quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Soldado Perfeito: Identificando as Bases Formadoras do Elemento de Operações Especiais

Texto elaborado por Rodney Alfredo Pinto Lisboa.


Fotografia 1: Quadros operacionais do MARSOC (Comando de Operações Especiais dos Fuzileiros Navais) norte-americanos executam treinamento de tiro de combate em preparação para o Exercise Combined Resolve III realizado na base militar de Grafenwoehr, Alemanha. (Fonte: Disponível em: https://www.reddit.com/user/Bobio27/ Acesso em: 2 ago. 2016).
Formulado por James F. Dunnigan, historiador e analista-político militar norte-americano, o termo “soldado perfeito” é empregado em referência a uma categoria de militar cujo rigoroso padrão de preparação o capacita a desempenhar as missões mais exigentes, em qualquer ambiente (terrestre, aéreo e/ou marítimo), de forma mais eficiente e com menos recursos (humanos e materiais) que o soldado convencional. Quando considerado pela perspectiva de Dunnigan, a constituição do soldado perfeito, expressão empregada em analogia ao ElmOpEsp (Elemento de Operações Especiais), é reflexo de uma combinação de fatores:  disponibilidade de investimento do Estado patrocinador, efetividade e paciência na condução do processo de seleção e treinamento, disponibilidade de fornecer aparato tecnológico no “estado da arte”, liderança com capacidade de gerenciar habilidades distintas em um sistema de responsabilidade compartilhada. Conforme é possível notar na série de fatores mencionados, Dunnigan aprofundou-se na análise de componentes extrínsecos (aspectos políticos, históricos, doutrinários, entre outros), mas mostra-se comedido (talvez intencionalmente) ao considerar os elementos intrínsecos (capacidades físicas, psicológicas e intelectuais) relacionados ao indivíduo que dispõe do conjunto de atributos que o habilitam a se tornar um ElmOpEsp.  
Embora todos os fatores apontados por Dunnigam sejam de fundamental importância para promover a formação dos quadros operacionais das FOpEsp, são as capacidades humanas que determinam a predisposição ou não de um indivíduo para desempenhar esta ou àquela atividade. Nesse contexto, devemos entender disposição como uma característica geneticamente determinada que favorece o desenvolvimento ou aquisição de certa qualidade (física) ou traço (personalidade). Conforme apresentada, a predisposição para desempenhar determinada atividade está diretamente relacionada ao talento, entendido como sendo um grau muito elevado de aptidão que é favorecido por estruturas físicas (anatômicas; fisiológicas; motoras) e psicológicas desenvolvidas desde o nascimento, que influenciadas por características ambientais (aspectos socioculturais), favorecem a aquisição e diversificação de conhecimentos relacionados a atividades específicas.
Como todas as tarefas desempenhadas pela espécie humana, sejam elas de natureza simples ou complexa, as capacidades que orientam/direcionam nossa aptidão para desempenhar uma determinada atividade não se manifestam repentinamente por ocasião do desejo (em geral os candidatos às FOpEsp são voluntários) e/ou da competência do processo formativo. Assim como ocorre com qualquer outra atividade profissional, tornar-se um ElmOpEsp é resultado da conciliação favorável entre características individuais com condições ambientais, de modo que o indivíduo demonstre ser possuidor dos predicados básicos necessários quando lhe for dada a oportunidade de explorá-las e desenvolvê-las.
Tais predicados manifestam-se por ocasião da exploração de características intrínsecas (inerentes ao indivíduo), as quais encontram-se distribuídas em três categorias distintas:

Figura 1: Características intrínsecas aos seres humanos. (Fonte: Elaborado pelo autor).

Embora seja um processo extremamente rigoroso, que busca explorar os limites das capacidades físicas e psicológicas dos candidatos objetivando detectar e eliminar indivíduos que não apresentem os requisitos exigidos, os programas de formação de ElmOpEsp não estão isentos de promover pessoas que dispõem das capacidades individuais requeridas, mas apresentam problemas com relação aos aspectos de ordem extrínsecas (influenciadas pelo ambiente no qual o indivíduo se desenvolve).
As características extrínsecas encontram-se sujeitas a uma série de variáveis que influenciam na formação da personalidade (individualidade), determinando o modo como as pessoas pensam e/ou agem. Nesse aspecto, os estímulos sociais vivenciados no decorrer da vida são imprescindíveis para a constituição do caráter. Por ser o ethos das tropas especiais um conjunto de hábitos e costumes extremamente respeitado pelos integrantes da comunidade OpEsp, responsável por criar uma intensa relação de pertencimento e camaradagem, indivíduos que não coadunam com esses princípios demonstram grandes dificuldades em compreender e/ou se adaptar ao meio em questão.
Na tarefa de detectar indivíduos dotados de capacidades individuais e princípios morais compatíveis com as exigências dos programas de avaliação, seleção e treinamento de ElmOpEsp, seria oportuno que o processo de formação de operadores, além de sistemático, diversificado e continuado (mantendo-os atualizados com as TTP [Táticas, Técnicas e Procedimentos] e os materiais [armas e equipamentos empregados]), dispusesse de uma equipe interdisciplinar (Psicólogo; Profissional de Educação Física; Assistente Social; entre outros) em condições de oferecer o suporte necessário para que os requisitos intrínsecos e extrínsecos sejam plenamente observados na busca pela excelência postulada pelas unidades militares e policiais de elite.


Fotografia 2: Policiais do COE (Comandos e Operações Especiais) do Paraná posicionados em resposta a uma ocorrência com reféns no município de Joaquim Távora, região norte do estado. (Fonte: Disponível em: http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2013/01/10/apos-12-horas-homem-liberta-mais-um-refem-de-familia-da-ex-mulher-no-interior-do-pr.htm#fotoNav=107 Acesso em: 2 ago. 2016). 

A contextualização do soldado perfeito demanda padrões de desempenho que não se manifestam apenas por ocasião do processo de seleção e treinamento de alta performance, por mais eficiente que eles sejam. A despeito de representar um ativo importante, para que possam se valer de toda sua competência, os recursos humanos carecem de apoio logístico e protocolos de atuação especializados para cada situação específica. Nesse contexto, configura-se o tripé que alicerça o ofício do ElmOpEsp: capacitação; logística apropriada; protocolos operacionais.
Outra questão fundamentalmente importante diz respeito ao perfil do ElmOpEsp. Por ser um profissional altamente especializado, que em determinadas situações envolve-se em operações altamente sensíveis, o recomendável é que seu engajamento ocorra apenas em operações que sejam compatíveis com suas habilidades não convencionais. Embora os ElmOpEsp disponham de competência para desempenhar funções de natureza convencional, e se esmerem para fazê-lo da melhor forma possível (por ocasião das sensações de comprometimento e lealdade próprios de seu ethos), empregá-los em operações convencionais representa um desperdício de capacidade, uma vez que suas habilidades e conhecimentos singulares estão sendo subutilizados.
Para que a comunidade OpEsp atraia o perfil de indivíduos dotados com o conjunto de atributos, que após serem devidamente lapidados, produzam a mão de obra altamente especializada requerida pelas unidades militares de elite, é imprescindível que os órgãos governamentais que as patrocinam, sejam eles da natureza federal ou estadual, promovam políticas de valorização, que considerando as habilidades superiores desenvolvidas por estes profissionais, acarretem reconhecimento e gratificações (financeiras) compatíveis com as exigências das atividades singulares às quais se destinam.  




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