sábado, 30 de julho de 2016

A Cultura das Operações Especiais Expressa no Simbolismo da “Caveira”

Texto elaborado por Rodney Alfredo Pinto Lisboa com base no artigo escrito originalmente por Onivan Elias de Oliveira, Tenente Coronel da Polícia Militar da Paraíba e primeiro Comandante do GET (Grupo Especial Tático).

Fotografia 1: Integrantes do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais) do Rio de Janeiro realizam operação de combate ao tráfico de drogas no complexo de favelas da Rocinha, Rio de Janeiro. (Fonte: Disponível em: http://exame.abril.com.br/topicos/bope Acesso em: 28 jul. 2016).

A semiótica (ciência destinada à promover o estudo dos símbolos) atribui à caveira uma diversidade de significados, sendo o mais usual àquele que se refere à mudança ou transformação, representando o caráter transitório da vida (mortalidade). Por estar associada à morte, várias culturas, por temerem-na em virtude de aludir à ideia de finitude, atribuem à caveira representações inerentes ao perigo, destruição, extermínio ou óbito. 
O estereótipo de perigo e morte sugerido pelo simbolismo da caveira foi muito bem empregado pelos piratas, que entre os séculos XVI e XVIII promoviam saques e pilhagens à embarcações e cidades costeiras em busca de riqueza e poder. Embora existam diferentes variações de bandeiras representativas da atividade pirata, àquela que mais se destaca é a bandeira denominada Jolly Roger (caveira posicionada acima de dois ossos sobrepostos cruzados em fundo negro). O motivo que os levava a ostentar esse símbolo tremulando sobre os mastros de suas embarcações era incutir em suas vítimas a sensação de medo motivado pela noção de ameaça e crueldade. 
Embora a utilização da caveira como símbolo das unidades militares de elite possa ser observada, sobretudo, nos uniformes trajados pelas Divisões Totenkopf (Crânio da Morte) da Waffen SS (unidade de elite do Partido Nazista alemão) durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), essa representação simbólica já havia sido envergada na Prússia (integrada ao Império Alemão em 1871) pelo Regimento Hussardo de Cavalaria durante o reinado de Frederico II (Frederico, o Grande) entre 1740-1786.  

Fotografia 2: Oficial (Segundo Tenente) das Divisões Totenkopf trajando a insígnia da caveira na gola direita da túnica do fardamento e na banda do quepe. (Fonte: Disponível em: http://derwulf.tumblr.com/ Acesso em: 28 jul. 2016).

Em 1944, na iminência da derrota alemã em território francês, as tropas aliadas avançavam sobre os soldados nazistas que, sem alternativa, tentavam retornar para a Alemanha. Particularmente as Waffen-SS, devido às atrocidades cometidas no decorrer da guerra, tornaram-se o alvo preferencial dos Commandos franceses (tropa formada por voluntários da Marinha, Fuzileiros Navais e Exército organizados conforme modelo britânico). Nesse contexto, quando assediavam um quartel da tropa de elite nazista, um operador Commando se deparou com a mesa de um oficial alemão, na qual havia uma caveira que lhe servia de adereço. Sem hesitar, o operador sacou sua adaga de combate Fairbairn-Sykes cravando a lâmina delgada no ornamento como símbolo da vitória sobre as tropas que causavam à morte. Essa passagem, sem qualquer evidência histórica, baliza o início do mito, transmitido por tradição oral, da “Faca na Caveira”.
No Guerra do Vietnã (1955-1975), o símbolo da caveira foi utilizado juntamente com o ás de espadas (carta de maior valor entre os naipes do baralho) na condução de guerra psicológica empreendida contra os soldados norte-vietnamitas. Valendo-se da superstição característica da região, as tropas norte-americanas tinham o hábito de posicionar o ás de espadas sobre os corpos dos inimigos como uma representação da morte. No decorrer o conflito, o SOG-MACV (Grupo de Operações Especiais-Comando Militar de Auxílio ao Vietnã), unidade do Exército dos EUA responsável por conduzir Ações Indiretas no Vietnã do Norte, Laos e Camboja, assumiu a caveira como símbolo. 

Figura 1: O personagem "Justiceiro" da editora Marvel Comics representado pela arte do quadrinista Jim Lee. A imagem da caveira estampada no peito do personagem foi adotada pelo SEAL Team 3 durante a GWOT (Guerra Global contra o Terror) conduzida no Iraque entre 2003 e 2011. (Fonte: Disponível em: http://www.cheatsheet.com/entertainment/marvel-the-punisher-netflix.html/?a=viewall Acesso em: 28 jul. 2016).


A Guerra do Vietnã serviu como fonte de inspiração para a cultura das histórias em quadrinhos estadunidense, explorando a simbologia da caveira em favor de um personagem controverso. Criado em 1974 por Gerry Conway (roteirista), John Romita Sr.(desenhista) e Stan Lee (editor), o "Justiceiro" (Punisher) era um veterano do Vietnã, ex-integrante da Marine Force Reconnaissance (Força de Reconhecimento dos Fuzileiros Navais), que motivado pelo brutal assassinato de sua esposa e filhos durante um tiroteio entre grupos mafiosos rivais, torna-se um vigilante que lança mão de suas habilidades singulares para desencadear uma guerra violenta contra o crime. Como símbolo de sua empreitada, Frank Castle (Justiceiro) adotou um uniforme predominantemente negro, com uma enorme caveira estampando-lhe o peito, em referência à justiça representada por ele por ocasião das mortes que causa. O personagem tornou-se tão popular entre as FOpEsp norte-americanas, que o SEAL Team 3 da Marinha adotou a caveira, ostentada em uniformes e veículos (Humvees), como símbolo informal da unidade, conforme enfatizado no livro "Sniper Americano" escrito pelo ex-operador Chris Kyle, considerado o atirador de precisão mais letal da história militar dos EUA.

Figura 2: Emblemas de algumas tropas especiais brasileiras que utilizam-se da simbologia da caveira. Partindo da esquerda para a direita e de cima para baixo: insígnia da Ação de Comandos (Exército); brevê do ComAnf (Fuzileiros Navais); distintivo do BOPE (PMMT); distintivo do GATE (PMPB); distintivo do BOPE (PMRJ); Curso OpEsp (PMMG); distintivo do BOPE (PMPI). (Fonte: Elaborado pelo autor). 

No Brasil, a tradição de empregar a caveira como símbolo de unidades e/ou atividades militares remonta a década de 1960, quando o Exército Brasileiro, adequando-se à conjuntura internacional, constituiu, em 1968, o Destacamento de Ação de Comandos, então subordinado à Companhia de Forças Especiais da Brigada de Infantaria Paraquedista. Na esteira dessa tendência, o Batalhão de Operações Especiais de Fuzileiros Navais (Batalhão Tonelero), criado em setembro de 1971, adotou a caveira no brevê de identificação que caracteriza a atividade dos ComAnf (Comandos Anfíbios). Por sua vez, algumas tropas especiais das Forças de Segurança Pública nacionais (consideradas como Forças Auxiliares das FFAA [Forças Armadas]), incorporaram a caveira em suas representações simbólicas como artifício que lhes confere a sensação de pertencer a uma sociedade (OpEsp) que é reconhecida pelas habilidades que fogem aos padrões de convencionalidade, respeitada por possuir um ethos próprio, reverenciada pela excelência na execução das exigentes tarefas que lhes são destinadas.




terça-feira, 26 de julho de 2016

Comando Conjunto de Operações Especiais: Adequando as Forças Armadas Brasileiras ao Cenário dos Conflitos Contemporâneos

Texto elaborado por Rodney Alfredo Pinto Lisboa.

Fotografia 1: Quadros operacionais do 1° BFEsp (1° Batalhão de Forças Especiais) do Exército Brasileiro executam exercício de tiro com armamento de Backup juntamente com operadores do 3º Batalhão do 7º SFG(A) (7º Grupo de Forças Especiais [Aerotransportado]) do Exército dos EUA na sede do COpEsp (Comando de Operações Especiais) em Goiânia-GO. (Fonte: Acervo do COpEsp).

Em abril de 1980, os rigores do deserto impuseram uma série de transtornos aos helicópteros RH-53 Sea Stallion que transportavam os quadros operacionais do 1st SFOD-D (1° Destacamento Operacional de Forças Especiais-Delta (Delta Force]), forçando o cancelamento da operação de resgate de 53 reféns norte-americanos capturados pela Guarda Revolucionária Iraniana (leal ao Aiatolá Khomeini [líder da Revolução Iraniana de 1979]) e mantidos em cativeiro na embaixada dos EUA em Teerã, capital do Irã. O fracasso da denominada “Operação Eagle Claw”, motivado principalmente por ocasião da inépcia na condução de C2 (Comando e Controle), bem como na coordenação interagências, forçou o governo estadunidense a reestruturar suas FOpEsp (Forças de Operações Especiais), que desde a conclusão da Guerra do Vietnã (1955-1975) vivenciavam um período de forte declínio. Esta decisão acabaria por dar origem ao USSOCOM (Comando de Operações Especiais dos EUA), organismo criado em 16 de abril de 1987 como um CmdoCjOpEsp (Comando Conjunto de Operações Especiais), responsável por gerenciar, no nível do DOD (Departamento de Defesa), as FOpEsp vinculadas às FFAA (Forças Armadas) daquele país. Na esteira desta iniciativa, cada uma das FFAA norte-americanas optou por estabelecer CmdoSgOpEsp (Comandos Singulares de Operações Especiais) subordinados ao USSOCOM (A Marinha, o Exército e a Força Aérea instituíram seus CmdoSgOpEsp ainda na década de 1980, enquanto os Fuzileiros Navais [Marines] somente tomaram essa iniciativa em 2005).
A realidade do cenário de enfrentamento internacional contemporâneo, balizado por um amálgama de ameaças clássicas (estatais) e novas ameaças (não estatais), proporcionam às OpEsp (Operações Especiais), em virtude de sua especificidade (são extremamente bem preparadas, a relação custo-benefício é satisfatória (oferecem resposta de baixa intensidade, com custos reduzidos [quando comparadas às tropas convencionais] e danos colaterais minorados), uma possibilidade de projeção histórica até então inédita, uma vez que nações como Reino Unido, França, Canadá e Austrália, seguindo a tendência norte-americana, também optaram por instituir CmdoCjOpEsp devidamente ajustados às particularidades e necessidades das estruturas de Defesa de cada Estado. 
Assim como ocorre com qualquer país em desenvolvimento, o Brasil possui inúmeros desafios a superar tanto em âmbito doméstico quanto externo. Nesse sentido, cabe ao Estado brasileiro a tarefa de criar mecanismos que permitam desenvolver a capacidade de reagir positivamente aos desafios de sua ascensão. Portanto, promover o incremento constante de sua política e estratégia de Defesa, de modo a permitir que o país disponha da capacidade necessária para enfrentar adversários diversos que muitas vezes operam de maneira difusa, é apenas um entre os múltiplos desafios que se impõem para que o Brasil possa respaldar a soberania de suas decisões atuando de forma mundialmente mais destacada.
No que concerne à organização de suas FOpEsp, o Brasil tem apresentado avanços, com a instituição do COpEsp (Comando de Operações Especiais [criado em 2002 como Brigada de Operações Especiais) na estrutura organizacional do Exército, e a constituição, mesmo que em caráter temporário, de uma FCjOpEsp (Força Conjunta de Operações Especiais), subordinada a um CTOp (Comando do Teatro de Operações) ou a um Comando Operacional designado para a realização de ações específicas, como nos esquemas de segurança dos grandes eventos ocorridos em território nacional. Embora a percepção em relação ao emprego das OpEsp tenha progredido, a evolução não se mostra suficiente para garantir uma integração duradoura que permita com que as FOpEsp brasileiras operem valendo-se do conceito exato do termo “interoperabilidade”, pois atuam conjuntamente em situações esporádicas.

Fotografia 2: EqMEC (Equipe de Mergulhadores de Combate) posicionada de maneira a prover a guarnição de perímetro em ambiente de selva. (Fonte: Acervo do GruMec).

Os desafios impostos ao Brasil no que se refere à complexidade dos cenários relacionados às suas áreas e assuntos de interesse, requer que as FFAA nacionais tenham organização, versatilidade e flexibilidade para confrontar de forma coordenada ameaças convencionais e não convencionais. Englobadas nesse contexto, as FOpEsp das três Forças Singulares devem contribuir ininterruptamente para essa demanda, valendo-se se suas habilidades ímpares no desempenho de tarefas que lhes são intrínsecas e lhes atribuem identidade. Contudo, falta-lhes uma estrutura integradora permanente que lhes possibilite trabalhar de modo a promover a interação de potencialidades com vias ao emprego conjunto seja em tempos de guerra, crise, ou em períodos de paz. Podendo ser concretizado em um CmdoCjOpEsp (com ou sem forças adjudicadas [opção que demanda uma análise extremamente criteriosa e em conformidade com a realidade brasileira]), instituído na estrutura organizacional do MD (Ministério da Defesa), a criação de um órgão dessa natureza não apenas promoveria o aprimoramento das FOpEsp, como também produziria efeitos substanciais na forma como os decisores pensam projetar o emprego (em todos os níveis de conduta da guerra/conflito [político; estratégico; operacional; tático]) das OpEsp.
Pensando de forma integradora, é significativamente importante que a Marinha e a Força Aérea, estejam propensas a promover mudanças conceituais e organizacionais expressivas, de modo a considerar o emprego das OpEsp como uma importante alternativa estratégica, e como consequência dessa filosofia de emprego possam formalizar a concepção de CmdoSgOpEsp diretamente subordinados aos respectivos Comandos Operacionais.
Para que sejam instituídas estruturas de Comando que sejam capazes de organizar e integrar as unidades de elite a elas vinculadas, é imprescindível que a sociedade castrense brasileira, assim como ocorreu com a comunidade militar dos países citados anteriomenter, compreenda as características contemporâneas do conflito, cujas ameaças, diferente do perfil predominantemente estatal (militar) do passado, não se restringem ao modelo clássico da Guerra de Atrito, conduzida por tropas convencionais de Estados adversários que se confrontam (respeitando as Leis da Guerra e a Convenção de Genebra) em espaços geográficos previsíveis, a fim de reduzir a eficiência de combate do inimigo (destruição dos meios físicos [humanos e materiais] do oponente).
Seria valioso para o desenvolvimento de uma consciência nacional voltada para o emprego de FOpEsp, que as autoridades brasileiras (civis e militares) compreendessem como as FOpEsp estrangeiras encontram-se estruturadas, visando erigir, mediante aprofundamento teórico, uma filosofia autóctone compatível com um pensamento estratégico, que após ser revisto, prestigie o engajamento das tropas especiais como alternativa apropriada para lidar com situações de natureza não convencional em todos os níveis de condução da guerra/conflito.





sexta-feira, 22 de julho de 2016

Planejamento Operacional: Estabelecendo as Diretrizes para a Condução das Operações Especiais

Texto elaborado por Rodney Alfredo Pinto Lisboa.


Fotografia 1: Durante uma patrulha, quadros operacionais do KSK (Kommando Spezialkrafte) alemão executam uma parada temporária para observação e escuta. (Fonte: Disponível em: https://br.pinterest.com/akme00/si%C5%82y-specjalne/ Acesso em: 20 jul 2016).

A história nos apresenta inúmeros exemplos de unidades militares de elite que obtiveram sucesso na condução da modalidade de guerra assimétrica, na qual tropas de pequeno efetivo (extremamente bem preparadas e equipadas) subjugaram contingentes inimigos numericamente superiores e com maior poder de fogo. Por ocasião de suas capacidades singulares e elevado nível de aprestamento, as FOpEsp são capazes de executar missões altamente complexas com maior desenvoltura que as unidades regulares. Entretanto, as habilidades ímpares, o treinamento diferenciado e constante, bem como o aparato tecnológico no “estado da arte” (mais alto nível de aprimoramento), têm pouca utilidade sem que haja um planejamento prévio e coerente que norteie a condução da missão que se pretende realizar.
Especificamente, para o Ministério da Defesa (2015, p. 206) o planejamento constitui: 


Ato ou efeito de idealizar e fixar, com maior ou menor grau de detalhes, a ação, operação ou atividade a ser realizada, por meio da determinação e ordenação de um conjunto de ações que permitem atingir certo objetivo. Compreende a identificação: do que; de quando; de como deve ser feito; e de quem deve fazê-lo.

Devido à complexidade das ações relacionadas às OpEsp, muitas delas sendo de grande criticidade para o Estado que as patrocina, as missões nas quais se envolvem demandam de intenso e meticuloso planejamento, o qual requer, considerando as especificidades da operação (natureza Direta ou Indireta), informações específicas e confiáveis acerca: das particularidades do terreno; das condições climáticas; do potencial de combate das forças inimigas; das características político-econômicas e socioculturais da região compreendida pela AO (Área de Operações), entre outros aspectos. Esses dados são imprescindíveis para que seja realizado um estudo no qual serão identificadas condições (coordenar C2 [Comando e Controle]; identificar a necessidade de moldar o ambiente operacional; estabelecer requisitos para garantir a segurança da operação; determinar a presença de tropas amigas e/ou forças de apoio; selecionar métodos de treinamento [o treinamento constitui parte significativamente importante da fase de planejamento]; escolher procedimentos de infiltração/exfiltração; promover a triagem de equipamentos apropriados; definir regras de engajamento a serem adotadas; organizar o suporte logístico e apoio de fogo; etc.) que orientem na elaboração de um planejamento ajustado à realidade.
Assim como um planejamento bem estruturado fornece elementos que contribuem para o desfecho favorável da operação, planejamentos inadequados e/ou realizados às pressas (negligenciando ou desconsiderando variáveis inerentes à missão em questão) têm grande probabilidade de redundar em fracasso. Apenas para citar como exemplo, em 1983 o desempenho do 1st SFOD-D (1° Destacamento Operacional de Forças Especiais-Delta [Força Delta]) por ocasião da “Operação Urgent Fury” (invasão da ilha de Granada em por tropas internacionais lideradas pelos EUA em resposta a um golpe de estado) foi comprometido, sobretudo, em virtude da falta de planejamento. Os operadores da Força Delta responsáveis por liberar prisioneiros políticos retidos na prisão de Richmond Hill se depararam com uma série de problemas de toda ordem (ignorados na fase de planejamento), que devido aos entraves criados, acabaram levando ao cancelamento da missão.   

Fotografia 2: Destacamento operacional do MARSOC (Marine Corps Special Operations Command [Comando de Operações Especiais dos Fuzileiros Navais dos EUA]) executa ajustes no planejamento de preparação para um engajamento. (Fonte: Disponível em: http://www.oakgrovesoftware.com/portfolio/marine-special-operations-command-marsoc-fairfield-utah Acesso em: 20 jul. 2016). 

Embora não assegure a consecução dos objetivos estabelecidos, um planejamento bem elaborado, desenvolvido e executado potencializará as chances da operação ter sucesso. A fase de planejamento antecede qualquer engajamento, mesmo àqueles que não se distinguem pelo alto grau de sensibilidade (pois ao se tornarem público podem comprometer o Estado que o patrocina), ou requerem preparações extremamente complexas. O planejamento, normalmente, exige um longo processo de estudo, que dependendo dos requisitos exigidos, pode se estender por vários dias. No decorrer desse processo, todos os pormenores relacionados à missão devem ser considerados e sua viabilidade analisada. Todavia, o resultado desse estudo deve ser traduzido, não em informações demasiadamente detalhadas que restringem possibilidades de mudança e limitam a capacidade de decisão in loco, mas em um conjunto relativamente simples de instruções, a serem transmitidas de forma clara e objetiva para todos os membros do destacamento que participará da operação. É imprescindível que todos os membros do destacamento compreendam exatamente como, quando e onde devem agir, estabelecendo, em caso de necessidade de confronto, sua superioridade em relação ao inimigo.
Devido à valorizada capacidade de avaliarem criticamente as situações que lhes são apresentadas, os quadros operacionais das FOpEsp, independente da patente que ostentam, são incitados a participar dos planejamentos com liberdade de julgamento (opinião), uma vez que a percepção individual dos ElmOpEsp (Elementos de Operações Especiais), devido à expertise, representa um ativo que pesa favoravelmente na definição do plano de ação a ser adotado. 

Referência:

BRASIL, Ministério da Defesa. Glossário das Forças Armadas. MD35-G-01, 5. ed. Brasília: Ministério da Defesa, 2015. 




segunda-feira, 18 de julho de 2016

A Busca pela Efetividade: Fatores que Contribuem para o Sucesso das Operações Especiais

Texto elaborado por Rodney Alfredo Pinto Lisboa com base no artigo escrito originalmente por Colin S. Gray, professor de Relações Internacionais e Estudos Estratégicos da Universidade de Reading no Reino Unido. (Disponível em: http://strategicstudiesinstitute.army.mil/pubs/parameters/Articles/99spring/gray.htm Acesso em: 15 jul. 2016). 



Fotografia 1: Dupla de MECs (Mergulhadores de Combate) da Marinha do Brasil em procedimento de incursão em ambiente ribeirinho. (Fonte: Acervo do GruMec).

Talvez a citação que mais tenha capturado a essência do emprego estratégico das OpEsp (Operações Especiais) tenha sido proferida entre os séculos XIII e XIV por Yasotay, senhor da guerra mongol que percorreu os territórios da Ásia com o objetivo de conquistá-los na tentativa de expandir seus domínios. Nas palavras de Yasotay:

"Quando a hora da crise surge, lembre-se que quarenta homens selecionados podem abalar o mundo."

Quando considerada pela perspectiva estratégica, o emprego de FOpEsp (Forças de Operações Especiais) demonstra seu valor, principalmente, no que se refere à economia de força e ao alargamento da escolha estratégica. Quando os estrategistas optam por realizar uma OpEsp, um dos fatores que pesam à favor das tropas especiais é a relação custo-benefício, ou seja, ao lançar mão das capacidades singulares das unidades de elite os índices de investimento (reduzido quando comparado aos recursos disponibilizados para as tropas convencionais) são compensados pela probabilidade de retorno favorável, dada a confiança depositada na precisão das ações realizadas pelos ElmOpEsp (Elementos de Operações Especiais).
Ainda que seja desejável determinar a série de fatores que contribuem para o sucesso das OpEsp, a tarefa de estabelecer uma ordenação torna-se por demais complexa, uma vez que, valendo-se de eventos históricos para nortear uma eventual classificação, a grande diversidade de ocorrências levadas a efeito como uma OpEsp torna esse empreendimento demasiadamente complexo, podendo não especificar as condições que asseguram o sucesso nem identificar as circunstâncias que levaram ao fracasso.  Devido à enorme diversidade de resultados estratégicos possíveis (variáveis conforme o caso), formular uma definição universal de sucesso constitui atividade complexa e pouco confiável, pois pode desconsiderar ou avaliar equivocadamente algumas situações específicas. Assim, as condições que apontam para o sucesso de uma OpEsp originam-se a partir de fatores históricos que alcançaram efeito(s) estratégico(s) significativo(s).
Para as FOpEsp engajadas em uma determinada operação, o desempenho delas exigido se altera conforme o nível de competência demonstrada pela força inimiga, assim como a oportunidade de obter vantagem estratégica depende das oportunidades que são apresentadas pelo adversário. Nesse contexto é crucial considerar que todos os oponentes têm vulnerabilidades, alguns são mais vulneráveis que outros, mas nem todas as vulnerabilidades se prestam à exploração útil.Em geral, as OpEsp tendem a contrariar os padrões convencionais que definem as condições ideias para se alcançar o sucesso em uma campanha militar. Contrapondo as probabilidades, as OpEsp podem obter sucesso mesmo quando as condições supostamente ideais não se manifestam. 


Fotografia 2: Quadros operacionais do GERR/MEC (Grupo Especial de Retomada e Resgate do GruMec) executam procedimento de varredura interna no convés de um navio abordado. (Fonte: Acervo do GruMec).
Embora seja extremamente significativa para fornecer dados visando operações futuras, a contextualização histórica deve levar em conta as particularidades das ações analisadas de modo a identificar, conforme os estudos de caso, o quão grande ou limitada pode ser a utilidade estratégica relacionada às OpEsp. Assim, tomando por referência contextos históricos específicos, as condições para se obter sucesso nas ações conduzidas como OpEsp foram reunidas em onze categorias distintas:

1. Política (Policy [conjunto de princípios que orientam as decisões]):
  • As OpEsp precisam adequar-se às demandas políticas distintas de cada época;
  • As FOpEsp necessitam operar como tropas de precisão, restringindo sua disponibilidade para atuar como uma alternativa às ações militares convencionais.

2. Política (Politics [atividades teóricas e práticas de governo]):
  • As condições sócio-culturais devem favorecer às OpEsp de modo que permitam o desenvolvimento de uma estrutura política e estratégica que favoreçam o emprego de unidades de elite;
  • Tanto a comunidade política quanto a comunidade militar devem ter consciência das características inerentes às OpEsp, bem como dos efeitos que ações dessa ordem podem produzir;
  • A OpEsp a ser realizada, necessariamente, deve ter legitimidade politica;
  • A mensagem (propaganda) política transmitida pelas OpEsp deve ser atrativa a ponto de angariar adeptos locais (nativos e/ou residentes das regiões onde ocorre a operação) que sejam simpáticos à iniciativa de leva-la à efeito;
  • Sempre que possível, as OpEsp SOF devem se beneficiar de uma mensagem política transmitida ao inimigo no intuito de promover uma mudança de comportamento;
  • As OpEsp, necessariamente, carecem de apoio fornecido por forças militares regulares.

3. Objetivos Factíveis:
  • As ações a serem realizadas, bem como os objetos a serem conquistados, devem respeitar as especificidades de cada FOpEsp;
  • As OpEsp devem ser realizadas no momento oportuno, pois o tempo (considerado como fator crucial em qualquer ação militar), quando mal administrado, pode afetar negativamente a viabilidade tática e o mérito estratégico;
  • As OpEsp devem ser empregadas criteriosamente, evitando expectativas irreais criadas por patrocinadores políticos;
  • Tomadores de decisão devem consultar especialistas de operações especiais antes de decidir sobre missões.

4. Estratégias:
  • O Alto Comando que gerencia as campanhas militares deve ter mentalidade estratégica capaz de saber empregar as potencialidades das FOpEsp para delas tirar proveito em todos os níveis de conduta da guerra.conflito;
  • As OpEsp devem ser capazes de operar em um contexto estratégico de apoio, sobretudo, quando as forças regulares precisam de assistência;
  • O quadro político-militar deve ser favorável quando da necessidade das FOpEsp serem empregadas;
  • A estratégia adotada para uma guerra/conflito deve mostrar-se estável e coerente para que as OpEsp possam agir de maneira a contribuir positivamente para a consecução dos objetivos estabelecidos.

5. Flexibilidade de Ideias:
  • As FOpEsp devem ter capacidade para apoiar as operações militares regulares, bem como para operar de forma independente;
  • O resultado bem sucedido de ações não convencionais pode requer atitudes inovadoras que fogem aos padrões doutrinários (convencionais) para solucionar os problemas que se apresentam. Nesse sentido, a guerra irregular, necessariamente, deve ser conduzida com uma mentalidade que foge aos modelos tradicionais de enfrentamento;
  • Como elemento crítico o sucesso tático das OpEsp, o “elemento surpresa” também pode definir sua utilidade estratégica. Entretanto, as FOpEsp devem esforçar-se ao máximo para alcançar a surpresa tática, pois a surpresa operacional e estratégica muitas vezes mostra-se inatingível, uma vez que as unidades de elite não podem se dar ao luxo de atacar o inimigo quando ou onde ele mostra-se despreparado.

6. Ausência de Alternativas:
  • As OpEsp devem prosperar quando as operações convencionais mostram-se inviáveis por fatores políticos, por motivos econômicos, ou quando o engajamento de tropas regulares é considerado inadequado;
  • Os conflitos de natureza irregular favorecem o engajamento de FOpEsp em virtude de sua especificidade;
  • As OpEsp são empregadas em um contexto estratégico no qual as opções convencionais tendem a diminuir.  

7. Vulnerabilidades do Inimigo:
  • As OpEsp requerem um inimigo com vulnerabilidades capazes de serem exploradas;
  • A incapacidade do inimigo de aprender com os erros e/ou reduzir suas vulnerabilidades beneficiam as OpEsp;
  • A capacidade de transformar força em fraqueza traz benefícios para as OpEsp. Nesse sentido, o nível de desenvolvimento econômico, social e político de um país têm influência significativa sobre sua vulnerabilidade, podendo as FOpEsp explorar ações de todos os tipos (incluindo guerra política e/ou psicológica);
  • A rejeição da população a um governo opressor pode ser explorada pelas OpEsp;
  • Operar em áreas dispostas na retaguarda do inimigo cria possibilidades para que as OpEsp possam atuar no intuito de minar as capacidades de combate adversárias e/ou recuperar territórios ocupados.

8. Recursos Tecnológicos:
  • As FOpEsp valem-se dos constantes avanços tecnológicos para conquistar vantagens significativas em relação às capacidades do inimigo.

9. Competência Tática:
  • Apenas FOpEsp com habilidade em áreas específicas devem realizar OpEsp que demandam dessa especificidade;
  • As OpEsp requerem um estudo intensivo e abrangente de seus alvos;
  • Os recursos humano e material inerentes às FOpEsp, obrigatoriamente, exigem elevado padrão de eficiência no desempenho de suas funções;
  • Para que as OpEsp possam ocorrer de forma satisfatória, as OpEsp exigem apurada coordenação com operações militares convencionais ou com as atividades policiais.

10. Reputação:
  • As OpEsp devem ter poder dissuasório, representado pela mensagem de credibilidade (habilidade tática acrescida de vontade política para o gerenciamento das tropas especiais) que as FOpEsp de um Estado transmitem junto ao cenário internacional. A reputação de eficiência tática das unidades de elite e a predisposição política de emprega-las maximiza os efeitos da dissuasão.

11. História:
  • Os eventos envolvendo OpEsp precisam ser estudados como parte integrante da história estratégica do conflito e da guerra;
  • As OpEsp requerem que os historiadores tenham pensamento estratégico, uma vez que tais ações são de natureza sigilosa e não aparecem nos textos relacionados à História Militar. As OpEsp carecem de literatura que não se resumam às narrativas operacionais, mas que explorem  o valor estratégico das ações não convencionais. 





quarta-feira, 13 de julho de 2016

Informativo FOpEsp, nº 6

Concessão de Título

Fotografia 1: Prof. Ms. Rodney Alfredo Pinto Lisboa com o distintivo de Submarinista Honorário outorgado pelo Comando da ForS. (Fonte: Acervo de Rodney Alfredo Pinto Lisboa).

É com grande satisfação e orgulho que informamos a todos os nossos leitores e seguidores, que o editor do blog FOpEsp (Forças de Operações Especiais), Prof. Ms. Rodney Alfredo Pinto Lisboa (que é MEC [Mergulhador de Combate] Honorário), foi agraciado com o título de "Submarinista Honorário", concedido pelo Comando da ForS (Força de Submarinos) da Marinha do Brasil em reconhecimento à dedicação e significativa contribuição ao GruMec (Grupamento de Mergulhadores de Combate). A cerimônia de concessão, concomitante à celebração alusiva aos 102 anos da ForS, ocorreu na manhã deste dia 13 de julho na BACS (Base Almirante Castro e Silva), localizada na Ilha de Mocanguê Grande, Niterói-RJ. O título outorgado na manhã de hoje motiva e reforça o compromisso assumido pelo agraciado de trabalhar em favor das unidades de elite de modo a projetar as OpEsp (militares e policiais) brasileiras. 

Fotografia 2: Prof. Ms. Rodney Alfredo Pinto Lisboa recebendo os cumprimentos do Almirante-de-Esquadra Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Junior, Secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação da Marinha. (Fonte: Acervo de Rodney Alfredo Pinto Lisboa).




sexta-feira, 8 de julho de 2016

10ª Flottiglia MAS: Vanguarda nas Ações de Sabotagem Mergulhada

Adaptação de artigo publicado por Rodney Alfredo Pinto Lisboa na Revista Marítima Brasileira, v. 135, n. 01/03, jan./mar. 2015, p. 154-166.


Fotografia 1: SLC sendo içado para o convés de uma embarcação de superfície. (Fonte: Disponível em:http://www.hisutton.com/Panerai%20watch%20advert%20with%20great%20SLC%20Maiale%20footage.html Acesso em: 7 jul. 2016). 

Embora figure como pioneira na condução de OpEsp abaixo do nível das ondas, a Regia Marina (denominação utilizada pela Marinha Italiana durante o chamado Reino da Itália [1861-1946]), que no crepúsculo da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) perpetrou um ataque contra o encouraçado SMS Viribus Unitis e a Fragata SMS Wien, navios da frota austro-húngara atracados no porto de Pula (Croácia), destaca-se, principalmente, pela série de ações inovadoras e sistemáticas levadas à efeito pela Xª MAS (Xª Flotilha de Meios de Assalto) no curso da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A iniciativa de investir contra embarcações atracadas em portos ocupados por forças Aliadas no Mar Mediterrâneo surgiu por ocasião do resultado obtido na ação isolada executada ainda na Primeira Guerra, quando dois mergulhadores, “montados” em um veículo subaquático rudimentar (Mignatta), penetraram as defesas do porto croata em imersão para afundar os dois navios de guerra. Ciente de sua inferioridade em relação aos Aliados no cenário de operações Mediterrâneo, desde 1940 a esquadra britânica havia estabelecido bases navais nas extremidades Ocidental (Gibraltar) e Oriental (Alexandria) passando a controlar as rotas de comunicação entre a Europa e a África, a Regia Marina optou por adotar a estratégia de “guerra assimétrica” (ação realizada por um ator inferiorizado em relação ao poder de combate de seu adversário) para tentar recuperar o livre acesso de suas embarcações na região. Norteados por essa estratégia, os engenheiros navais italianos, que desde 1935 realizavam um minucioso estudo do rústico projeto do torpedo tripulado utilizado na Grande Guerra, desenvolveram o SLC (Torpedo de Baixa Velocidade), apelidado com o sugestivo nome de Maiale (Porco) devido ao desconforto e insegurança que o caracterizavam. Este veículo, dotado com capacidade para transportar dois MECs (Mergulhadores de Combate) montados sobre sua estrutura, transportava à proa (extremidade anterior) uma ogiva destacável de 300kg de TNT, que deveria ser fixada sob o casco dos navios inimigos visando sua detonação após a evasão de seus condutores.

Fotografia 2: Durante treinamento realizado na base de La Spezia, MECs da Xª MAS utilizam o traje de mergulho Belloni e o dispositivo de respiração subaquática ARO (Autorespiratori ad Ossigeno). (Fonte: Disponível em: CROCIANI; BATTISTELLI, 2013, p. 12). 

A concepção de emprego do SLC demandava o transporte do veículo (acondicionado em compartimentos estanques) e sua tripulação por um submarino anfitrião até as proximidades da AO (Área de Operação), onde eram lançados, protegidos pela escuridão da noite, para procederem com a aproximação final. Valendo-se desse artifício, os torpedos tripulados italianos vitimaram três navios de bandeira britânica no porto de Gibraltar (os petroleiros Denbydale e Fiona Shell, além do cargueiro Durham), despertando a atenção das autoridades britânicas no Mediterrâneo, e levando-as a intensificar os sistemas defensivos portuários contra ameaças desse tipo, fato que tornou a operações de ataque posteriores uma tarefa ainda mais arriscada.
O tipo de missão a que se propunham as tripulações dos Maiale, conhecidos pelo termo Aurigas (Cocheiros), era extremamente arriscado não apenas pelos riscos implícitos no contexto da guerra, mas, sobretudo, em virtude das capacidades precárias de seu equipamento, uma vez que tanto o SLC quanto o dispositivo de respiração subaquática que utilizavam se mostravam pouco confiáveis.
No decorrer da Segunda Guerra Mundial, os SLC e suas respectivas tripulações foram responsáveis por conduzir doze missões nas quais sabotaram, afundando ou avariando com seriedade, um total de vinte e cinco embarcações, entre navios de guerra e navios mercantes, computando 130.000t de material perdido pelas tropas Aliadas.

Imagem 1: Distintivo da Xª MAS. (Disponível em: http://warfarehistorian.blogspot.com.br/2014/03/odd-fighting-units-italian-frogmen-and.html Acesso em: 7 jul. 2016).

O resultado das ações desencadeadas pelos quadros operacionais da Xª MAS influenciaram a Real Marinha britânica a adotar, ao longo do conflito, métodos similares àqueles empreendidos pelos MECs italianos, opção que deu origem aos Chariots, versão britânica dos Maiale.
A tática inovadora e eficiente dos italianos evidenciou a relevância das ações de sabotagem em imersão, despertando a atenção das Forças Navais ao redor do mundo para a necessidade de assimilar e dominar essa expertise. Atualmente, mesmo diante da possibilidade de executar diferentes métodos de infiltração/exfiltração, para as FOpEsp vocacionadas a operar como MECs, o legado deixado pelos Aurigas italianos na Segunda Guerra permanece como uma referência imprescindível e os pormenores doutrinários e tecnológicos inerentes a ele um segredo intransferível.

Referência: 

CROCIANI, P.; BATTISTELLI, P. P. Italian Navy & Air Force Elit Units & Special Forces 1940-45. Elite 191. Oxford, Osprey Publishing, 2013.




terça-feira, 5 de julho de 2016

Suporte da Atividade de Inteligência às Unidades Militares de Elite

Texto elaborado por Rodney Alfredo Pinto Lisboa.


Fotografia 1: Quadros operacionais do Comando de Operações Especiais polonês efetuam a segurança de um helicóptero Mi-17 lituano como parte de um treinamento de aeronaves abatidas realizado em 2010 no Joint Multinational Readiness Center  em Hohenfels, Alemanha. (Fonte: Disponível em: http://www.eucom.mil/media-library/photo/15414/eucom-photo Acesso em: 4 jul. 2016).
O termo “Inteligência” é empregado, genericamente, para definir o conjunto de informações coletada, organizada ou analisada de modo a atender às demandas de um tomador de decisão. No âmbito militar, constitui atividades especializada, exercida sistematicamente com o intuito de produzir e/ou salvaguardar informações sensíveis aos interesses do Estado. Nesse contexto, a atividade de Inteligência busca obter, de forma rápida e oportuna, dados relevantes acerca da AO (Área de Operação) e capacidades do inimigo, de maneira a permitir que os decisores (civis e militares) possam tomar consciência das características inerentes àquela conjuntura. Assim, quanto maior for a quantidade de conhecimento disponível e mais eficiente for o processamento desses dados, melhores serão as condições para que o comando da operação possa definir a tipologia, ritmo e amplitude da ação a ser executada.  
Considerada como um requisito de fundamental importância para o planejamento e execução de operações militares em todos os níveis (político, estratégico, operacional e tático), a Inteligência é conduzida a partir de duas atividades interdependentes: Inteligência (vocacionada para a produção de informações críticas com potencial para afetar o processo decisório) e Contra-Inteligência (visa a detecção, identificação e neutralização/prevenção de ações de inteligência adversa).
Em termos organizacionais, a Inteligência encontra-se estruturada em um “Ciclo de Inteligência” constituído por diferentes estágios: 1. Requerimentos informacionais; 2. Planejamento; 3. Gerenciamento dos meios técnicos de coleta; 4. Coleta a partir de fontes singulares; 5. Processamento das informações; 6. Análise das informações; 7. Produção de relatórios, informes e/ou estudos; 8. Disseminação dos conhecimentos; 9. Utilização dos conhecimentos pelos usuários; 10. Avaliação (feedback).
A captação dos dados de Inteligência é obtida por métodos distintos e especializados, entre os quais destacam-se:

  • HUMINT (Inteligência Humana) – Informações obtidas mediante esforço demandado por seres humanos, obtidas por agentes dos Serviços de Inteligência, ou mediante depoimento/declaração de pessoas neutras, amigas ou hostis;
  • IMINT (Inteligência por Imagem) – Informações levantadas a partir de imagens captadas por satélites e/ou aeronaves;
  • SIGINT (Inteligência de Sinais) – Informações angariadas através da interceptação de sinais de comunicação de pessoas (COMINT [Inteligência de Comunicações]) e/ou máquinas (ELINT [Inteligência Eletrônica]);
  • OSINT (Inteligência de Fontes Abertas) – Informações adquiridas em fontes públicas, como: jornais, revistas, sinais de rádio e TV.

Quando considerada pela perspectiva das OpEsp, a Inteligência deve, necessariamente, fornecer informações que vão além das solicitações das tropas regulares. Os métodos de Ação Direta requerem dados específicos relacionados às particularidades do terreno, condições climáticas e capacidades de combate do inimigo. Por sua vez, os métodos de Ação Indireta necessitam de dados relacionados à dinâmica político-econômica e sociocultural do ambiente operacional. Ambos os métodos requerem atualização contínua de dados para nortear seu planejamento e execução em virtude da complexidade e elevado grau de sensibilidade das missões que os distinguem.


Fotografia 2: Operador do 7° SFG (7° Grupo de Forças Especiais) dos EUA presenteia um menino afegão com livro de colorir durante reunião realizada em 2008 com líderes religiosos locais para obter apoio e coletar informações. (Fonte: Disponível em; https://en.wikipedia.org/wiki/Counter-insurgency Acesso em: 4 jul. 2016).

As FFAA norte-americanas empregam o termo “tooth to tail” (dente à cauda) para designar a quantidade de militares empregados para fornecer apoio (cauda) aos soldados distribuídos no campo de batalha (dente) com a missão de neutralizar as forças inimigas. Essa expressão é adotada como indicativo do poder real de uma força militar em relação aos recursos por ela oferecidos às tropas em combate. Considerando os Estados que empregam suas unidades de elite como uma alternativa estratégica, salientamos, que estando engajada em uma operação, uma única equipe de 12 ElmOpEsp pode requerer uma intrincada estrutura de apoio direto e/ou indireto de todo o aparato militar e de inteligência do Estado que a patrocina. Para tanto, um dos fatores que contribuem substancialmente para o resultado de engajamentos dessa ordem é a disponibilidade, em todos os níveis de comando, das capacidades C4ISR (Comando, Controle, Comunicações, Sistemas de Computador, Inteligência, Vigilância e Reconhecimento).
Embora demande de intensos recursos de inteligência, as FOpEsp também podem colaborar levantando informações relevantes, sobretudo, quando operam em missões de Reconhecimento à centenas de quilômetros no interior do território inimigo. Indiretamente, as tropas especiais podem, por ocasião das relações construídas com a população do local onde operam, coletar dados valiosos procedentes de HUMINT.
Em decorrência da GWOT (Guerra Global contra o Terrorismo) e do ambiente intimidador gerado pelas “novas ameaças” (crime organizado; tráfico de drogas; tráfico de armas; pirataria; degradação ambiental; fluxo migratório, entre outras) junto à comunidade internacional, a demanda de Inteligência das OpEsp só tende a aumentar e incrementar.