terça-feira, 28 de junho de 2016

Sem Remorso: Efeitos do Ato de Matar Sobre os Elementos de Operações Especiais

Texto elaborado por Rodney Alfredo Pinto Lisboa.


Fotografia 1: Cena do filme Sniper Americano (2015), que retrata a vida de Christopher Scott Kyle, operador SEAL considerado como o atirador de precisão mais letal da história militar norte-americana. O enredo do filme explora, entre outros aspectos, os efeitos cumulativos da pressão e do estresse de combate. (Fonte: Disponível em: http://www.joblo.com/videos/movie-clips/american-sniper-trailer Acesso em: 27 jun. 2016).

O artigo intitulado “O que Significa Matar Alguém em Combate”, elaborado por Phil Zabriskie, diretor editorial do escritório norte-americano da organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (ex-articulista da National Geographic, Fortune e Washington Post) trata de um tema controverso, o ato de matar, questionado por diferentes sistemas éticos, filosóficos e religiosos. Uma das consequências inevitáveis dos engajamentos em períodos de guerra ou crise, implicação que precisa ser definitivamente assimilada pelas sociedades que se envolvem em campanhas militares, é a morte ocorrida por ocasião do combate.
Quando lidam com questões atinentes ao ato de matar, as FFAA (Forças Armadas), preocupam-se, sobretudo, em condicionar tecnicamente seus soldados a disparar o armamento mediante estímulos (visuais e auditivos), de modo a capacitá-los a tirar a vida do inimigo com eficiência. Cabe destacar, que no decorrer desse processo, em geral, as instituições militares negligenciam os efeitos psicológicos resultantes dessa ação. Sobre esse aspecto, Zabriskie apresenta os dados de um estudo desenvolvido pela Drª Shira Maguen, Psicóloga do Serviço de Saúde Mental do San Francisco Veterans Affairs Medical Center, o qual revela que combatentes que se envolveram em situações nas quais provocaram a morte do inimigo têm maior predisposição a manifestar TEPT (Transtorno de Estresse Pós-Traumático), condição de saúde mental (distúrbio de ansiedade) caracterizada pela exposição a eventos traumáticos que, ao serem relembrados, promovem sensações de dor e sofrimento semelhantes àquelas vivenciadas no exato momento em que ocorreu o evento, desencadeando uma séria de alterações fisiológicas, neurológicas e mentais.
Ponderando sobre o conflito interno enfrentado pelos soldados em combate, Zabriskie salienta o testemunho do Tenente-Coronel Peter Kilner, oficial do Exército dos EUA e docente da Academia Militar de West Point, o qual destaca que matar o inimigo representa a maior decisão moral a ser tomada pelo combatente no campo de batalha. Dave Grossman, autor do livro “Matar: Um Estudo Sobre o Ato de Matar”, esclarece que existem casos em que a resistência gerada por ocasião desse dilema faz com que o soldado morra alvejado pelo inimigo por não conseguir tirar-lhe a vida.


Fotografia 2: Cena do filme O Grande Herói (2013), que aborda a "Operação Red Wing" conduzida por uma equipe do SEAL TEAM 10  para neutralizar o líder talebã Ahmad Shah, nas montanhas próximas ao distrito de Pech na província de Kunar, Afeganistão. O dilema moral sobre o ato de matar no qual os operadores se envolveram no início da ação acabou por comprometer a missão, condenando à morte três dos quatro militares estadunidenses. (Fonte: Disponível em: https://trailers.apple.com/trailers/universal/lonesurvivor/ Acesso em: 27 jun. 2016).
Embora possam ocorrer em membros das FOpEsp, tanto o TEPT quanto a relutância em matar tendem a se manifestar principalmente nos contingentes regulares. Em virtude da natureza das operações em que se envolvem, as unidades militares de elite buscam, desde os exames de seleção de seus quadros operacionais, um perfil de indivíduo dotado de estabilidade emocional para suportar as implicações inerentes à sua profissão. Ponderando sobre os efeitos do ato de matar sobre a psiquê humana, Eric L. Haney, ex-operador do 1st SFOD-D (1º Destacamento de Forças Operacionais - Delta [Força Delta]), esclarece que os rigorosos processos seletivos, acrescidos de testes psicológicos intensos, a que são submetidos os candidatos, tem por objetivo identificar traços de empatia e/ou compulsão, características que poderiam comprometer o desempenho individual levando ao colapso operacional.
Quando considera os afazeres dos ElmOpEsp no campo de batalha, Mark Owen, ex-operador do DEVGRU (Grupo de Desenvolvimento de Guerra Especial Naval), salienta, que estando o operador submetido à condição de pressão e estresse característicos do combate, cabe a ele a responsabilidade de avaliar rapidamente a situação, priorizar as ameaças, decidir o que fazer de modo apropriado e no momento oportuno. Nesse contexto, os quadros operacionais das tropas especiais devem estar aptos a tomar a decisão de matar sem serem emocionalmente afetados por seu ato (por ocasião da empatia com o inimigo), mas também devem se mostrar imunes ao impulso de continuar matando (em virtude da compulsão causada pela sensação de poder momentâneo). O equilíbrio emocional que afasta os efeitos desses dois extremos (empatia e compulsão) figura como fator decisivo para que a decisão de matar, assumida por ocasião de uma OpEsp, seja encarada, sem grandes perturbações, como resultado inerente ao confronto.

Referências:

GROSSMAN, Dave. Matar: Um Estudo Sobre o Ato de Matar. Rio de Janeiro: Bibliex, 2007.
HANEY, Eric. L. Força Delta: Por Dentro da Tropa Antiterrorista Americana. São Paulo: Landscape, 2003.
OWEN, Mark. Não Há Heróis: Lições de Vida de Um Atirador da Tropa de Elite Americana. São Paulo: Paralela, 2015.





sábado, 25 de junho de 2016

A Simbologia do "Gorro Preto" para as Forças Especiais do Exército Brasileiro

Texto elaborado por Rodney Alfredo Pinto Lisboa.


Figura 1: Operador do 1º BFEsp participa de adestramento de tiro com os quadros operacionais do 3º Batalhão do 7º SFG-A (Special Forces Group-Airborne) do Exército dos EUA em Fort Bragg, Carolina do Norte. (Fonte: Acervo do COpEsp). 

A palavra “simbologia” é empregada em referência ao estudo ou interpretação dos símbolos, que, como elemento essencial para a comunicação entre as pessoas, constitui representação (tridimensional, gráfica, sonora ou gestual) de uma ideia abstrata. 
Nas relações pessoais e/ou institucionais, habitualmente, os símbolos, como representação de temores e aspirações, são utilizados de modo a promoverem a integração de diferentes grupos sociais, contribuindo substancialmente para atribuir-lhes uma identidade social que orienta os modos de pensar e agir de seus componentes.
Especificamente no que se refere aos grupos profissionais, os símbolos constituem representações peculiares à atividade por eles desempenhada. Por sua vez, as representações simbólicas características da sociedade militar estão diretamente relacionadas a um ethos institucional alicerçado no binômio hierarquia e disciplina.
Para as OpEsp do EB (Exército Brasileiro), o simbolismo inerente ao “gorro preto” evoca o apego às tradições, a reverência à camaradagem, o orgulho de pertencer ao seleto grupo de indivíduos, que após serem testados e aprovados nos limites da obstinação e resistência, passaram a integrar as unidades de elite da Força Terrestre (1º BAC [1º Batalhão de Ação de Comandos] e o 1º BFEsp [1ºBatalhão de Forças Especiais]). Para efeito de esclarecimento, é pertinente salientar que o gorro preto traz em suas laterais direita e esquerda os distintivos das Forças Especiais e da Ação de Comandos, respectivamente.


Fotografia 2: Caçadores e spotters das FOpEsp do Exército Brasileiro, integrantes da Força-Tarefa que participou do esquema de segurança do presidente Barack Obama (em visita oficial ao Brasil), durante evento de apresentação para a imprensa realizado em 2011 na capital federal. (Fonte: Disponível em: https://cryptome.org/info/obama-protect41/obama-protect41.htm Acesso em: 22 jun. 2016).

A deferência para com o gorro preto teve origem no final da década de 1950 (período que baliza o início das OpEsp no EB), quando o Núcleo da Divisão Aeroterrestre (atual Brigada de Infantaria Paraquedista), organização responsável por conduzir o Curso de Operações Especiais, buscava criar referências cuja caracterização promovesse vínculos de pertencimento que arraigasse um vigoroso espírito de corpo em seus integrantes. A adoção do gorro bico de pato, assim como outros itens do fardamento (padrão de camuflagem; botas de combate; camisa branca com o nome do usuário no peito), representou uma mudança de hábitos e comportamentos em favor do comprometimento para com a tropa. Nesse contexto, foi atribuída uma cor específica para cada uma das especialidades aeroterrestres (amarelo para os dobradores de paraquedas e vermelho para os precursores paraquedistas).  Após se depararem com uma breve resistência em relação a cor sugerida para o contingente das Operações Especiais, os quadros operacionais dessa atividade passaram a ostentar a cor preta em sua cobertura, referência às ações noturnas que a caracterizam.


Foto 3: Tradicional foto de conclusão de Curso de Forças Especiais reunindo instrutores (fardamento camuflado) e alunos (fardamento verde oliva). (Fonte: Acervo do COpEsp). 

Para ilustrar a relação de profundo respeito que os ElmOpEsp do EB nutrem para com o gorro preto, torno público o testemunho que me foi dado por um amigo FE, a quem atribuirei o codinome Queiróz. No período em que servia junto à Força 3 (3ª Companhia de Forças Especiais [subordinada ao Comando Militar da Amazônia]) cumprindo missão de repressão a crime ambiental na fronteira do Brasil com o Peru, Queiróz sofreu um acidente por ocasião da queda de uma árvore arrancada devido ao empuxo do rotor de um helicóptero Blackhawk, pairado no ar enquanto os operadores executavam a técnica de rapel conhecida por Desembarque Aerotático (Fast Rope). A queda da árvore provocou um grave ferimento na cabeça, chegando a lesionar uma vértebra. Trasladado para o hospital, enquanto se recuperava das severas lesões sofridas, por exigência sua, o gorro preto permaneceu sempre ao seu lado. Queiróz também me confidenciou que ao servirem no Haiti sob a égide da ONU (Organização das Nações Unidas), assim como ocorre com contingentes militares de outras nacionalidades que operam respondendo à autoridade desse órgão intergovernamental, os militares brasileiros tiveram que trajar a cobertura azul característica da entidade. Contudo, mesmo tendo que usar cobertura de outra cor por dever de ofício, o gorro preto sempre o acompanhava, mantido guardado em um dos bolsos de seu fardamento. Segundo ele revelou, o conceito por trás das atitudes manifestadas tanto na selva fronteiriça quanto no país caribenho remete a honra e orgulho de ser um FE. Nesse sentido, na eventualidade de encontrar a morte, seja em que circunstância for, o operador, em atitude altiva e comprometida com os ideais de sua unidade, optará por perecer ostentando o gorro preto, símbolo indelével das Forças Especiais do EB. 
Conforme é possível notar no relato apresentado anteriormente, a simbologia do gorro preto vai muito além do conceito da caracterização/identidade militar. Para os ElmOpEsp do EB, trajar o gorro preto serve para distinguir uma classe de combatentes que valem-se da singularidade e excelência de suas habilidades, eventualmente colocando-se em situação de risco, não medindo esforços para alcançar os objetivos que lhes são atribuídos. 




segunda-feira, 20 de junho de 2016

O Ethos das Operações Especiais

Texto elaborado por Rodney Alfredo Pinto Lisboa com base no artigo escrito originalmente por Bernd Horn, Coronel (Ref°) das Forças Armadas Canadenses e professor adjunto de História no Centro de Estudos Militares e Estratégicos da Universidade de Calgary e no Real Colégio Militar do Canadá. (Disponível em: http://www.journal.forces.gc.ca/vo8/no4/doc/horn-eng.pdf Aceso em: 18 jun. 2016).



Figura 1: Candidatos a SEAL participam da instrução denominada Surf Torture, realizada na Base Naval Anfíbia de Coronado (região de San Diego, Califórnia), por ocasião do programa BUDS (Basic Underwater Demolition SEAL) conduzido pela Marinha norte-americana. (Fonte: Disponível em:http://navyseals.com/2159/secret-to-seal-training/ Acesso em: 18 jun. 2016).

O termo ethos tem origem grega, e é utilizado em referência ao caráter moral que distingue o conjunto de hábitos (comportamentais) adotados por uma determinada comunidade. Analisado de forma isolada, essa expressão evoca um conceito de sociedade igualitária, na qual todos os seus membros, objetivando estabelecer um convívio coletivo harmônico, abraçam costumes comuns ao grupo que integram. No âmbito militar, as FOpEsp nutrem profundo respeito para com seu ethos. Submetidos à condições idênticas de seleção e treinamento que não diferenciam os candidatos por sua posição na hierarquia militar, cada ElmOpEsp, sem qualquer exceção, é submetido a testes com rigorosos padrões de exigência que avaliam os limites de suas capacidades física, mental e intelectual, no intuito de identificar qualquer inaptidão que desqualifique seu ingresso na seleta comunidade OpEsp.
Forjados desde sua formação em um processo contínuo que transcorre todo o período de atividades operativas, e se prolonga para além dele, os quadros operacionais das FOpEsp, por ocasião das dificuldades compartilhadas e dos riscos aos quais se submetem, criam uma intensa relação de identidade, camaradagem, solidariedade, coesão e confiança mútua. Comumente materializada em diferentes elementos simbólicos (rituais; lemas; canções; orações; brasões; brevês; peças de vestuário; entre outros), a soma desses sentimentos desperta uma vigorosa sensação de “pertencimento” que incrementa o espírito de corpo (lealdade para com os companheiros) e induz ao comprometimento para com as tarefas as quais a unidade em questão se propõe executar.
Por adaptarem-se rapidamente às situações de risco elevado com um nível de aprestamento e prontidão superior (devido às habilidades sui generis), que as capacita a responder às solicitações de forma menos perturbadora (minimizando os danos colaterais) que as tropas convencionais, as FOpEsp contemporâneas, necessariamente, devem ser percebidas pelos governos que as patrocinam como uma importante opção estratégica, considerada imprescindível por não ter alternativas que as supram no desempenho de missões altamente sensíveis. É justamente o caráter sensível das OpEsp que demandam grande cautela ao tornar pública as informações a elas relacionadas. Manter as operações em sigilo resguarda a segurança das ações a ela vinculadas e protege o pessoal nelas engajado. Nesse sentido, como parte de seu ethos, os ElmOpEsp se esforçam para manter a confidencialidade de suas identidades e os dados das operações nas quais participaram, e qualquer operador que revele informações críticas que possam comprometer a segurança é alçado à condição de pária.  Para os ElmOpEsp, o sentimento de pertencer à “sua unidade” é motivo de orgulho e honra, e a possibilidade de cometer qualquer ato que o desabone perante seus pares representa uma grave forma de punição.


Fotografia 2: Cena do filme Falcão Negro em Perigo (2001), retratando o esforço dos quadros operacionais do 1º SFOD-D (1º Destacamento Operacional de Forças Especiais-Delta [Força Delta]) para resgatar o corpo do piloto da aeronave abatida nas ruas de Mogadíscio, Somália. (Fonte: Disponível em: https://www.fatherly.com/fatherly-forum/what-i-borrowed-from-military-to-teach-my-kids-to-be-leaders/ Acesso em: 18 jun. 2016).


O elitismo que evidencia as capacidades singulares dos quadros operacionais das tropas especiais tem antecedentes históricos, que por ocasião do sentimento de arrogância e desprezo dos operadores pelas tropas regulares, por décadas promoveram o estremecimento nas relação das unidades convencionais e não convencionais. Em virtude da atitude presunçosa demonstrada por alguns ElmOpEsp, uma considerável parcela dos comandantes militares passaram a percebê-los como aventureiros irresponsáveis e descomprometidos. Entretanto, o orgulho exacerbado, o desdém pelas unidades formais, bem como a sensação de independência em relação às FFAA (Forças Armadas) tradicionais, recorrentes em períodos passados, foram gradativamente cedendo espaço para sentimentos que favorecem uma relação amistosa e interdependente. Essa transformação ocorreu, sobretudo, como consequência da inversão de papeis decorrente dos efeitos da Special Forces Centric Warfare (Guerra Centrada em Forças Especiais), na qual as unidades de elite passaram a operar como comando apoiado por tropas convencionais (e, portanto, dependentes delas), enquanto no passado as funções eram invertidas. 
Na comunidade OpEsp, o cumprimento do dever para com a nação e a lealdade para com os companheiros sobrepõe-se a tudo, levando o operador a desenvolver, por ocasião dos fortes vínculos constituídos, um sentimento altruísta para com as questões da unidade que o leva ao sacrifício pessoal. Para o ElmOpEsp, experimentar o dia a dia da unidade, ostentando os paramentos que o identificam como membro daquela tropa específica, valendo-se de suas capacidades ímpares para vivenciar o ambiente de expectativa/realidade do combate em favor de seu país, ladeado por companheiros, que assim como ele, têm os mesmos anseios e ideais, representa um privilégio a ser coroado, não com reconhecimento público, mas com sentimento de satisfação, honra e glória silenciosos, como convém aos militares dessa estirpe.




sexta-feira, 17 de junho de 2016

Informativo FOpEsp, nº 5

Publicação de Artigo

Fotografia 1: Operador de uma ECAnf (Equipe de Comandos Anfíbios) da 1ª CiaOpEsp participa de adestramento visando a condução de uma operação de Reconhecimento. (Foto: Rodney Lisboa). 



Informo a todos os seguidores do blog FOpEsp que a Revista Segurança & Defesa, em sua última edição (nº 122, p. 24-29), publicou um artigo de minha autoria com o título:


"Batalhão Tonelero: OpEsp dos Fuzileiros Navais."

O texto aborda as particularidades da unidade que congrega os ComAnf (Comandos Anfíbios), entre as quais destacam-se: histórico; subordinação; estrutura organizacional; filosofia de emprego; tarefas de responsabilidade; plataformas de transporte; armas e equipamentos empregados; entre outros tópicos de interesse. 

Fotografia 2: Capa da edição nº 122 da Revista Segurança & Defesa, apresentando artigo alusivo ao Batalhão Tonelero do CFN (Corpo de Fuzileiros Navais) da Marinha do Brasil. (Foto: Acervo da Revista Segurança & Defesa).






terça-feira, 14 de junho de 2016

Princípios das Operações Especiais: Considerações sobre a Perspectiva de McRaven (Parte Final)

Texto elaborado por Rodney Alfredo Pinto Lisboa.

Fotografia 6: Embarcados em uma aeronave Hércules C-130, Grupo de Assalto (componente da Força-Tarefa Ivory Coast) que participou do ataque ao campo de prisioneiros de Son Tay (Vietnã do Norte) em 21 de novembro de 1970. (Fonte: Disponível em: http://peteralanlloyd.com/the-vietnam-war/son-tay-a-dramatic-raid-on-a-pow-prison-near-hanoi-during-the-vietnam-war/ Acesso em: 13 jun. 2016). 

Rapidez – Para McRaven, as OpEsp encaram o princípio da rapidez na acepção do termo, ou seja, atingir o(s) objetivo(s) estabelecido(s) o mais breve (rápido) possível, uma vez que eventuais prolongamentos aumentará as vulnerabilidades da força atacante reduzindo, gradativamente, as possibilidades do incursores conquistarem a Superioridade Relativa.
O autor destaca que na guerra convencional, tradicionalmente travada por forças antagonistas de grande efetivo que necessitam manobrar taticamente pelo campo de batalha, o conceito de rapidez torna-se relativo. Contudo, nas missões levadas a efeito como uma OpEsp, por estar o oponente disposto em posições fortificadas (defensivas) cabe a ele a tarefa de resguardar-se da melhor forma possível, neutralizando um eventual ataque ou defendendo-se da melhor forma e com todo o empenho possível.  Nesse contexto, à medida que o tempo avança, as fricções de guerra propostas por Clausewitz agem contra os atacantes. Para reduzir as possibilidades das fricções incidirem sobre eles, cabe aos incursores moverem-se de forma rápida e resoluta, mesmo considerando as capacidades e o ímpeto defensivo do adversário, bem como adversidades fortuitas que surgirem no decorrer do engajamento.
Para ilustrar a relevância atribuída a rapidez no que concerna à conquista da Superioridade Relativa, McRaven salienta que apenas uma (o ataque ao dique seco de Saint Nazaire) das oito OpEsp analisadas por ele demorou mais de trinta minutos para alcançar a Superioridade Relativa a partir do ponto de vulnerabilidade. O autor esclarece que em todos os outros sete casos analisados as operações foram concluídas em 30 minutos, sendo a Superioridade Relativa obtida em uma janela de tempo que não extrapolou os quinto minuto após o ponto de vulnerabilidade. McRaven pondera que na maioria das Ações Diretas conduzidas por FOpEsp, o contato com o inimigo representa um fator decisivo que pode retardar a operação, comprometendo, por consequência, a aquisição da Superioridade Relativa. 
Segundo o autor, o efetivo reduzido e o emprego de armamento leve, são características que capacitam as unidades militares de elite a agirem com a surpresa e a rapidez necessária para obter a Superioridade Relativa em um curto espaço de tempo. Ambas características, significativamente valiosas quando empregados em engajamentos breves contra tropas regulares, perdem eficiência à medida que a ação se estende. Assim sendo, qualquer vantagem conquistada em virtude de uma ação que explora o princípio da surpresa, tende a ser inutilizada em decorrência do prolongamento das demais fases da operação. Portanto, quanto mais reduzido for o efetivo da FOpEsp engajada, igualmente restritos devem ser os objetivos a serem alcançados, bem como o tempo de duração da operação.
McRaven faz questão de explicar que, em se tratando de OpEsp, a rapidez é uma variável diretamente relacionada ao tempo, e não uma variável sujeita ao ímpeto de defender-se demonstrado pelo inimigo.  Desse modo, independentemente da vontade e dos recursos defensivos do adversário, os incursores têm totais condições de obter a Superioridade Relativa quando a velocidade de suas ações tornam a capacidade de reação do oponente um fator secundário.


Figura 1: Concepção artística reproduzindo o assalto ao Aeroporto Internacional de Entebbe (Uganda) realizado pelos quadros operacionais do Sayeret Matkal visando o resgate de reféns realizado em 4 de julho de 1976 por ocasião da "Operação Thunderbolt". (Fonte: Disponível em: https://i.ytimg.com/vi/h4Tuakl9MPM/hqdefault.jpg Acesso em: 13 jun. 2016).

Propósito – Conforme parecer de McRaven, este princípio se refere à faculdade de compreender qual(is) o(s) principal(is) objetivo(s) da missão, mobilizando esforços para alcança-lo(s) independentemente dos entraves e/ou oportunidades que, eventualmente, venham surgir no decorrer da operação. Para o autor, o propósito tem dois aspectos distintos:
O primeiro aspecto refere-se ao enunciado da missão. Para McRaven a missão em questão deve ser apresentada aos ElmOpEsp (incursores) de modo a expor claramente qual o propósito a ser alcançado. É imperioso que a apresentação contenha elementos que permitam que os ElmOpEsp, individual e coletivamente (independentemente das circunstâncias), compreendam de forma inequívoca qual(is) o(s) objetivo(s) a serem alcançados(s). Sobre esse aspecto, o autor comenta que ordens claramente definidas orientam as ações dos operadores no campo de batalha, direcionando seus esforços para o(s) objetivo(s) essencial(is) da missão.
O segundo aspecto tem um forte viés psicológico (emocional), refletido na capacidade motivacional que conduz ao comprometimento individual dos ElmOpEsp. Nesse sentido, é fundamentalmente importante inspirar os operadores (cientes do propósito da missão) de modo com que sejam tomados por um sentimento de dedicação pessoal que os incita (motiva) a se comprometer de forma determinada com a(s) causa(s) que precipitou(aram) a operação.    

Superioridade Relativa

Gráfico 1: Gráfico representativo referente à Superioridade Relativa. (Fonte: Adaptado de McRaven, 1996, p. 7). 

O eixo X (horizontal) expressa o tempo (apresentado em horas), enquanto o eixo Y (vertical) demonstra a Probabilidade para a Conclusão da Missão. A intersecção dos eixos X e Y representa o Ponto de Vulnerabilidade, que é definido como o ponto no qual a força atacante se depara com a primeira linha defensiva do inimigo. É exatamente nesse ponto que as fricções irão influenciar no resultado do engajamento. O Ponto de Vulnerabilidade é um tanto quanto incerto, e o momento exato de sua manifestação torna-se variável.  McRavem esclarece que apesar das fricções poderem afetar a missão ainda na fase de planejamento, sua definição acerca do Ponto de Vulnerabilidade considera as ações executadas na fase de engajamento.
A Área de Vulnerabilidade, por sua vez, está sujeita à conclusão da missão. Quanto maior for o tempo gasto para obter a Superioridade Relativa, maior será a Área de Vulnerabilidade, e, consequentemente, maior será o impacto causado pelas fricções.
Sobre sua teoria, McRaven enfatiza que embora a guerra apresente fatores sobre os quais se tem pouco controle, os seis princípios por ele evidenciados podem ser controlados e têm efeito direto sobre a conquista da superioridade relativa. 

Referência:

McRaven, William Harry. SPEC OPS: Case studies in Special Operations Warfare: Theory and Practice. New York: Presidio Press, 1996.





sexta-feira, 10 de junho de 2016

Princípios das Operações Especiais: Considerações sobre a Perspectiva de McRaven (Parte 2)

Texto elaborado por Rodney Alfredo Pinto Lisboa.

Segurança – Quando refere-se à segurança, McRaven reporta-se, sobretudo, à capacidade de mobilizar esforços de modo a evitar que as forças inimigas tenham acesso a informações privilegiadas em relação à ofensiva que se pretende executar. Nesse sentido, considerando que o adversário encontra-se em uma posição fortificada que favorece sua ação defensiva (como é o caso de todos os oito casos analisados pelo autor), conhece as possíveis alternativas de resposta da FOpEsp atacante, e busca preparar-se convenientemente para elas, é de fundamental importância que os pormenores do ataque (métodos de ação e vetores de infiltração) sejam mantidos em total e absoluto sigilo, para não comprometer a conquista da Superioridade Relativa oferecendo uma vantagem (acesso à informações sensíveis) ao inimigo. 
Conforme apresentado, ao assegurar a segurança das informações relacionadas à incursão resguarda-se, por consequência, a segurança dos incursores evitando que a força oponente antecipe-se à ofensiva reduzindo substancialmente as possibilidades dos atacantes obterem a Superioridade Relativa.

Fotografia 3: Integrantes do Kommando Friedenthal alemão, liderados pelo Tenente-Coronel Otto Skorzeny (portando binóculos), após resgatarem o ditador italiano Benito Mussolini (trajando sobretudo e chapéu pretos) em decorrência da denominada "Operação Carvalho" realizada em 12 de setembro de 1943. (Fonte: Disponível em: http://www.3squadron.org.au/subpages/sasso.htm Acesso em: 8 jun. 2016). 


Repetição – Para que as OpEsp tenham maior probabilidade de alcançar êxito na consecução de seus intentos, a repetição sistemática dos procedimentos operacionais durante a fase de preparação constitui um fator indispensável. Para justificar essa afirmativa, Mc Ravem explica que a rotina dos adestramentos promove um aperfeiçoamento das habilidades táticas por estimularem a assimilação (memória motora) das técnicas empregadas, fato que favorece no tempo de reação frente à ameaça, conforme cenário padronizado para o qual a unidade encontra-se familiarizada devido ao treinamento (cenários distintos requerem TTP [Táticas, Técnicas e Procedimentos], além de armas e equipamentos, igualmente distintas).
Planejamentos que se mostram adequados na teoria, muitas vezes expõem suas vulnerabilidades quando realizados na prática, fato que potencializa a importância dos treinamentos. metódicos e sistemáticos para uma missão. Conduzir repetitivos ensaios de preparação também reduzem as possibilidades de ocorrer um eventual fracasso em virtude do despreparo individual e/ou coletivo. Historicamente, agentes causadores de falha operacional ocorreram em decorrência de aspectos que não foram ensaiados ou foram pouco explorados nos ensaios de preparação.

Fotografia 4: Dupla de mergulhadores de combate da Xª Flottiglia MAS da Regia Marina italiana montados em um torpedo adaptado (apelidado Maiale "Porco") que lhes servia de transporte. Em 19 de dezembro de 1941, os MECs italianos foram responsáveis pelo ataque a dois navios couraçados britânicos atracados no porto de Alexandria, Egito. (Fonte: Disponível em: http://www.thefewgoodmen.com/thefgmforum/threads/the-maiale-human-torpedoes.12439/ Acesso em: 8 de jun. 2016).

Surpresa – Quando refere-se ao elemento surpresa, McRaven não atribui à esse elemento a definição militar convencional, segundo a qual, ao valerem-se da surpresa, os incursores (intencionalmente) deparam-se com a força inimiga despreparada para se defender do ataque. Em todos os oito casos analisados pelo autor, as forças opositoras encontravam-se em plenas condições de se defenderem convenientemente. McRaven pondera que na maioria dos casos em que as operações são conduzidas valendo-se de métodos de Ação Direta, a incursão da FOpEsp engajada deve ocorrer independentemente das condições defensivas do adversário, esteja ele bem preparado ou não. A surpresa sugerida pelo autor refere-se mais à encontrar o oponente desprevenido que despreparado. Nesse contexto, a surpresa é obtida por artifícios obtidos por ocasião da dissimulação, sincronização e aproveitamento das vulnerabilidades demonstradas pela força inimiga.
A dissimulação, normalmente obtida mediante ação(ões) diversionária(s), desvia a atenção do adversário e/ou retarda sua capacidade de resposta tempo suficiente para que os incursores se aproveitem do elemento surpresa no momento que lhes for oportuno. Entretanto, McRaven alerta para o fato de que a dissimulação constitui um recurso fundamental para que a força atacante conquiste o elemento surpresa, mas as FOpEsp não podem confiar excessivamente nesse artifício. Para o autor, uma OpEsp executada valendo-se da dissimulação para conquistar a surpresa, preferencialmente buscará retardar a atenção do adversário que desviar sua atenção. Assim sendo, definir qual o melhor momento para desencadear a ofensiva é um aspecto crucial que ampliam as probabilidades dos atacantes obterem a surpresa. Embora a escuridão da noite seja a opção óbvia (por oferecer maior cobertura devido às condições de visibilidade, e por pressupor que o adversário esteja menos alerta, mais cansado, e. portanto, em condições mais favoráveis de ser surpreendido), o ataque noturno, devido à previsibilidade, desperta o estado de atenção do inimigo. Assim sendo, várias OpEsp tiveram resultados positivos valendo-se do efeito surpresa em ações efetuadas à luz do dia.
O autor alerta para o fato de que toda defesa, por mais eficiente que seja, apresenta pontos de vulnerabilidade, e cabe aos atacantes identificar e explorar tais vulnerabilidades para obter surpreender o oponente. Por proporcionar uma vantagem decisiva para a força atacante em relação aos defensores, a surpresa é considerada por muitos estudiosos, equivocadamente, como sendo o elemento mais importante de uma OpEsp bem sucedida. Todavia, McRaven pondera que a surpresa mostra-se dependente dos outros cinco princípios, sem os quais torna-se impossível de ser alcançada. O autor questiona: “De que adianta surpreender o inimigo, se não possuímos o equipamento adequado para enfrentá-lo?” A conquista da Superioridade Relativa, crucial para o sucesso de qualquer operação de natureza especial, está sujeita à correta aplicação de todos os seis princípios das OpEsp. Apesar de ser um componente essencial, a surpresa tem relevância apenas quando considerada como parte integrante de um conjunto de princípios interdependentes. 


Fotografia 5: Quadros operacionais dos Commandos britânicos (Commando n° 4). Em 28 de março de 1942, em consequência da "Operação Chariot", membros dos Commandos  atacaram o dique seco de Saint  Nazaire, região da Normandia (França), com o objetivo de destruir diferentes estruturas e maquinário da construção, então ocupada pelos alemães. (Fonte: Disponível em:https://en.wikipedia.org/wiki/St_Nazaire_Raid Acesso em: 8 jun. 2016).

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Informativo FOpEsp, nº 4

Nota de Falecimento

Fotografia 1: Constituída pelo fuzil posicionado com o cano voltado para baixo, pelas nadadeiras (dispostas na base do fuzil), pelo capacete (colocado no topo, sobre a coronha), e pelas plaquetas de identificação (envolvendo a coronha) a "Cruz de batalha" é erigida como símbolo de honra e respeito ao Mergulhador de Combate falecido.

É com imenso pesar que comunico o falecimento do Capitão-de-Fragata Fernando Antonio Rezende Brito, MEC (Mergulhador de Combate nº 148) da Marinha do Brasil, 42 anos, carioca, solteiro, esportista praticante da modalidade de Wingsuit, atividade que desempenhava como componente da equipe de apresentadores da série Abismo exibida pelo canal Off (TV por assinatura). No último sábado (04/06), Brito, como é conhecido, saltou da Pedra da Gávea (Rio de Janeiro) perdendo-se na mata imediatamente após o salto.   

Fotografia 2: Fernando Antonio Rezende Brito (em memória), Mergulhador de Combate nº 148, então ostentando a patente de Capitão-de-Corveta da Marinha do Brasil. 

Militar dedicado e dotado com um espirito aventureiro indomável, o falecimento do CF Brito comoveu-me profundamente. Em 2011, quando ainda desenvolvia um trabalho acadêmico para a obtenção do título de Historiador Militar, trabalho esse que explorava a historiografia do GruMec, foi ele, na condição de Imediato, quem abriu as portas da unidade para mim. Posteriormente, nos encontraríamos inúmeras vezes, estabelecendo um vínculo de amizade e camaradagem próprio das FOpEsp, ele na condição de operador, eu na condição de pesquisador. Os esclarecimentos acerca da atividade operativa que ele tão prontamente me ofertava, farão imensa falta, assim como fará falta a breve e sincera amizade que construímos... Descanse em paz Tubarão!!! FORTUNA AUDACES SEQUITUR!!!



sexta-feira, 3 de junho de 2016

Princípios das Operações Especiais: Considerações sobre a Perspectiva de McRaven (Parte 1)

Texto elaborado por Rodney Alfredo Pinto Lisboa.

O Almirante (Ref°) William Harry McRaven destacou-se na Marinha e na comunidade de Operações Especiais norte-americana como Comandante do JSOC (Comando Conjunto de Operações Especiais [entre junho de 2008 e agosto de 2011]) e do USSOCOM (Comando de Operações Especiais dos EUA [entre agosto de 2011 e agosto de 2014]), em um período conturbado da denominada GWOT (Guerra Global contra o Terrorismo). McRaven foi o responsável pela organização e supervisão da “Operação Lança de Netuno”, conduzida pelo DEVGRU (Grupo de Desenvolvimento de Guerra Especial Naval) entre os dias 1º e 2 de maio de 2011 na cidade paquistanesa de Abbottabad, ação que culminou com a morte de Osama bin Laden, líder da organização terrorista (al-Qaeda) que executou os ataques terroristas ao território norte-americano em 11 de setembro de 2001.

Fotografia 1: Almirante (Ref°) William Harry McRaven no período em que ocupava a posição de Comandante do USSOCOM. (Fonte: Disponível em: http://www.revolvy.com/main/index.php?s=United%20States%20Special%20Operations%20Command&item_type=topic Acesso em: 2 jun. 2016).

Em 1993, quando cursava a NPS (Naval Postgraduate School) ainda ostentando a patente de Commander (equivalente no Brasil à graduação de Capitão-de-Fragata), McRaven elaborou, como tese de mestrado do curso de Assuntos de Segurança Nacional, um dos principais estudos acadêmicos relacionados às OpEsp. A referida investigação, intitulada “The Theory of Special Operations” elencava os seis principais elementos que possibilitam o êxito de uma operação dessa natureza (simplicidade; segurança; repetição; surpresa rapidez; e propósito), alertando para a conquista da “superioridade relativa” (condição na qual a força atacante [numericamente inferior], obtém uma vantagem decisiva sobre uma força adversária [numericamente maior ou bem-fortificada]) como sendo o diferencial para o sucesso das missões levadas a efeito valendo-se de métodos distintos daqueles adotados como padrão pela guerra clássica. Conforme percepção de McRaven, ao serem bem administrados pelas FOpEsp, os princípios por ele ressaltados agem de maneira a restringir a manifestação das “Fricções de Guerra”, conceito proposto pelo General prussiano Carl von Clausewitz (1780-1831) segundo o qual, mesmo considerando todas as conjunções que podem, de uma forma ou outra, influenciar no desenvolvimento de uma campanha, sempre existirão condições imprevistas (denominadas “Fricções”), relacionadas ao azar, incerteza e vontade do inimigo, que se manifestam apenas no decorrer da ação e podem apresentar-se como o fator determinante para o resultado da operação.
Transformado em livro em 1995 (dois anos após ser apresentado na NPS), o texto, então nomeado “SPEC OPS Case Studies in Special Operations Warfare: Theory and Practice”, buscava oferecer os subsídios necessários para embasar a teoria do autor recorrendo a oito eventos militares históricos:

  1. O ataque das tropas paraquedistas alemãs Fallschimajager à fortaleza de Eben Emael (10 de maio de 1940 [Segunda Guerra Mundial]);
  2. A ação dos mergulhadores de combate da Xª MAS italiana contra navios britânicos atracados no porto egípcio de Alexandria (19 de dezembro de 1941 [Segunda Guerra Mundial]);
  3. A operação executada pelos Commandos britânicos com o objetivo de destruir o dique seco francês de Saint Nazaire, então em poder das tropas alemãs (27 de março de 1942 [Segunda Guerra Mundial]);
  4. A operação de resgate do ditador italiano Benito Mussolini, executada pelo Kommando Friedenthal alemão (12 de setembro de 1943 [Segunda Guerra Mundial]);
  5. O assédio dos minissubmarinos britânicos classe X ao navio couraçado alemão Tirpitz (22 de setembro de 1943 [Segunda Guerra Mundial]);
  6. A ofensiva de homens do 6° batalhão Ranger e integrantes dos Alamo-Scouts (ambas unidades norte-americanas) contra o campo de prisioneiros filipino de Cabanatuan (30 de janeiro de 1945 [Segunda Guerra Mundial]);
  7. A ação do 6° e 7° Grupos de Forças Especiais do Exército dos EUA contra o campo norte-vietnamita de prisioneiros de SonTay (21 de novembro de 1970 [Guerra do Vietnã]);
  8. O engajamento do Sayeret Matkal na operação de resgate de reféns realizada em Entebe, Uganda (4 de julho de 1976 [Sequestro do Airbus A300 da Air France que fazia a rota Tel Aviv-Paris]). 

Conforme é possível observar, todos os oito eventos abordados por McRaven para justificar sua teoria são operações que valeram-se de métodos de Ação Direta, quando as unidades engajadas entram em combate com as tropas inimigas para alcançar seus objetivos de interesse. Os métodos de Ação Indireta, executados pelos ElmOpEsp de modo a alcançar seu intento sem a necessidade de travar contato com o adversário, foram propositalmente desconsiderados no escopo do texto, uma vez que o autor teve que redefinir o conceito de Operações  Especiais (restringindo-as às práticas de Ação Direta) para elaborar sua teoria.  

Imagem 1: Capa do livro publicado em 1995 pela editora Presidio Press. A editora publicou a tese que McRaven havia defendido dois anos antes na NPS como requisito do curso de Assuntos de Segurança Nacional. (Fonte: Disponível em; http://www.goodreads.com/book/show/797049.Spec_Ops Acesso em: 2 jun. 2016). 

Para efeito de contextualização, estabelecemos um compêndio das idéias fundamentais de McRaven em relação aos seis princípios por ele realçados:

SimplicidadeEspecificamente em relação à simplicidade, McRaven pondera que tal predicado deve ser observado, sobretudo, na fase de planejamento, com o intuito de tornar a execução da ação a mais simples possível. Tencionando fornecer aporte para assegurar que tal qualidade seja alcançada, o autor aponta três elementos essenciais:
  • Limitação do número de objetivos – É imperioso limitar o número de objetivos táticos àqueles que têm fundamental importância, pois ao proceder dessa forma o adestramento é orientado, o efetivo necessário ao engajamento é reduzido, e o tempo de ação é encurtado.
  • Inteligência – Refere-se à capacidade de discernir e projetar a ação reduzindo os fatores desconhecidos e o número de variáveis a serem consideradas. Nesse sentido, o planejamento deve estar alicerçado em aspectos minimamente previsíveis, uma vez que os dados fornecidos pela inteligência em muitos casos se mostram dúbios.
  • Criatividade – Manifestada normalmente no aparato tecnológico utilizado e/ou no emprego de táticas inovadoras, refere-se ao atributo que ajuda a simplificar o planejamento, uma vez que pode suprimir ou amortizar eventuais entraves que poderiam, de uma forma ou outra, comprometer no desdobramento da operação. 


quinta-feira, 2 de junho de 2016

Informativo FOpEsp, nº 3

Convite


Figura 1: VIRIBUS UNITIS, Aquarela de Carlos Kirovsky. (O SMS Viribus Unitis, couraçado classe Tegetthoff da frota autro-húngara, foi afundado em novembro de 1918 por mergulhadores de combate da Regia Marina [Marinha italiana]).

Informo a todos os seguidores do blog "FOpEsp: Forças de Operações Especiais', que a partir do próximo dia 4 de junho (estendendo-se até o dia 26 do mesmo mês) ocorrerá a vernissage denominada "Caminhos & Mares". Carlos Kirovsky (desenhos e pinturas) e André Silveira (maquetes), participam da mostra de arte naval que reúne vários de seus trabalhos retratando embarcações de diferentes períodos históricos. O evento ocorrerá diariamente das 09:00 às 18:00hs no Parque de Exposição Itaipava, Estrada União Indústria, 10.000, em Itaipava, Petrópolis-RJ. Com qualidade de trabalho ímpar, ambos artistas abordam temas alusivos às OpEsp, motivo que os tornaram parceiros deste blog, e nos faz recomendar seu talento para àqueles que militam ou se identificam com o universo que cerca as OpEsp.

Figura 2: Banner de apresentação da mostra de arte naval "Caminhos & Mares" apresentando trabalhos dos artistas Carlos Kirovsky e  André Silveira.