sábado, 17 de dezembro de 2016

Informativo FOpEsp, nº 13

Publicação de Artigo

Fotografia 1: Operadores da Companhia de Mergulhadores de Combate (Kampfschwimmerkompanie) da Marinha alemã (Deutsche Marine) lançados a partir de uma plataforma submarina classe U212 navegando em profundidade de cota periscópica. (Disponível em: https://sofrep.com/48683/watch-seal-delivery-vehicle-team-strike/Acesso em: 16 dez. 2016). 

Informo a todos os seguidores do blog FOpEsp que a Revista Segurança & Defesa em sua última edição (nº 124, p. 24-29), publicou um artigo de minha autoria com o título:


"Infiltração/Exfiltração Submarina de FOpEsp"


O texto aborda o suporte ofertado por plataformas submarinas considerando os diferentes procedimentos de lançamento/recolhimento de Elementos de Operações Especiais (ElmOpEsp) realizados no intuito de infiltrar/exfiltrar Mergulhadores de Combate (MECs) na Área de Operação (AO).


Fotografia 2: Capa da edição nº 124 da Revista Segurança & Defesa, apresentando artigo alusivo aos procedimentos de Infiltração/Exfiltração Submarina de Forças de Operações Especiais. (Foto: Acervo da Revista Segurança & Defesa).


Mensagem de Final de Ano


Com o objetivo de disseminar uma cultura de valorização das Forças Singulares (Exército, Marinha e Força Aérea) e Forças Auxiliares (Polícias Federal, Militar e Civil), especificamente no âmbito das Operações Especiais, o blog FOpEsp (Forças de Operações Especiais) buscou difundir conhecimentos distintos nas diferentes postagens que apresentou ao longo de 2016 (ano de nossa gênese). Agradecemos a todos os nossos seguidores pelo apoio demonstrado no decorrer desse período, suporte imprescindível que nos motiva a alçar novos voos no ciclo que se inicia com o próximo ano. Aproveitamos a oportunidade para informar-lhes que deixaremos de publicar novas postagens no transcorrer das próximas duas semanas por ocasião das festas de Natal e Ano Novo, retornando às atividades normais a partir da segunda semana de janeiro de 2017. Com a certeza que estaremos juntos novamente... QUEM OUSA VENCE!!!








sábado, 10 de dezembro de 2016

Cultura de valorização das Operações Especiais: uma possibilidade viável na sociedade brasileira?

Texto elaborado por Rodney Alfredo Pinto Lisboa.

Fotografia 1: Quadros operacionais do 1º BFEsp (1º Batalhão de Forças Especiais), em primeiro plano, e do 3º Batalhão do 7º SFG(A) do Exército dos EUA, em segundo plano, durante intercâmbio realizado na cidade de Goiânia, sede do COpEsp (Comando de Operações Especiais) do Exército Brasileiro. (Fonte: Acervo do COpEsp).

Conduzida como uma resposta aos atentados terroristas perpetrados pela al-Qaeda contra o território norte-americano em 11 de setembro de 2001, a Guerra Global contra o Terrorismo (GWOT [Global War on Terrorism]) evidenciou o emprego estratégico das Forças de Operações Especiais (FOpEsp). Embora tenham atraído grande atenção pública por ocasião da constância com que os órgãos de imprensa repercutiam as operações levadas à efeito em países como Afeganistão, Iraque, Paquistão, Iêmen e Somália, a opção dos Estados por utilizar as Operações Especiais (OpEsp) como uma alternativa estratégica em favor de seus interesses não é recente.  
Sobre o emprego político-estratégico das FOpEsp, a história é pródiga em nos apresentar exemplos de ações militares que não se limitaram as implicações do campo de batalha. A criação dos Commandos britânicos durante a Segunda Guerra Mundial ocorreu com o propósito de evidenciar a intenção e determinação do governo do primeiro ministro Winston Churchill de continuar lutando, a despeito de sua temporária incapacidade de lançar uma contra ofensiva em larga escala contra a Europa ocupada. Também durante a Segunda Grande Guerra a Operação Pazerfaust (15 de outubro de 1944) promoveu o sequestro de Miklós Horthy Jr. (filho do regente Húngaro Miklós Horthy) por homens das unidades SS Friedenthal lideradas por Otto Skorzeny, com o objetivo de impedir que a Hungria abandonasse a aliança com o Eixo no intuito de aproximar-se dos Aliados. A ação de resgate de reféns ocorrida por ocasião da Operação Thunderbolt (4 de julho de 1976), em virtude da via diplomática (negociação) aparentemente ter se esgotado tornando o uso da força por integrantes do Sayeret Matkal (unidade das Forças de Defesa de Israel) a melhor alternativa estratégica para a solução do problema.
Ponderando sobre a utilidade estratégica de um componente militar, é necessário esclarecer que a verdadeira utilidade estratégica desse componente para o poder nacional é calcada nas suas capacidades de projetar ou defender os interesses nacionais. Nesse contexto, para que uma FOpEsp possa ser empregada de forma estratégica é necessário que a unidade em questão tenha um valor substantivo no exercício desse papel. Sobre a relevância estratégica das FOpEsp, Colin S. Gray, professor de Relações Internacionais e Estudos Estratégicos da Universidade de Reading (Reino Unido) afirma:

As Forças de Operações Especiais são um ativo da grande estratégia nacional: elas constituem uma ferramenta de política que pode ser empregada cirurgicamente em apoio à diplomacia, assistência estrangeira (de inúmeras formas), bem como um das forças militares regulares, ou como uma arma independente.

Ponderando sobre a utilização das FOpEsp em favor da Grande Estratégia dos Estados (utilização de todos os instrumentos de poder disponíveis para a conquista e/ou manutenção de objetivos políticos), Gray evidencia as unidades de elite como um importante instrumento do Poder Militar que pode ser empregado em favor dos interesses estatais (política). As campanhas levadas a efeito por FOpEsp na Guerra do Kosovo (1999) e na Guerra do Afeganistão (2001), são exemplos do emprego estratégico das unidades de elite em favor dos interesses dos Estados, uma vez que os resultados obtidos conscientizaram as autoridades estatais que grandes objetivos políticos podem ser alcançados por Elementos de Operações Especiais (ElmOpEsp) organizados em pequenas unidades e sem a onerosa necessidade de utilizar os grandes contingentes das tropas convencionais. 

Fotografia 2: Quadros operacionais do GERR/MEC (Grupo Especial de Retomada e Resgate do Grupamento de Mergulhadores de Combate) da Marinha do Brasil realizam instrução de técnicas CQB (Close Quarters Battle  [Confronto em Reconto Confinado]).(Fonte: Acervo do GruMec).

É pertinente enfatizar que o aprimoramento das políticas e estratégias nacionais de Defesa de um determinado Estado deve ser compatível com os propósitos estabelecidos por ele. Por estarem os temas atinentes à Defesa Nacional relacionados à integridade territorial, à soberania nacional e aos interesses essenciais de uma nação, questões inerentes ao reconhecimento e incremento das capacidades das Forças Singulares (Exército, Marinha e Força Aérea), sendo incluídas nesse contexto as competências das FOpEsp. No decorrer desse processo de valorização, dois fatores têm importância fundamental: envolvimento da sociedade e a adoção de medidas efetivas.
Sobre o envolvimento da sociedade considera-se que a Educação desempenha um papel indispensável na formação de cidadãos (militares e civis) envolvidos com a temática da Defesa.
Por sua vez, a adoção de medidas efetivas requer a Formulação de políticas e estratégias de Defesa; alocação de recursos financeiros conforme as necessidades de Defesa do país; planejamento conjunto de Defesa envolvendo todos os níveis institucionais; solidez das instituições militares; preparo e equipamento adequados das Forças Armadas (FFAA); inclusão da temática OpEsp nas estruturas curriculares das escolas de formação militar (para oficiais e praças); desenvolvimento de estudos científicos pertinentes ao setor de Defesa;  implementação de um sistema eficiente de mobilização nacional; construção e manutenção de uma Base Industrial de Defesa (BID).
No que concerne às OpEsp realizadas pelas tropas especiais brasileiras, a questão central que incita a reflexão refere-se a necessidade/viabilidade de se estabelecer, de forma singular e/ou conjunta, estruturas de Comando que, respeitando as particularidades de cada um de seus componentes, sejam capazes de organizar e integrar as unidades de elite a elas vinculadas. Para tanto, é imprescindível que a sociedade castrense brasileira, assim como ocorreu com a comunidade militar de países como EUA, Reino Unido, França, Canadá e Austrália, compreenda as características contemporâneas do conflito, cujas ameaças, diferente do perfil predominantemente estatal (militar) do passado, não se restringem ao modelo clássico da Guerra de Atrito, conduzida por tropas convencionais de Estados adversários que se confrontam (respeitando as Leis da Guerra e a Convenção de Genebra) em espaços geográficos previsíveis, a fim de reduzir a eficiência de combate do inimigo (destruição dos meios físicos [humanos e materiais] do oponente).

Fotografia 3: Operadores do EAS (Esquadrão Aeroterrestre de Salvamento, também conhecido como PARA-SAR) da Força Aérea Brasileira, executam um exercício C-SAR (Combat - Search and Rescue [Busca e Resgate de Combate]) com o objetivo de recuperar pilotos abatidos. (Fonte: Disponível em: http://www.defesanet.com.br/sof/noticia/16020/As-tropas-de-elite-das-Forcas-Armadas-do-Brasil/ Acesso em: 9 dez. 2016).

Mesmo que o Estado brasileiro estivesse em condições de formular estratégias e políticas de Defesa compatíveis com as reais necessidades do país, promovendo junto à sociedade uma cultura de valorização de questões atinentes ao tema, atendê-los não acarretaria em uma alteração automática no modo como nossas FOpEsp são empregadas, uma vez que o pensamento vigente e plural entre os militares de nossas FFAA continua sendo influenciado pelo conceito operacional que predominou no século passado, projetando o emprego das unidades de elite apenas como uma alternativa tática, com efeitos de suas ações restritos ao campo de batalha.  A realidade dos conflitos atuais, que valoriza as unidades especializadas em confrontar ameaças que lançam mão de métodos não convencionais de enfrentamento, requer por parte dos militares brasileiros uma percepção totalmente nova, fazendo com que as FOpEsp sejam consideradas não apenas como um recurso tático, mas como um expediente estratégico que busca obter efeitos político-militares amplos, prolongados e decisivos.




domingo, 4 de dezembro de 2016

SWAT: Pronta Resposta às Ocorrências Policiais Especiais

Texto elaborado por Rodney Alfredo Pinto Lisboa.

Fotografia 1: Dupla de operadores da SWAT do LAPD (Los Angeles Police Department [Departamento de Polícia de Los Angeles]). (Fonte: Disponível em: http://wallpapersafari.com/lapd-wallpaper/ Acesso em: 3 dez. 2016).

Na manhã de 1º de agosto de 1966, após eliminar seus dois primeiros alvos, respectivamente sua esposa e mãe, Charles Joseph Whitman, ex-fuzileiro naval dos EUA (USMC [United States Marine Corps]) reconhecido por sua perícia como atirador e marcado por um histórico de frustrações, invadiu o campus da Universidade do Texas, localizada na cidade de Austin, portando diversas armas de diferentes tamanhos e calibres. Alojando-se na torre do sino no edifício principal da universidade, Whitman passou a observar os pedestres que se locomoviam pelas dependências do campus. Nos 95 minutos que se seguiram ele disparou indiscriminadamente contra os pedestres sem enfrentar resistência. Quase duas horas depois de iniciar os disparos, o ex-fuzileiro foi morto por um policial local que havia conseguido avançar cautelosamente até a torre. Conhecido como “Massacre da Torre do Texas”, os disparos de Whitman feriram 32 pessoas e resultaram na morte de outras 14.
O evento relatado anteriormente, acrescido de uma onda de ações violentas cometidas contra a população civil e a força policial do município de Los Angeles (estado da Califórnia) no decorrer da década de 1960, levou o departamento de polícia da cidade (LAPD [Los Angeles Police Department]) à constatação de que não dispunha de capacidade para lidar com ocorrências de natureza não convencional. Face a esse julgamento, em 1967 o sargento John G. Nelson, também um ex-fuzileiro naval, apresentou a Darryl Francis Gates, então inspetor responsável por supervisionar as investigações do LAPD, o conceito de uma unidade tática apta a confrontar situações envolvendo indivíduos armados cujos métodos e violência empregados se mostram incomuns, entre os quais: atiradores furtivos; roubos perpetrados por suspeitos fortemente armados; sequestros; etc.  Ciente da incapacidade demonstrada pela polícia de confrontar esse tipo de ameaça, Gates (que futuramente viria se tornar Chefe do LAPD) deu andamento à proposta de Nelson autorizando a concepção de uma tropa especializada, oficialmente conhecida como LAPD Metropolitan Division`s “D Platoon” (“Pelotão D” da Divisão Metropolitana do Departamento de Polícia de Los Angeles) e identificada pela sigla SWAT (Special Weapons and Tactics [Armas e Táticas Especiais]).

Fotografia 2: Equipe da SWAT do LAPD engajados uma ocorrência de risco elevado envolvendo um suspeito abrigado no interior de sua residência com três filhos. (Fonte: Disponível em: http://abc7.com/news/barricade-suspect-surrenders-to-police-in-leimert-park/771548 Acesso em:3 dez. 2016).

A unidade inicialmente foi constituída por 60 elementos, divididos em 15 equipes de quatro operadores, reunidos de forma voluntária a partir das diferentes unidades vinculadas ao LAPD (todos os selecionados para compor a SWAT apresentavam experiência militar prévia). Cada uma das equipes operavam em sistema de sobreaviso, sendo ativadas e reunidas periodicamente para receber treinamento mensal ou quando uma intervenção se fazia necessária.
A SWAT teve seu primeiro grande desafio em dezembro de 1969, quando seus quadros operacionais foram incumbidos de apreender armas ilegais localizadas na sede do Partido dos Panteras Negras, organização ligada ao movimento nacionalista que defendia a unidade racial negra opondo-se ao pluralismo cultural. Em meados dos anos 1960, os Panteras Negras assumiram-se como movimento revolucionário defendendo ideais como: a isenção de impostos da população negra; o pagamento de indenizações por séculos de exploração da chamada “América Branca”; entre outros. Para alcançar seu intento, militantes radicais do partido defendiam o armamento da população negra e o início de uma luta armada. Na ocasião da intervenção policial, integrantes dos Panteras Negras antagonizaram a SWAT por quatro horas em um violento confronto que redundou em seis feridos (três policiais e três militantes do partido).
No início dos anos 1970, a crescente criminalidade em diferentes regiões de Los Angeles, além das dificuldades demonstradas pela polícia para organizar uma resposta eficiente em tempo hábil, levaram o LAPD a estabelecer a SWAT em tempo integral colocando-a sob autoridade da Divisão Metropolitana.  

Figura 1: Emblema da SWAT do LAPD. (Fonte: Disponível em: http://criminalminds.wikia.com/wiki/Special_Weapons_and_Tactics Acesso em: 3 dez. 2016).

A transição da década de 1970 para 1980 foi marcada pelo incremento da atividade terrorista no cenário internacional. O atentado perpetrado pela organização fundamentalista Setembro Negro contra a equipe olímpica israelense durante os jogos de 1972, realizados em Munique na Alemanha, evidenciaram o quão atrativos são os eventos dessa natureza para os grupos terroristas, estimuladas a incutir o medo por meio da violência devido a projeção midiática ofertada pelas Olímpiadas. Nesse contexto, na condição de cidade sede dos Jogos Olímpicos de 1984, Los Angeles figurava como um potencial alvo da atividade terrorista. Assim, no intuito de preparar-se adequadamente para essa modalidade de enfrentamento (até então inexplorada pela SWAT), em 1983 o LAPD destacou três supervisores da unidade para viajar à Europa no intuito de pesquisar TTP (Táticas, Técnicas e Procedimentos) executados por tropas contraterroristas (CT) de diferentes países daquele continente, a se destacar: 22nd SAS (22nd Special Air Service Regiment [22º Regimento do Serviço Aéreo Especial]) britânico; GIGN (Group d`Intervention de la Gendarmerie Nationale [Grupo de Intervenção da Gendarmerie Nacional]) francês; GSG9 9 (Grenshutzgruppe 9 [Grupo de Defesa de Fronteira 9]) alemão. No ano seguinte os jogos transcorreram de forma segura e pacífica, restando à SWAT um legado (desenvolvimento para operar em ações CT) que elevou seu nível de empregabilidade.

Fotografia 3: Policiais da SWAT do LAPD após o desfecho de ocorrência envolvendo um atirador-suicida no campus da UCLA (University of California at Los Angeles [Universidade da Califórnia em Los Angeles]). (Fonte: Disponível em: http://hamodia.com/2016/06/01/shooting-ucla-campus/ Acesso em: 3 dez. 2016).

Atualmente a SWAT de Los Angeles é reconhecida internacionalmente como uma das mais capacitadas unidades táticas policiais do mundo, respondendo a qualquer ocorrência de risco elevado que esteja sob autoridade do LAPD. Estruturalmente a SWAT de Los Angeles é composta por 60 Policiais, seis Sargentos e um Tenente. Responsável pelo comando da unidade e por responder ao Chefe do LAPD, o Tenente é identificado pelo código 10-David, enquanto os Sargentos, cada um deles responsável por um esquadrão de 10 homens (divididos em dois grupos táticos de cinco elementos), são designados conforme antiguidade com códigos que variam entre 20-David à 70-David. 
Introduzido pela LAPD, o conceito de Armas e Táticas Especiais que caracterizam a SWAT foi difundido por todo o território norte-americano, sendo incorporado pelos departamentos de polícia de diferentes metrópoles, tais como: Nova York; Miami; Chicago; Dallas; San Francisco; Salt Lake City; entre outras. Esse mesmo conceito se estenderia para além das fronteiras estadunidenses influenciando na criação e/ou desenvolvimento de unidades policiais análogas de diferentes países.