as unidades de elite não podem se dar ao luxo de atacar o inimigo quando ou onde ele mostra-se despreparado.

6. Ausência de Alternativas:
  • As OpEsp devem prosperar quando as operações convencionais mostram-se inviáveis por fatores políticos, por motivos econômicos, ou quando o engajamento de tropas regulares é considerado inadequado;
  • Os conflitos de natureza irregular favorecem o engajamento de FOpEsp em virtude de sua especificidade;
  • As OpEsp são empregadas em um contexto estratégico no qual as opções convencionais tendem a diminuir.  

7. Vulnerabilidades do Inimigo:
  • As OpEsp requerem um inimigo com vulnerabilidades capazes de serem exploradas;
  • A incapacidade do inimigo de aprender com os erros e/ou reduzir suas vulnerabilidades beneficiam as OpEsp;
  • A capacidade de transformar força em fraqueza traz benefícios para as OpEsp. Nesse sentido, o nível de desenvolvimento econômico, social e político de um país têm influência significativa sobre sua vulnerabilidade, podendo as FOpEsp explorar ações de todos os tipos (incluindo guerra política e/ou psicológica);
  • A rejeição da população a um governo opressor pode ser explorada pelas OpEsp;
  • Operar em áreas dispostas na retaguarda do inimigo cria possibilidades para que as OpEsp possam atuar no intuito de minar as capacidades de combate adversárias e/ou recuperar territórios ocupados.

8. Recursos Tecnológicos:
  • As FOpEsp valem-se dos constantes avanços tecnológicos para conquistar vantagens significativas em relação às capacidades do inimigo.

9. Competência Tática:
  • Apenas FOpEsp com habilidade em áreas específicas devem realizar OpEsp que demandam dessa especificidade;
  • As OpEsp requerem um estudo intensivo e abrangente de seus alvos;
  • Os recursos humano e material inerentes às FOpEsp, obrigatoriamente, exigem elevado padrão de eficiência no desempenho de suas funções;
  • Para que as OpEsp possam ocorrer de forma satisfatória, as OpEsp exigem apurada coordenação com operações militares convencionais ou com as atividades policiais.

10. Reputação:
  • As OpEsp devem ter poder dissuasório, representado pela mensagem de credibilidade (habilidade tática acrescida de vontade política para o gerenciamento das tropas especiais) que as FOpEsp de um Estado transmitem junto ao cenário internacional. A reputação de eficiência tática das unidades de elite e a predisposição política de emprega-las maximiza os efeitos da dissuasão.

11. História:
  • Os eventos envolvendo OpEsp precisam ser estudados como parte integrante da história estratégica do conflito e da guerra;
  • As OpEsp requerem que os historiadores tenham pensamento estratégico, uma vez que tais ações são de natureza sigilosa e não aparecem nos textos relacionados à História Militar. As OpEsp carecem de literatura que não se resumam às narrativas operacionais, mas que explorem  o valor estratégico das ações não convencionais. 





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