segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Quem São e o Que Fazem os Caçadores de Operações Especiais do Exército Brasileiro? (Parte 2)

Texto elaborado pelo Capitão HB* (pseudônimo).


Fotografia 4: Caçador de Operações Especiais realizando sobrevoo na Aeronave HA-1 (Esquilo) da Aviação do Exército Brasileiro. (Fonte: Acervo COpEsp).

O momento atual em que o Brasil é escolhido para sediar diversos eventos de vulto internacional, particularmente desde 2007, sediando os Jogos Pan-Americanos, pelos V Jogos Mundiais Militares, Rio+20, Copa das Confederações 2013, Jornada Mundial da Juventude, Copa do Mundo da FIFA 2014 e Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016, exige um intenso e detalhado preparo das Forças de Operações Especiais para se anteverem às ameaças terroristas contemporâneas. Outrossim o recrudescimento da violência urbana no Brasil, fazendo da sociedade refém de organizações criminosas muito bem estruturadas, dotadas de eficiente comando e controle e que com ações de violência extremista nos grandes centros do país, constitui um chamamento à comunidade brasileira de Operações Especiais para o desenvolvimento de ações efetivas e enérgicas, pautadas pela eficiência, eficácia, legalidade e acima de tudo legitimidade por parte do povo brasileiro.
O Comando de Operações Especiais (COpEsp) do Exército Brasileiro (EB) tem sido amplamente empregado pela Força Terrestre, atuando de maneira proativa e reativa em diversos cenários do território nacional, seja nas ações de contraterrorismo, seja nas ações de reconhecimento especial atuando de maneira intensiva nas fronteiras inóspitas do país, seja nas ações de apoio aos órgãos governamentais para debelar os altos índices de violência em locais especificamente conflagrados. Em todos os casos citados o emprego das Equipes de Caçadores de Operações Especiais (EqpCçdOpEsp) se torna relevante e preponderante para o sucesso e para obtenção da superioridade relativa, tão necessária para as ações das Forças de Operações Especiais.
Dentro desse contexto, o Destacamento de Reconhecimento e Caçadores (DRC) e o 5º DOFEsp utilizam as mais diversas táticas, técnicas e procedimentos de Caçadores de Operações Especiais para consecução dos objetivos do Comando de Operações Especiais. Para tanto, o adestramento, similar e por vezes realizado de maneira conjunta entre os dois destacamentos, é composto de uma vasta gama de conhecimentos, passando pelas operações de reconhecimento especial até peculiaridades do estudo da meteorologia e balística aérea. Por se tratar de uma tropa especialmente adestrada para dupla capacidade (produção de informação e tiro seletivo), as frações de Caçadores de Operações Especiais do COpEsp se preparam anualmente por meio de um plano de capacitação específico. A célula de operações do batalhão juntamente com a célula de inteligência e assessoradas pelos comandantes de Destacamento, conduzem esse planejamento baseando-se nas atualizações do cenário mundial, nas possíveis e prováveis hipóteses de emprego e das análises das ameaças.


Fotografia 5: Equipe de Caçadores de Operações Especiais do 5º DOFEsp realizando Ação Direta Seletiva em apoio à Força-Tarefa de Operações Especiais durante Operação no Complexo da Maré. (Fonte: Disponível em: http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2016/08/policiamento-e-reforcado-e-acesso-de-favela-e-bloqueado-na-mare.html Acesso em: 12 jan. 2017). 

O adestramento desses dois destacamentos muito peculiares tem sido atualizado e revisado constantemente de acordo com as exigências e mutações dos cenários de crise, sendo cada dia mais aparente a utilidade das EqpCçdOpEsp e a importância da necessidade de flexibilidade no seu emprego. As lições aprendidas não se encontram somente nos relatórios pós-ação de adestramentos, elas se originam principalmente dos relatórios pós-ação do pessoal ativamente envolvido. Não raro os Caçadores de Operações Especiais constituem maciçamente esse efetivo, pois são empregados a partir da preparação da Área de Operações, realizando desde o monitoramento de alvos estratégicos até o adestramento das Forças de Segurança Pública local. De maneira geral, a capacitação se divide em Emprego do Caçador e Operações de Reconhecimento Especial. No tocante ao tiro de precisão, diversas Táticas, Técnicas e Procedimentos (TTP) são praticadas, e ainda assim, algumas são desenvolvidas para a realidade vivida no cenário nacional. Conhecimentos de balística de diversos armamentos e munições e balística terminal, recarga de munição, tiro em posições alternativas, tiro em movimento e em alvos móveis, tiro embarcado em aeronaves de asa rotativa, capacidade multicalibre das Equipes, capacidade de engajamento de alvos em distâncias superiores a 1500 m, tiro através buraco, tiro noturno empregando diferentes meios optrônicos e condições de iluminação, tiro antimaterial, técnicas de tiro rápido e de compensação de pontaria, tiro através vidro, fotografia profissional, técnicas de observação, memorização e descrição de alvos, uso diferenciado da força, aspectos legais ao emprego do caçador, entre outros proficiências já consagradas mundo afora, conferem ao DRC possibilidades ímpares que o caracterizam como uma tropa essencial antes, durante e depois do emprego dos elementos operativos da Força Terrestre.


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terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Quem São e o Que Fazem os Caçadores de Operações Especiais do Exército Brasileiro? (Parte 1)

Texto elaborado pelo Capitão HB* (pseudônimo).


Fotografia 1: Caçador do Exército Brasileiro (EB) engajado em operação conduzida no Complexo de Favelas do Alemão, localizado na cidade do Rio de Janeiro-RJ. (Fonte: Acervo do COpEsp).

A Brigada de Operações Especiais (BdaOpEsp) do Exército Brasileiro foi criada em 2002 de acordo com o Plano de Reestruturação da Força Terrestre. Posteriormente, em 2013, a BdaOpEsp veio a transformar-se no Comando de Operações Especiais (COpEsp), sediado em Goiânia-GO. O COpEsp possui em sua estrutura 03 Organizações Militares (OM) de emprego, o 1º Batalhão de Forças Especiais (1º BFEsp), o 1º Batalhão de Ações de Comandos (1º BAC), ambos localizados na sede do COpEsp, e a 3ª Companhia de Forças Especiais (3ª Cia FEsp), localizada em Manaus-AM. Cada uma de suas OM operacionais possuem frações básicas de emprego extremamente peculiares, os Destacamentos Operacionais de Forças Especiais (DOFEsp) nas OM FEsp e os Destacamentos de Ações de Comandos (DAC) no 1º BAC. Essas OM possuem um preparo específico, muito embora, em alguns casos, o emprego conjunto, formando os Destacamentos de Operações Especiais (DOE), tem se mostrado eficaz.
Até então, a atividade de caçador era exercida de maneira individual e pontual dentro dos DOFEsp ou DAC por aqueles que apresentavam certa aptidão para o tiro esportivo de arma longa ou que tinha experiência de caça em sua vida pregressa. A doutrina do emprego do Caçador, sobretudo o de Operações Especiais, ainda formava seu alicerce para ganhar o destaque dos dias atuais. Dessa forma, verificou-se a necessidade das OM do COpEsp ter em seu organograma um fração híbrida capaz de apoiar as ações diretas através do reconhecimento especial e do tiro seletivo a longa distância.
Neste ínterim surgiu o Destacamento de Reconhecimento e Caçadores (DRC), fração com adestramento peculiar que visa obter e transmitir informações necessárias ao apoio às ações do 1º BAC e realizar ação direta seletiva com tiro de precisão. O DRC constituiu-se efetivamente a partir de meados de 2007, em que pese estar previsto no Quadro de Cargos Previstos (QCP) do 1° BAC desde 2004, quando o batalhão foi criado. À reboque da criação do DRC, surgiu o 5º Destacamento Operacional de Forças Especiais (5º DOFEsp), fração do 1º BFEsp vocacionada para as ações de Reconhecimento Especial e tiro seletivo de longa distância, sobretudo no combate urbano. Os militares mais experientes nas ações de comandos e operações de forças especiais foram selecionados para comporem os Destacamentos, cada um à sua OM. Os integrantes desses destacamentos são altamente adestrados, preparados e maduros. São dotados de excelentes habilidades para resolver problemas e agilidade mental para atuar nas mais fluídas situações.


Fotografia 2: Controlador da Equipe de Caçadores de Operações Especiais (EqpCçdOpEsp) operando Sistema de Comando e Controle. (Fonte: Acervo do COpEsp).

Como consequência da observação de diversas operações e fruto de experiências internacionais de intercâmbios e cursos, verificou-se que o tradicional efetivo da dupla de caçadores não mais atendia às necessidades operacionais das missões recebidas. Por esse motivo, o DRC e o 5º DOFEsp passaram ter seu organograma constituído por Equipes de Caçadores de Operações Especiais (EqpCçdOpEsp). A composição da EqpCçdOpEsp foi reajustada para quatro elementos: o Caçador, responsável pela realização do tiro de precisão; o Observador, militar mais experiente, responsável pelo auxílio direto ao atirador; o Auxiliar de comunicações, responsável pela transmissão de dados e por operar o diversos meios de comunicação orgânicos da equipe e; o Auxiliar de saúde, responsável pela segurança da posição e por prestar os primeiros socorros aos integrantes da equipe, caso seja necessário. Uma pequena distinção se faz entre as Equipes do DRC e do 5º DOFEsp. Devido ao fato das Equipes de Caçadores (EqpCçd) do DRC atuarem, prioritariamente, em apoio às ações do 1º BAC e de maneira isolada, suas Eqp possuem um Comandante, sendo ele Oficial ou Sargento, de acordo com a demandas específicas da missão, e este obrigatoriamente com o curso de Forças Especiais. Já as equipes do 5º DOFEsp, por possuírem seus caçadores com a formação de Operador de Forças Especiais, essa necessidade relativa às questões específicas às Op FEsp passam a ser supridas, não excluindo a possibilidade de incluir eventualmente um militar para comandar uma EqpCçd OpEsp.


Fotografia 3: Fuzil de Precisão de Ação Manual de dotação do DRC e 5º DOFEsp, modelo MSR, multicalibre .300, .308 e .338. (Fonte: Acervo do COpEsp).

Desde então, o COpEsp emprega suas frações de Caçadores de Operações Especiais para proporcionar informação específica, precisa, detalhada e em tempo real, de importância estratégica ou operacional, em apoio a outros Destacamentos, a uma Força-Tarefa de Operações de Especiais como um todo ou, ainda, para escalões no processo decisório no nível operacional. Destaca-se o emprego maciço das Equipes de Caçadores de Operações Especiais do COpEsp como plataforma de informação nas Operações de Contraterrorismo (grandes eventos e segurança de dignitários), de apoio às ações diretas integrando o Destacamento de Operações de Paz (DOPaz) na Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti (MINUSTAH) e nas recentes Operações de Apoio aos Órgãos Governamentais (OAOG) na cidade do Rio de Janeiro em comunidades com alto nível de insegurança e risco político para as ações.

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terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Operações Especiais e a Essência do “Ser”

Texto elaborado por Laio GIORDANNI Evangelista Melo*.

Fotografia 1: Quadros operacionais do Grupamento de Ações Táticas (GATE) da Polícia Militar da Paraíba (PMPB) participam de Intervenção tática em estabelecimento prisional situado no município de Campina Grande. (Fonte: Acervo do GATE da PMPB).

Na atualidade, em pleno século XXI, as Operações Especiais (OpEsp) tomam cursos de formação cada vez mais importantes e dinâmicos, devido, principalmente, a um conjunto de fatores: ao ser humano extremamente mutável e violento; a um espaço físico cada vez mais disputado e globalizado; às politicas de governo vigentes. Logo, as OpEsp que já existiam desde a Antiguidade, tornam-se cada vez mais comuns e necessárias, produzindo operações valorosas e conhecidas tanto em cenários civis, quanto militares.
São inúmeros os exemplos das operações que refletem o valor, a perícia e a importância dos seus feitos, entre as quais citaremos apenas alguns breves e conhecidos exemplos: Operação Thunderbolt Entebbe (retomada de aeronave em Uganda, 1976); Operação Nimrod (retomada de reféns mantidos em cativeiro na Embaixada Iraniana em Londres, 1980); Operação Red Wing, (combate entre guerrilheiros afegãos e uma patrulha de Reconhecimento dos SEALs da Marinha norte-americana, 2005), Operação de ocupação do Complexo de Favelas do Alemão visando a captura de traficantes no Rio de Janeiro, 2010); Operação Neptune Spear objetivando a eliminação de Osama Bin Laden, 2001); entre diversas outras.
Desta feita, as OpEsp, bem como seus operadores, são comumente alvos de inspiração e suas façanhas os tornam heróis reais. Contudo, tais ações e feitos possuem diversas consequências a serem estudadas, e neste momento buscaremos analisá-las por uma perspectiva específica: a essência do que de fato venha a ser o “sentir” as OpEsp, e o que isso representa, sobretudo, para os operadores que as executam.
O fato das OpEsp estarem na “moda” – como é possível notar em filmes, livros, jornais, revistas, vídeos, documentários, seriados, etc; bem como a admiração demonstrada por jovens que buscam nas OpEsp acrescentar ação e aventura em suas carreiras militares e/ou policiais; ou ainda o entusiasmo manifestado por leigos, simpatizantes dos princípios, doutrinas, equipamentos, armamentos, vestimentas, comportamentos, técnicas e táticas peculiares às OpEsp – , não deve incidir em uma percepção superficial da atividade, de maneira a permitir que tais ações sejam vistas e absorvidas apenas para alimentar propósitos momentâneos e individualistas que possibilitam ao operador desenvolver um comportamento e conduta inapropriados com a natureza das OpEsp, tais como: egocentrismo, narcisismo, vaidade, onipotência, onisciência, onipresença, esquecimento dos princípios éticos e morais basilares das OpEsp.


Fotografia 2: Equipe do GATE da PMPB tomam parte em uma ocorrência envolvendo o resgate de reféns em uma agência dos Correios localizada na capital João Pessoa. (Fonte: Acervo do GATE da PMPB).

O homem de OpEsp é importante e valoroso, não apenas pelo que ele pode e é capacitado a fazer, mas também pelo que ele representa, pelo que ele inspira. Deve ser repleto de humildade, patriotismo, compromisso, motivação, força, perseverança e liderança. E é importante frisar que liderar não é a mesma coisa que chefiar. Homens de OpEsp devem ser liderados, jamais chefiados! O homem de OpEsp deve ser sempre uma referência, um exemplo para outras pessoas e, ainda mais, para os demais operadores (os quais podem ainda não ser tão capacitados e preparados quanto ele).
O homem de OpEsp representa um passado de feitos históricos e heroicos, representa homens que viveram e morreram por servir a ideais e propósitos maiores do que eles. Ostentar uma manicaca (patche de braço) e/ou um brevê de OpEsp e saber que você se comprometeu a fazer o mesmo diuturnamente, representa um futuro de expectativas, de esperança e evolução na defesa dos “oprimidos, indefesos e escravizados”.
O “ser” OpEsp é muito mais que tirar fotos de braço cruzados (talvez, denotando estar fechado) e ou olhando por cima (talvez, denotando soberba e arrogância), é muito mais do que ostentar uma caveira, um tridente, uma águia ou uma adaga num uniforme diferenciado, é muito mais do que ter acesso a conhecimentos e informações sigilosas/confidenciais, é muito mais do que participar de operações extremamente complexas, valorosas e perigosas. O “ser” OpEsp é saber o valor de tudo isso em essência, é viver constantemente seus princípios, é proporcionar a manutenção e a evolução da doutrina, é estar disposto a se sacrificar (em todos os sentidos) pela sua nação, é operar com o coração (não com o bolso), é instruir e esclarecer o leigo, é, também, como salientado por Eric L. Haney (autor do livro “Força Delta: por dentro da tropa antiterrorista americana”):


Operações Especiais são como ferro em brasa que marca a alma, e depois, faz com que vejamos o mundo para sempre por meio de um conjunto singular de filtros mentais. Quanto mais profunda e intensa é a experiência, mais quente é o metal e mais profunda a marca do indivíduo.

Ser OpEsp... é ouvir, chorar, e sorrir ao lado de seu "irmão Comandos". 

Figura 1: Insígnia do Grupamento de Ações Táticas Especiais (GATE) da Polícia Militar da Paraíba. (Fonte: Acervo do GATE da PMPB).

* O 1º Tenente GIORDANNI pertence ao Quadro de Oficiais Combatentes da Polícia Militar da Paraíba (PMPB), ingressou nas fileiras em fevereiro de 2006 e em 2008 formou-se bacharel em Segurança Pública pela Academia Militar do Cabo Branco – PB. Logo em seguida exerceu atividade de oficial de operações na Tropa de Choque da PMPB até o ano de 2011, no início de 2012 concluiu o Curso de Ações Táticas Especiais daquela força integrando o Grupamento de Ações Táticas Especiais da PMPB até os dias atuais. Em 2015 concluiu o Curso de Operações Especiais na PMMG. Exerce atualmente a função de Comandante da Equipe de Atiradores Policiais de Precisão desta tropa especial. Concluiu, ainda, diversos cursos operacionais na área de segurança.